Domingo.
Enola não estava saindo com nenhum homem, disso eu sabia, mas desde aquele dia na farmácia eu fiquei pensando no motivo dela ter mentido para a sua amiga.
Avery disse que talvez ela não estivesse confortável em falar sobre a sua sexualidade com uma de suas amigas mais antigas, mas eu não sei se realmente é isso. Já Schneider sugeriu que eu devesse perguntar diretamente a Enola.
E eu cheguei a tentar, mas ela não me atendeu.
Já estávamos há doze horas sem se falar. Ela havia me mandado uma mensagem pedindo desculpas, mas não disse mais nada. E eu não sei se eu devo dar espaço para ela ou insistir mais um pouco até que ela me diga. Me vejo ansiosa, pensando que talvez eu tenha feito algo errado.
Passo e repasso as coisas em minha mente. Mas não, eu não havia feito nada de errado, até onde eu saiba. E se eu tivesse feito e não estou lembrando?
Porra. Era por isso que eu odiava os sentimentos. Eles estavam se remexendo em meu peito e em meu estômago, eu havia perdido o sono e até mesmo a comida havia perdido o gosto pra mim. Parece que as coisas mal explicadas faziam a minha vida parar de funcionar. A única coisa que eu queria fazer era sentar na minha cama e rezar para que Enola viesse se explicar logo.
E se ela nunca viesse?
Afundo meu rosto no travesseiro e grito. Eu precisava me lembrar de manter a calma e esperar, voltar a me alimentar direito e me exercitar. Eu precisava me lembrar que o meu mundo não girava em torno de Enola, mas sem ela parecia que tudo perdia a graça.
Eu poderia viver sem Enola, acontece que eu não queria.
Segunda-feira.
Passo pelo portão, mais uma vez atrasada para a aula de literatura. Por sorte, faltava apenas algumas semanas para o ano acabar e, de verdade, eu não iria sentir a menor falta disso aqui... e muito menos das pessoas.
Eu vejo algumas pessoas dizendo que levariam umas às outras para o resto da vida... e quer saber? Isso é bobagem. Quando as pessoas não tiverem tempo nem para comer, elas nem vão se lembrar das outras. Tudo em seu cotidiano muda e as pessoas vão junto.
A prova para concluir o ensino médio seria no ano que vem, no final primeiro semestre e eu estava forçando Avery e Schneider a fazerem a prova também.
"Amy, eu queria poder ter mais um tempo no ensino médio antes de acabar com a minha saúde mental em uma faculdade.", disse Avery assim que paramos em frente a sua sala.
"Ah, eu acho que vou fazer essa prova.", disse Schneider.
"Vai?", nós perguntamos juntas.
"Claro. Não tô fazendo nada mesmo."
Seu motivo era desleixado, mas eu aceitava só porque ele aceitou.
Aceno para Avery e puxo meu amigo comigo até a nossa sala, já que ainda estávamos atrasados. Por sorte, a senhorita Sharma estava tão atrasada quanto nós.
Sinto o olhar de Enola me acompanhar até o meu lugar. Por alguma razão, fico tentada a olhar de volta e deixar que nossos olhares falassem o que não estávamos dizendo, mas acabo não fazendo isso por medo de saber o que eu não queria.
"Ah, não.", a voz da professora acaba chamando nossa atenção. "Esqueci as provas e os livros na biblioteca."
Como uma aluna brilhante, Enola logo ergueu a mão.
"Eu posso ir buscar se a senhora quiser.", sempre tão prestativa, não é? Bem que ela podia me contar o que estava acontecendo.
"É muita coisa, querida, acho melhor você ir com mais alguém. Amy?"
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Enmity [Enemies to Lovers]
Teen FictionNão há ninguém que Enola Lockhart odeie mais do que Amy Sloan, sua vizinha e colega de classe, mas vê tudo virar de cabeça para baixo quando é forçada a fazer um trabalho escolar com ela. Muitos lugares, muitas experiências e muitas mudanças radica...