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Após chegar do trabalho na manhã de segunda-feira, tiro os meus sapatos e os jogos no canto da sala mesmo sabendo que mamãe brigaria comigo por isso mais tarde.
Vou até a cozinha e encho um copo de vidro com um pouco de suco de uva e me sento sobre o mármore do balcão, tiro o meu celular do bolso logo quando ele começa a vibrar e vejo que eram mensagens de Abby. Desbloqueio o aparelho em minhas mãos e leio suas mensagens.
Abby: sinto muito pelo Mark no outro dia, ele mudou muito depois que largou a música.
Abby: acabei de me lembrar que o Joey disse que viu você entrando no carro dele, verdade?
Eu: é verdade, Peter disse que ia demorar e não ia me buscar e o Mark se ofereceu para me trazer em casa.
Abby: que legal da parte dele, vocês conversaram?
Eu: kkkk nao, ele não consegue falar uma frase sem ficar na defensiva
Abby: pois é kkkkk em relação ao Peter, sabe que não precisa passar por isso, não é?
Peter e eu namoramos a mais ou menos a dois anos, nos conhecemos nos corredores da universidade e no começo achei que éramos almas gêmeas, temos o mesmo gosto para música, para filmes, comida e todo o resto. Ultimamente ele tem me tratado com certo distanciamento, eu não sei o que aconteceu mas tenho tentado ser paciente, estou sempre tentando conversar com ele, deixar claro que ele pode contar comigo para absolutamente qualquer coisa, mas ainda assim ele se esquiva de mim, quase não nos vemos mais e sinto que nosso relacionamento está por um fio.
Eu: pode ficar tranquila que eu sei bem <3
Abby: ótimo, quer passar aqui amanhã? Estou tentando escolher as flores para o casamento e todos tem a mesma opinião :(
Eu: vou tentar passar aí depois do trabalho, beijoca...
Abby: de minhoca <3
Desço do balcão assim que a porta da frente bate e eu ouço minha mãe reclamando sobre os meus sapatos na entrada, eu os cato e subo para o meu quarto as pressas afim de tomar um banho e dormir pelo resto do dia.
...
Odeio que Joey esteja cismando que eu larguei a música e estou infeliz por isso, mas não é verdade. Eu não larguei, dei um tempo só para esfriar a cabeça já que a minha vida estava uma completa bagunça.
Na terça ia a uma festa com alguns amigos e a boate ficava perto da casa dos meus pais então coloquei Milo e suas coisas no carro, não gostava de deixá-lo sozinho em casa se eu fosse passar o dia inteiro fora e com certeza isso aconteceria na terça, Joey pode cuidar dele para mim.
Estaciono o meu Jeep em frente a casa dos meus pais e saio com a caixa de transporte de Milo em mãos e uma mochila sobre o ombro, dou a volta na casa e entro pelo lado.
Abro o pequeno porta e me abaixo no chão para soltar Milo, ele logo corre pelo quintal e eu vejo Abby e Jessie na espreguiçadeira rindo com uma revista e o notebook sobre as pernas. Bato o portãozinho atrás de mim e as duas se viram em minha direção, Abby como sempre me da um sorriso e eu retribuo com um aceno de cabeça. Já Jessie apenas comprime os lábios e eu não tenho ideia do que diabos era aquilo.
Depois de guardar as minhas coisas em meu quarto e colocar uma bermuda mais folgada, saio novamente para o quintal e me sento sobre a espreguiçadeira, retiro a minha regata e coloco o óculos de sol em seguida me deitando ali com os fones de ouvido no último volume.
Parece que esqueci de deixá-los carregando e quando os dois se desconectam do meu celular, ouço sem querer a conversa de Abby e Jessie.
— Tenho certeza disso Abby, ele anda tão estranho ultimamente.
— Não acho que ele vá terminar com você, talvez ele só esteja precisando de um tempo.
Jessie rir nasalado quando Abby a responde e eu não consigo evitar ouvir todo o resto.
— Eu tento conversar com ele para tentarmos resolver seja lá o que esteja deixando ele tão distante de mim mas ele não demostra o mínimo interesse. Ele vai terminar comigo, estou sentindo. — sua última frase soa embargada, talvez Jessie estivesse prestes a chorar.
— Ah Jessie... eu sinto muito. — olho para o lado e vejo Abby abraçando Jessie de lado, as duas estavam de costas para mim e não perceberam que eu estava ouvindo tudo.
Pego o meu celular e finjo estar em uma ligação, queria sair dali mas não queria que estivesse tão óbvio assim que eu estava ouvindo a conversa das duas.
Eu me levando, deixo os fones de ouvido e o celular sobre a espreguiçadeira e caminho até a piscina a minha frente me jogando lá dentro.
— Abby — a chamo quando chego a superfície — Joey está em casa?
Ela vira-se em minha direção e faz que não com a cabeça.
— Acho que ele chega daqui a pouco, a propósito — ela se levanta da espreguiçadeira — chegou uma encomenda para você, quer que eu pegue?
— Por favor. — digo e ela entra na casa e eu saio da piscina.
Passo as mãos em meus cabelos para tirar o excesso de água e me aproximo de onde Abby estava com Jessie, ela assim que me vê sorrir sem graça e eu faço o mesmo esperando por Abby.
— Estranho ver você aqui duas vezes seguidas. — digo a Jessie e ela rir mais uma vez abaixando a cabeça mas em seguida olhando diretamente para mim.
— Incômoda você que eu esteja aqui duas vezes seguidas? — dou de ombros e olho para a porta de vidro da casa me perguntando se Abby demoraria muito para buscar apenas uma encomenda.
— Um pouco, nunca ouvi Abby ou Joey falar sobre você.
— Bom ao que eu sei, você não mora aqui então não pode reclamar de quem Abby ou os outros decidem convidar para entrar. — dessa vez ela da de ombros com um sorriso convincente nos lábios e eu assinto quase me dando por vencido.
— Minha mãe costuma dizer que essa é a casa da família, de filhos e netos então, acho que eu posso sim reclamar de você aqui todos os dias...
Percebo quando os olhos de Jessie passeiam rapidamente por meu abdômen, arqueio a sobrancelha para a mesma e quando percebe que eu estou lhe observando, ela desvia o olhar para a revista em seu colo. Eu estava sem blusa e minhas tatuagens estavam expostas, meus braços estavam cruzados na altura do tórax enquanto tinha uma pequena "discussão" sobre quem podia ou não entrar na casa dos meus pais.
— Quer que eu vá embora então?
— Não sei, ainda estou pensando... — olho ao redor rapidamente e volto a olhar para Jessie — O que veio fazer aqui?
— Você é péssimo em interação social, sabia? — eu assinto — estou ajudando Abby a escolher as flores para o casamento — antes que eu abra a boca, ela continua a falar prevendo minhas palavras — e antes que você diga que isso é uma tarefa para a mãe dela, ela disse que já tentou e todos tem a mesma opinião e preferem as flores brancas tradicionais.
— E você sugeriu pretas?
— Como o seu coração? Não. — colo a mão no peito fingindo que aquilo havia machucado e ela continua — Estamos entre lilás e azul.
