04 Impacto

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Te vejo errando, isso não é pecado

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Te vejo errando, isso não é pecado. Exceto quando faz outra pessoa sangrar

Na sua estante - Pitty

Antes - 2015

Tento me concentrar na aula, mas tem sido uma verdadeira guerra fazer minha cabeça se manter no presente. Fora todo o caos que anda cortando minha mente e me impede de ter um bom rendimento nos estudos, ainda tem os ruídos do lugar. Minha turma desse ano é muito caótica e barulhenta.

Finalmente o sinal soa, alto e estridente sobre os alto-falantes nos corredores da escola, e deveria ficar animada como todos os outros alunos ao redor, feliz em finalmente terminar a aula e poder ir embora. Será que chegam em casa e podem jogar videogames, ver séries, ler livros? Ou alguém aqui também pisa no inferno todos os dias ao sair da escola?

Jogo minha mochila sobre um dos ombros, sentindo como ando lenta ultimamente, arrastando os pés sobre o piso do recinto. É como se meu corpo estivesse se tornando cada vez mais pesado com o tempo, um peso morto que sou obrigada a carregar por aí.

— Olha como ela parece um bichinho quando a tocamos! — Caíque zomba, mas não sou rápida o suficiente para escapar de seu corpo.

Eu sei que ele vai repetir a maldita tortura, e quando seus braços imensos me agarram em um abraço apertado, um grito mudo escapa da minha garganta. Flashbacks instantâneos de todos os momentos em que meu corpo não foi respeitado voltam à minha cabeça. Eu posso sentir o hálito cheirando a charuto e álcool em meu rosto, as mãos ásperas e sujas me tocando, como se estivesse acontecendo nesse momento, como se ultrapassasse a lembrança e se tornasse real.

— Me solta! — Sussurro, sentindo que meu coração vai explodir.— Por favor...

As palavras quase não saem.

Eu tento respirar, mas esqueço até como o fazer.

Puxo o ar com força, enquanto cerro os olhos ao tentar não ver mais nada, sentindo as pernas trêmulas e tentando brigar com o meu corpo para reagir, mas não consigo. A única coisa que meu corpo produz são murmúrios por ajuda e lágrimas. Não faço ideia de quanto tempo demora até que tirem esse garoto de cima de mim.

Não sei quem me ajuda a escapar de Caíque, quem são os alunos cochichando enquanto eu finalmente consigo correr para longe, em direção ao local que julgo um refúgio. Eu apenas guio o meu corpo até o vestiário feminino e me jogo sentada sobre o chão.

Demoram incontáveis minutos até que consiga me recompor.

Até que consiga juntar os meus pedaços.

Até que perceba que neste momento estou segura, que não tem ninguém perto para me fazer mal. Ainda trêmula, abro minha mochila e agarro um pacote repleto de balas de uva. Pego uma atrás da outra e as enfio boca adentro, mal conseguindo fechá-la para mastiga-las.

Revolta e Outras Coisas - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora