Sua Dor Sempre Será A Minha Dor...

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🚨CONTEÚDO SENSÍVEL ABORDADO - DEPRESSÃO & MENÇÃO A ESTUPRO 🚨

**Esse capitulo pode conter gatilhos para algumas pessoas, por favor, NÃO leiam se for causar algum mal para sua saúde mental**

⏳ Flashback On – 2014 ⏳

“Acordar, abrir os olhos, me levantar, ir ao banheiro, comer, e sair de casa, eram tarefas consideravelmente fáceis para a maioria das pessoas, exceto para mim e um grupo de milhões de pessoas. – Quando meus olhos se abriam, eu só conseguia perguntar para mim mesma: ‘Por quê? Por que eu havia acordado novamente?’. Quando me levantava, sentia meu corpo pesado, cansado, praticamente me arrastava pelos cômodos desejando voltar para a minha cama. Comer... Fazia um bom tempo que eu não sabia o que era uma refeição completa, comer porque estava com fome ou por livre e espontânea vontade. Eu não tinha fome ou sede; se dependesse apenas da minha vontade, eu nem chegaria perto da cozinha, mas eu tinha uma mãe preocupada demais, que muitas vezes estava sentando do meu lado para ter a certeza que eu iria comer. E eu poderia dizer que era exagero, que ela estava transformando uma situação ruim, em uma pior, mas nós duas sabíamos que eu facilmente jogaria fora e fingiria que havia comido tudo. Sair de casa... Talvez de todas as coisas que eu perdi, e foram algumas, não me interessar por nada, nem mesmo atividades que eu amava – sair para fotografar, conhecer pontos turísticos, correr ou apenas caminhar pela cidade –, era o que me deixava ainda mais deprimida. E, era ainda mais deprimente entender que eu não tinha interesses básicos do meu dia a dia; brincar com meus gatos, assistir séries ou doramas, e cozinhar. Eu havia perdido o interesse em absolutamente tudo que me tirasse da cama.

E hoje não estava sendo diferente; após ficar deitada por quase uma hora apenas encarando meu teto, me forcei a levantar e sair do quarto. Eu nunca imaginei que essa simples ação, seria terrivelmente difícil. Apoiando minha mão nas paredes quando sentia meu corpo fraco, pensava e repensava na ideia de voltar para o meu quarto e levantar novamente apenas quando minha mãe chegasse, porém, isso seria tudo o que minha psicóloga pediu que eu não fizesse durante essa semana, e o que minha mãe esperava de mim. Suspirando, me arrastei até a sala, abrindo primeiro as cortinas, que deixava o ambiente escuro. – Se fosse outros tempos, um sorriso teria aparecido por saber que minha mãe havia as deixado fechadas de propósito. Esse era o jeito dela saber se eu havia levantado ou não.

Franzindo o cenho quando senti a claridade e um incômodo dolorido, ergui minha mão e tampei parcialmente meu rosto. Assim que me acostumei com os raios do sol, me aproximei da janela e observei a pouca movimentação de carros e alguns civis caminhando calmamente na rua, lembrando muito brevemente de quando eu era uma dessas pessoas; apesar de odiar suar, eu sempre gostei de sair em dias ensolarados. Eu sempre preferi vestir um short, uma regata e calçar chinelos do que precisar me agasalhar completamente para não ficar doente. Porém, hoje, eu me sentia cansada apenas vendo-os.

Suspirando, me afastei da janela e analisei a distância da sala até a cozinha. Eu já tinha conseguido levantar da cama e aberto as cortinas, por hoje já estava bom, e se não estivesse, eu poderia usar as palavras da doutora contra ela: ‘não podemos esperar que você lute contra a depressão do dia para a noite. Está tudo bem você fazer as coisas no seu ritmo, sem pressão, contanto que, se supere dia após dia.’

Entretanto, mesmo com essa ideia, mesmo tudo dentro de mim gritando para que voltasse para o meu quarto e ficasse afundada na minha cama, eu me arrastei até a cozinha após ver Leo e Louis sentadinhos em frente as vasilhas com o nome de cada um, e ouvir Lucca miar como se estivesse morrendo. Eu odiava isso. Odiava saber que meus gatos eram minha família, meus filhos, e eu estava sendo uma mãe negligente, que se não fosse pela minha mãe, provavelmente eles estariam tão ruins quanto eu. Eu sabia que eles precisavam de atenção, de cuidados, mas eu... Eu não tinha forças, e isso me machucava mais a cada dia.

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