Perda e Vingança

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⌛ Flashback On – 2012 ⌛

“Parada em frente ao cemitério de Bangkok, sentia que não tinha controle das minhas pernas, do meu corpo. Minha respiração estava irregular, como se estivesse vendo meu pior pesadelo e, sinceramente, esse sempre foi meu pior pesadelo – saber que não teria mais uma casa para voltar, que não teria seus beijos, abraços e carinhos, que nunca mais a ouviria reclamar das fotos tiradas de repente ou como eu colocava meus pés gelados entre suas pernas para esquentar. Minha mãe havia ido para um lugar melhor, não precisaria mais viver lutando contra o câncer e nem sofrendo pela ausência da sua única filha, mas ainda assim, me sentia egoísta por querê-la aqui. Por sentir sua falta.

- Lis, não precisa ter pressa.

Sua voz era baixa, cautelosa. Virando minha cabeça para encarar seu rosto, senti ainda mais vontade de chorar por saber que tia Seulgi tentava compensar toda saudade que eu sentia e sinto da minha mãe. Por saber que ela realmente sentia muito pela forma que fui tirada dela e como seu irmão nos arruinou com suas ações. Como ela comprou a primeira passagem para a Tailândia assim que os papéis da adoção ficaram prontos. Tia Seulgi era tão diferente em tantos aspectos da pessoa que tinha o mesmo sangue, mas eu sempre achei surpreendente como ela me lembrava minha mãe nas palavras doces de conforto, nos abraços protetores, calorosos e amorosos, na forma temerosa de me defender.. tia Seulgi, mesmo que não fosse sua intenção, pegou para si o papel de mãe, e isso me dava forças para continuar.

- Estou pronta. – falei dando um passo, mas logo olhando por cima do ombro. – Você vem comigo?

- É claro, meu amor.

Entrelaçando nossas mãos, tia Seulgi acompanhou cada passo que eu dava, as de repentes paradas quando o medo me dominava ou até mesmo para encarar os túmulos sem flores. Entre túmulos de pessoas que eu não conhecia, tentava imaginar que tipo de vida tiveram; Senhor Suwan poderia ter sido um militar que lutou em muitas guerras ou apenas um comerciante. A Senhora Sombun poderia ter sido uma atriz, advogada ou até mesmo uma dona de casa. Observando seus túmulos, aparentemente abandonados, me perguntava se seus familiares estiveram com eles em cada segundo ou último suspiro. Se eles tinham vidas agitadas que não os permitiam visitá-los. Eram muitas perguntas e dúvidas, essas que eu poderia facilmente responder futuramente.

Alguns metros a nossa frente, um senhor que estava ajoelhado na grama trocava as flores murchas do túmulo da sua pessoa querida. Não era algo estranho, já que estávamos em um cemitério, mas sua expressão era quase derrotada, seus ombros caídos e seus olhos sem vida me fizeram questionar: “Será que meus irmãos me veem assim? Será que a tia Seulgi se sente comovida quando olha nos meus olhos e não encontra vida?” Sentindo sua mãos nas minhas costas, deixei para pensar nessas questões depois conforme caminhávamos na direção do senhor que não estava mais ajoelhado, mas que havia se levantado como se soubesse que estávamos chegando.

- Senhorita Kang. – erguendo a mão para cumprimenta-la, o senhor que tinha uma expressão pior da qual eu imaginava, me encarou tempo demais. – Você.. você deve ser a Lalisa.

- Desculpa, eu conheço o senhor? – perguntei levemente confusa com esse “encontro”.

- Marco Bruschweiler – erguendo agora a mão em minha direção, Marco, como havia se apresentado, tinha os olhos cheios d’água. – Eu conheci a Chitthip no hospital, ela falava muito sobre você.

Eu nunca imaginei que sentiria algo mais intenso do que sentir a dor da perda, mas aqui estava eu, prestes a chorar por conhecer um amigo da minha mãe. Por conhecer alguém que poderia acabar com minhas dúvidas. Ao mesmo tempo que eu queria enche-lo de perguntas, queria desmoronar em frente a simples, mas bonita, lápide da minha mãe.

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