4. A cidade perdida de Ratanabá.

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Anajé não sabia quanto tempo estivera no túnel de luz. Não tinha ideia de como o tempo funcionava ali. Mas agora ele achava que estava em um mundo em que as regras da física eram iguais ao mundo em que ele vivia.

Mas não era o seu mundo. Com certeza não era.

Ele tentou se levantar, mas cambaleou. Estava sem forças nas pernas. Como quando se sai das águas de um rio. O corpo pesado. Ele entendeu então que o espaço/luz que atravessara era também um espaço com pouca, ou nenhuma, gravidade. Sentiu uma pequena tontura.

Esperou uns segundos até passar os sintomas que sentia e então se levantou. Olhou em volta e só sentia que deveria entrar pelo portão à frente. Parecia precisamente certo que ele fizesse isso.

Ele colocou a mão no portão, semiaberto. A mão sentindo a textura. Não era mágica. Era sólida, real. Mas o que teria após ela? Ele não tinha tempo de pensar sobre isso. Só empurrou e ela se deslocou facilmente. Ele entrou.

Era mesmo uma cidade, ele via as ruas. Mas estava envolta em penumbra, como se fosse noite. Ou... Se fosse subterrânea... Onde ele estava?

Estranhamente não havia nenhum ruído ali. Pelo menos não que ele pudesse ouvir. O ar estava parado. Novamente ele sentiu aquilo de um tempo passando devagar...

Na frente dele as casas entre as árvores da floresta começaram a ondular, como as águas de uma lagoa agitadas pelo vento. Ele lembrou-se de Lauany e correu pelo lugar que o atraía com toda a força. A rua à sua gente.

Correu, correu e correu. Até dar em outro portão.

Do outro lado uma casa maior, mais linda. Ele sentia que Lauany estava do outro lado. Era quase uma certeza. Mas como? Como ele podia ter esse sentimento?

Ele estendeu a mão tocou o novo portão. Novamente a materialidade conhecida dele, de seu mundo. Tentou empurrar. O portão não se abriu.

Sentiu um vento, um sopro. Houve um ruído como um farfalhar, mas logo se transformou em um som mais nítido. Havia alguém ali. Ou algo.

Anajé se virou e viu.

— Quem é você? O que faz aqui? Você não pode entrar aí. Só os convocados podem entrar aí.

O dono da voz que o questionava era um rapaz, mais ou menos, da idade dele. Vestia-se com roupas estranhas, parecidas com armaduras futurísticas que Anajé via em filmes de ficção científica.

— Quê? — Ele perguntou.

— Você não pode entrar aí — o garoto tinha uma espécie de arma e apontava para Anajé. Uma arma também futurística. — Ninguém pode. Somente os convocados. Afinal, quem é você?

Anajé não sabia o que fazer, só pode responder assustado: 

— Sou Anajé. Não sei como cheguei aqui. Só me sinto impelido a entrar aqui. Quem é você?

— Sou um guarda. Filho de uma selecionada. Você tem alguém aí dentro?

Anajé não entendia nada. Reflexos de luz e imagens se formavam em sua mente. Eram rápidos. Não dava para ver direito. Mas uma coisa ele viu claramente. Lauany estava na casa após o portão, deitada em algo como uma cama de hospital. E sangue era retirado dela.

— O que tem na casa? — ele perguntou. — O que tem lá? Eu acabei de ter uma visão de minha amiga lá.

— Se você viu sua amiga lá, é tarde demais para ela. Ela não vai poder sair mais de lá. Ela é uma escolhida, como a minha mãe. Uma noiva dos Senhores de Ratanabá. 


As noivas de RatanabáOnde histórias criam vida. Descubra agora