Capítulo Oito // All for you, right?

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Terça-feira.

“Eu já disse que você não vai ver ela.”, afirmou minha irmã pelo que parecia a quinta vez em menos de sete minutos.

“Por que não?”, continuei aplicando o spray contra minhas feridas nos braços, rosto, pernas e barriga.

Antes de qualquer coisa, eu gostaria de te contar uma coisa não muito interessante que aconteceu há alguns anos.

O senhor St. Clair, o dono do condomínio, decidiu dividir as casas contando cercas vivas em volta delas, já que ficaria mais bonito e agradável. Pois bem, dito e feito. Eu gostava bastante das cercas vivas. Até que ontem eu caí em cima de uma.

E eu sei que você deve estar se perguntando: e Enola?, bem, essa é a parte mais engraçada e... trágica. Lembra que eu caí sobre a cerca-viva? Pois bem... Eu caí sobre a cerca-viva.

Enola caiu no chão.

“Porque você está proibida de sair de casa, Amity.”, respondeu a mais velha, ainda de costas para mim. “Eu ainda não esqueci da sua irresponsabilidade com Yuri naquele dia.”

Nora não queria que eu visitasse Enola no hospital, e isso estava ficando irritante. Era por minha culpa que ela estava no hospital, o mínimo que eu poderia fazer era estar lá!

“Eu já pedi desculpas.”, abaixei minha voz dessa vez. Continuei de cabeça baixa enquanto terminava de passar o spray.

Quando terminei de cuidar dos meus ferimentos causados pela cerca-viva, me dei conta de que Nora tinha se virado pra mim e me encarava com os braços cruzados.

“Pode parecer que eu estou sendo bastante chata com você, e talvez eu esteja mesmo, tudo bem, mas o que eu estou tentando te mostrar é que suas ações têm consequências, Amity, às vezes nem só pra você.”

Assenti. O que mais eu poderia falar? Nora estava certa, de qualquer forma. Talvez eu não devesse ficar perto de Enola... talvez deixar com que ela fique na minha vida apenas a cause dor, como está causando nesse exato momento.

A culpa caí sobre mim, e nem mesmo percebo quando começo a chorar. Nora ampara as lágrimas, me ampara.

“Às vezes eu só queria ser a sua irmã, te ajudar a fugir dos castigos que nossa mãe te colocaria.”, ela sorriu brevemente. Só havia remorso ali. “A vida não deixou com que isso acontecesse. Eu tive que ser sua mãe, Amity, e eu sinto muito ter que te cobrar a maturidade que eu tive que ter na sua idade.”

“Eu não sou você, Nora.”, forço as palavras a saírem, mesmo quando minha garganta tenta impedir. “Não preciso amadurecer antes do tempo, eu estou bem.”

Nora nega com a cabeça lentamente.

“Então por que você está chorando?”, sua pergunta vem acompanhada de tanto afeto que eu cedo.

“Porque Enola perdeu uma unidade por minha causa. Porque, por causa do meu egoísmo, as chances dela diminuíram. Porque ela está no hospital por minha causa. E principalmente...” respiro, e isso faz as lágrimas caírem. “porque eu não consigo me afastar dela por mais que eu queira.”, e por mais que eu precise.

“Continue.”, ela incentiva, pondo suas mãos sobre as minhas.

“Porque Enola me faz bem, mas eu não faço bem pra ela.”, e, ironicamente, isso também é culpa minha.

Nora suspira. Eu não movo meu olhar até ela, sei que deve estar tão decepcionada comigo quanto eu estou.

“Lembra o que eu te falei? Que suas ações têm consequências?”

Enmity [Enemies to Lovers]Onde histórias criam vida. Descubra agora