(12) and then you show me love in my room

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— Então quer dizer que você "pegava no pé dela" só pra ela falar com você?

A terapeuta encarou Sana por alguns segundos antes de anotar algo no caderno. Ela havia contado para ela tudo que vocês queridos leitores sabem até aqui, desde a parte em que Sana tem algum tipo de sentimento esquisito por Tzuyu até a parte em que elas passaram juntas o final de semana.

A japonesa ficou surpresa na facilidade que teve em falar sobre si para sua terapeuta, ela geralmente escondia seus sentimentos, não os contava para ninguém, guardava tudo dentro do peito, no seu mundinho, onde ninguém saberia sobre ela. Assim, ela não corria o risco das pessoas desgostarem dela.

— Tipo isso... — Sana se encolheu na cadeira.

— E por qual motivo você não pensou em apenas falar com ela, como as pessoas fazem?

— Eu não sei... — Sana encarou suas mãos. — Achei que ela não ligaria pra mim, que ela não ia gostar de como sou, que não fazia seu tipo ou algo assim...

Ela olhou pro caderno e anotou algo por longos segundos. Também havia o fato de que suas antigas amigas, eram preconceituosas com Tzuyu.

— Entendo... Como é sua relação com sua família?

Sana respirou fundo com essa pergunta tão repentina, sua família era um assunto delicado para ela, não sabia se gostaria de falar sobre. Ela sabia que boa parte dos seus problemas, era por causa da forma em como sua mãe e avó a tratavam, sabia que elas a podaram e moldaram essa personalidade dentro dela, como se tivesse construído barreira na volta de Sana para que ela não soubesse lidar com pessoas e até consigo.

— Eles não gostam de mim.  — Ela respondeu, enquanto a terapeuta  levantou sua cabeça.

— Por que?

— Eu não sei, não devo ser o que eles quiseram... Ou talvez eles imaginem uma vida em que eu não tenha nascido e meus pais não tivessem que ter se casado.

— O que te faz pensar assim?

Sana pensou por alguns segundos.

— Só é a forma como eu me sinto, meu pai nunca está em casa, minha mãe todo tempo que passa comigo é falando sobre meu corpo ou sobre carboidratos, ou planejando um futuro que eu não quero ter.

A mulher na frente de Sana estava anotando sem parar no caderno, a japonesa tentou espichar seu pescoço e observar por cima, mas sem óculos era impossível ver o que quer que fosse. Sana constatou que ela estava escrevendo sobre seus problemas.

— Você tem descontrole de raiva cotidianamente?

— O que? — Sana franziu o cenho. — Eu não tenho.

— De 1 a 5, qual a média? — Ela perguntou novamente. — Vamos Sana, você empurrou a cabeça dela no armário.

— Ela foi racista. — Sana cruzou seus braços e respirou fundo. — Eu diria que 3... Quase 4.

— Você só fica com raiva quando sente ciúmes? Quando é algo relacionado a Tzuyu?

— Acho que sim.

A psicóloga encarou Sana e em alguns segundos, voltou pro seu caderno. Sana olhou pros quadros em sua volta, com certeza sua psicóloga era uma das mais caras da cidade, e ela não queria ser ingrata, mas depois que seus pais voltaram de viagem, nem ao menos falaram com ela. Isso era como uma bola de neve em sua cabeça, eles achavam mesmo que dinheiro era o mais necessário em uma relação de família?

Sana olhou para a terapeuta na sua frente, até abriu a boca pra falar, mas se conteve, ela não gostava de falar sobre si, odiava na verdade, mas isso talvez era pelo fato de ter crescido em um lugar onde nunca escutavam sobre ela. Talvez Sana tenha crescido com o pensamento de que não importa o que ela sinta, nunca é importante.

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