Epílogo

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Fevereiro

O avião pousou à tarde e eu já queria correr para a minha cama, apenas cochilei no avião, fiquei inquieta por horas, nada diferente de como quando fui, a ideia de estar em um avião devia ser incômodo.
Não foi fácil mais uma despedida e agora eu precisava concluir mesmo o meu curso, então, a não ser que meus pais me pagassem outra passagem, eu não sabia quando nos veríamos novamente pessoalmente, mas o último mês foi incrível e cheio de lembranças que ia guardar para sempre.

Quando peguei um táxi, liguei para Jamie, que estava apenas esperando eu chegar.
Ela quase me derruba quando eu chego.
-Senti sua falta - ela diz em um tom agudo.
-Eu também - retribuo o abraço, depois de murmurar com o barulho.
Eu entro, fecho a porta e dou uma olhada ao redor, tudo estava em perfeita ordem.
-Você cuidou do apartamento melhor que eu.
-Eu sei, mas não tinha muito para arrumar, só esses papéis de croquis que estão sempre espalhados, inclusive eles são muito bons, você não pensa em tirá-los do papel e transformá-los em realidade?
-Ainda estou pensando, muito, na verdade, a viagem me fez abrir a cabeça para várias coisas e uma delas é o que eu realmente quero fazer.
-E o que quer fazer?
-Agora? Eu só quero minha cama. Sei que estava em casa no Brasil, mas eu desacostumei do meu antigo quarto, sinto falta da minha cama - com isso notei que minha realidade era a Coréia agora.
-Tá bom, eu vou deixar você descansar.
-Fica mais um pouco, eu ainda preciso desfazer as malas.
-Você quer que eu arrume suas coisas também?
-Seria bom, mas não é isso, só quero companhia - eu dou um suspiro e me sento no sofá.
-Ei, o que aconteceu?
Eu sabia que não podia esconder nada de Jamie.
-Nada aconteceu.
-Você acabou de voltar do seu país, provavelmente matou a saudade dos seus pais, mas você parece tão... desanimada.
-Não estou desanimada .
Ok, talvez os milhares de pensamentos que vinha tendo ultimamente estivessem me cansando, eu não havia mandado nada para Seungmin e em troca também não obtive mensagens. Não podia julgá-lo, eu que devia mostrar que o caminho era viável e não cheio de obstáculos.
-Mas também não parece nada feliz.
Jamie senta em uma das cadeiras e olha alguma coisa no celular.
-É só que eu fiquei pensando a viagem inteira- e realmente estava, já não estava no Brasil, estava de volta à Coreia do Sul, não tinha o porquê não pensar no que fazer.
-Deixa eu adivinhar, esse pensamento tem cabelos escuros, olhinhos adoráveis levemente estrábicos, também tem uma voz angelical.
Eu jogo a cabeça para trás no sofá e solto um gemido de uma dor psicológica.
Jamie ri, mas logo se aproxima e senta do meu lado.
-O que você estava pensando?
-Se fiz a coisa certa, digo, se fiz a coisa certa desde o início, se foi uma boa ideia essa de virar amiga de um idol e depois ter se apaixonado por ele, porque agora ele não sai da minha cabeça e não só agora, ele está sempre na minha cabeça, quando eu vou fazer qualquer coisa eu penso em como seria se Seungmin estivesse ali ou se ele se sentiria orgulhoso quando sinto que estou indo pelo caminho certo, porque eu imagino ele do meu lado, mas isso também não é possível.
Eu paro um pouco e busco ar, Jamie me olha um pouco assustada.
-Você acabou de dizer.
-O quê?
-Que está apaixonada por ele, você acabou de dizer isso.
-Disse?
Eu estava escondendo aquilo por meses e meses, já me achava especialista nisso a certo ponto, pois tentava esconder até de mim.
-Não é nenhuma surpresa - digo baixinho.
-Realmente, não é, mas por que você fez aquilo, por que rejeitou os sentimentos do garoto quando ele se declarou pra você?
-Eu não rejeitei,- protesto, elevando o tom de voz - eu só, eu só... Droga, eu fui muito dura?
-Isso eu não tenho como saber, não estava lá.
-Não, eu não fui dura, eu só falei que seria melhor que fôssemos amigos, eu te disse no telefonema.
-De qualquer forma já tem alguma coisa entre vocês, mesmo que vocês não digam, então por que vocês estão tão infelizes? Por que simplesmente não admitir?
-Eu não sei - finalmente desisto.
Jamie me olha com aquela cara de filhotinho perdido, devia ser de dar dó olhar para a minha cara.
-Jamie, eu fiz a coisa certa? - pergunto depois de um tempo olhando aquela expressão nos seus olhos.
-Você sente que fez a coisa certa?
-Sim, sinto que sim, eu fiz isso por nós.
-E valeu a pena? Você quer que as coisas permaneçam como estão?
-Eu tenho medo de perder o que a gente já tem.
-Eu não entendo, Lia, não é como se você fosse arruinar uma amizade porque não sabe se seu amigo está ou não sentindo o mesmo que você, e acredite em mim, é horrível, eu já passei por isso e realmente perdi uma amizade incrível, mas vocês não. O Seungmin disse o que sente por você, ele sente o mesmo, por que você está agindo como se fosse o contrário?
Jogo novamente a cabeça pra trás, eu sabia que ela estava certa, mas não conseguia exprimir o medo que sentia de tentar.
-Não é como se, quando eu falasse que sinto o mesmo as coisas magicamente irão dar certo, ainda tem empresa e agentes e carreira. E não falo apenas dele, eu também quero mais e..
-Lia, você já está pensando além de novo, vai com calma, a questão primeiramente é você dizer a ele que sente o mesmo, isso não quer dizer que vocês irão assumir qualquer coisa, mas não seria um alívio contar isso pra ele?
Só de pensar na possibilidade o meu peito batia tanto de ansiedade quanto de conforto por não desapontá-lo mais.
-É que... - tento reunir forças, mas minha voz ainda sai baixa - As coisas nunca deram certo para mim, nesse sentido, não sei porque daria certo agora.
Jamie para e me observa atentamente, colocando uma das mãos no queixo.
-Você também nunca conheceu um Kim Seungmin na vida, como você acha que as coisas serão as mesmas do seu passado?
-Eu não sei, é.. é assustador gostar de alguém assim, eu estava naquele avião e a sensação de frio na barriga nem se comparava com a sensação que ele deixou depois que me disse aquilo e agora é diferente, agora que eu preciso dizer como me sinto é como, é como se eu precisasse pular do avião.
-Calma aí - diz Jamie.
-Não, não assim, é como saltar de paraquedas, preciso de um impulso e encarar o que me aguarda é assustador, mas ao mesmo tempo em que eu sei que a sensação depois me fará sentir viva.
Jamie assente e me olha em condescendência.
-Lia, o que você faria se não fosse tão racional?
-O que quer dizer?
-Agora que disse o que sente, o que você faria?
-Não sei, falar pra você torna esse sentimento tão real que eu não sei nem como controlá-lo mais, não sei se isso é um comportamento racional.
-Como sentir não seria racional? Só mostra que você está viva. Você não precisa se controlar por sentir, ele provavelmente não estava se controlando quando foi até aquele aeroporto falar o que disse a você.
Eu abro a boca e a fecho novamente, Jamie havia me deixado sem qualquer argumentos, só o que sentia era uma euforia crescendo.
-Tem razão - é o que consigo dizer.
Jamie olha para a tela do celular e se assusta.
-Bem, acho que agora que você está começando a se entender eu já vou. Já sabe o que vai fazer? Manda uma mensagem, vocês não devem ter se falado esse tempo todo né?
-Não, não nos falamos há um tempão, mas eu preciso fazer algo melhor - eu me empertigo em um salto.
-Pera aí, vai fazer o que?
-O que parece que eu vou fazer? Eu vou falar com ele, óbvio.
-Agora?
-Não acha que eu já perdi tempo demais?
-Tem razão, mas ai meu Deus, o que você vai falar?
-Eu... eu... eu não sei, só vou saber quando estiver na frente dele.
-Sim! - Jamie dá pulinhos aplaudindo.
-Pra onde devo ir? Até o dormitório? - penso alto.
-Você não vai achar ele no dormitório.
-Por que?
-O The Lost Boys está agora em uma conferência de imprensa falando sobre a turnê internacional.
-Onde fica isso? - pergunto já procurando meu celular. A euforia me fazendo ofegar como se tivesse corrido uma maratona.
-Fica em um hotel mega chique aqui em Seul.
-O endereço Jamie. - pergunto com o celular já em mãos.
-Eu vou com você - ela exclama como se tivesse decidido aquilo naquele momento.
-Ótimo, me diga o endereço, quer saber, vamos de táxi, eu não quero esperar aqui.
Digo e a puxo para vir comigo.

Gone Away - SeungminOnde histórias criam vida. Descubra agora