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— Malfoy, eu precisava mesmo falar com você.

— Granger, está tudo bem? — Draco parou onde estava para esperá-la. Hermione vinha com o uniforme da emergência, os cabelos presos num coque que já se desmanchava e olheiras que demonstravam o cansaço de alguém que provavelmente não tinha tido um minuto de paz naquele dia.

— Está sim, é só que provavelmente vou me atrasar hoje à noite. O pronto socorro está lotado e com as chuvas o turno da noite vai se atrasar, o que significa que eu não vou conseguir sair no meu horário — ela explicou, chamando o elevador para o qual caminharam juntos.

— Eu ainda não sei como você aguenta isso todos os dias, sabia?

— Depois de um tempo, você se acostuma com a rotina caótica e as noites sem dormir. Deve ser bem parecido com ter um recém nascido em casa, e a isso você já sobreviveu — Hermione sorriu, seguindo Draco para dentro do elevador — Minha coluna ainda reclama às vezes, mas fora isso, não é muito diferente do que você faz.

— Claro que não — ele ironizou, observando Hermione se apoiar na parede do elevador e fechar os olhos por alguns instantes — Você não quer cancelar hoje? Tenho certeza que seus amigos entenderiam.

— Tenho certeza que sim, mas honestamente, a última coisa que eu quero hoje é ficar sozinha em casa — Granger respondeu, suspirando — Foi um dia péssimo, e eu prefiro ocupar minha cabeça com os problemas de outras pessoas do que ter que lidar com os meus.

— Você que sabe, Granger. Mas se vamos mesmo fazer isso, vou precisar da sua ajuda. O que sugere que eu faça para o jantar?

— Qualquer coisa menos peixe. E cogumelos. Harry e eu não comemos, de jeito nenhum.

— Certo, sem peixe e sem cogumelos. Vou pensar em algo. Seu atraso significa que vou ter que ficar sozinho com Potter e a Weasley por um tempo, não é?

— É claro que sim, e é só por isso que vim avisar você. Nos vemos à noite, Malfoy. Mande um beijo para o Scorp por mim — Hermione acenou um breve tchau ao sair do elevador em direção a emergência outra vez, o que arrancou um sorriso sincero de Draco.

Ela claramente não era mais a garota que ele conhecera na escola, mas nestes momentos ele percebia que ela também não havia mudado nada. No fundo, ela ainda era a mesma pessoa que colocava os amigos e os outros em primeiro lugar, e apesar de admirar a qualidade que ele mesmo nunca teve, Draco se preocupava com os sorrisos forçados que via nos corredores ao se cruzarem. Ele sabia que as coisas estavam ainda piores em relação aos pais de Hermione, e que ela estava evitando os amigos do mundo mágico, e que, além dos finais de semana que Scorp intervia para vê-la, Hermione não saia com os amigos do mundo trouxa. Segundo o terapeuta bruxo que ele fora obrigado a visitar no último ano de Hogwarts, aquilo nada mais era do que um mecanismo de defesa chamado fuga - do qual ele fazia muito bom uso o tempo todo, inclusive - e ele não podia culpá-la: ele também preferia manter a mente ocupada com outras coisas do que com seus próprios problemas.

Suspirando, Malfoy dirigiu até o mercado mais próximo de sua casa, comprando o que pensou ser necessário para aquele jantar inusitado e voltou para casa, pensando no filho. Theo havia se oferecido para passar o final de semana com o afilhado, então o pequeno Malfoy estaria fora de casa até domingo, o que deixava Draco numa linha tênue entre o descanso e a solidão. No fim das contas, o jantar com o Potter e a Weasley não era de todo ruim, mesmo ele tendo que explicar toda a confusão na qual ele estava envolvido.

Depois de longos quarenta minutos num trânsito caótico, o sonserino chegou em casa, descarregou as compras na cozinha e rumou para o quarto, se livrando das roupas e tomando um banho quente e demorado, sentindo todos os músculos relaxarem em contato com a água. Ele não poderia, nunca, reclamar de Scorpius: ele era a única coisa que o mantinha vivo, era a luz de seus dias e o mundo de Draco, mas desde que Astoria partira, quase dois anos atrás, ele não sabia o que era não estar no modo de alerta, temendo que o filho se machucasse, que ficasse doente ou que algo ainda pior acontecesse, considerando quem eles eram. E era por isso que momentos como aquele - onde ele podia tomar um banho mais longo que dois minutos - eram tão valiosos. Malfoy sabia que, assim que todos fossem embora e ele fosse dormir sozinho, sem dar boa noite para o filho, se sentiria solitário e preocupado mais uma vez, mas estava tentando não pensar nisso ainda.

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⏰ Última atualização: Sep 11 ⏰

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