06 Até não gostar mais

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Oh, ela não vê a luz que está brilhando Mais profundo do que os olhos conseguem enxergar Talvez nós a tenhamos cegadoEntão ela tenta esconder sua dorE afastar suas inseguranças

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Oh, ela não vê a luz que está brilhando
Mais profundo do que os olhos conseguem enxergar
Talvez nós a tenhamos cegado
Então ela tenta esconder sua dor
E afastar suas inseguranças

Scars To Your Beautiful - Alessia Cara

Antes - 2015

As vezes sinto que minha vida é um filme trágico em preto e branco. É tudo sempre sem graça, sem gosto, sem emoção...ou melhor, sem emoções positivas, porque coisa ruim acontece para um caralho. Principalmente agora que estou na 2° série do Ensino Médio.

Fora o desgraçado do Caíque que ama me infernizar, creio ter um novo inimigo, que não tira os olhos de mim durante toda a aula de matemática. Estou sentada na última carteira da sala ampla em tons de azul e branco. Ele está pousado ao lado de sua irmã, Bianca, que interrompe a aula a todo momento, tentando chamar atenção ao mostrar o quanto seu Q.I é acima do restante dos mortais, com seu tom de voz estridente e seu belo sotaque sulista. Soube que tomou uma advertência por ter estilizado a blusa da escola ao cortá-la para deixar barriga à mostra. Ninguém me contou, na verdade eu ouvi dois meninos cochichando no fundo da sala. Acredito que as pessoas me acham estranha por essa coisa de não gostar que me encostem, ou que fiquem muito grudados ao meu corpo, então me evitam, fingem que não existo. A verdade é que os alunos não aceitam algo que é diferente, eles repelem o que vai contra ao senso do que é comum.

Minhas bochechas não têm descanso, esquentando sem parar a cada momento em que Nate se vira, duas carteiras a frente, girando a cabeça por cima do ombro para me fitar de uma maneira intrigante. Seu semblante não diz muito, mas também não consigo analisar por completo, pois desvio os olhos de suas profundas encaradas sempre que posso. Seus cabelos desgrenhados reluzem à medida que fica girando a cabeça para me encarar. Não consigo me concentrar na aula, ou nas anotações que faço a esmo em meu caderno.

Quando o sinal para o recreio soa de maneira insistente nos alto falantes do corredor, me apresso para enfiar tudo dentro da mochila ansiando sair correndo antes que Caíque resolva vir encher o meu saco, mas a presença pesada que se posta ao meu lado é muito mais aterrorizante. Estou pronta para me levantar, mas, quando Nate me intimida ao me encarar de cima, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha, me sento, completamente rígida.

Meu coração resolve disparar, enquanto não entendo a razão de sentir que o ar do ambiente está completamente tomado pelo corpo de Nate, não deixando nada para mim.

Meus olhos estão muito abertos, mesmo que eu não enxergue um palmo a minha frente.

— Olá, Isabela!

Sua voz firme e segura faz com que eu dê um leve salto na cadeira. Merda! Ele me assusta, e não preciso girar os olhos até o garoto para saber que está rindo. Eu posso enxergar pela visão periférica seus lábios exibindo um sorriso largo enquanto abre sua mochila. Deus! Engulo em seco diversas vezes. Espero que ele retire algo dali para me assustar, e por isso encolho os ombros. Estou com medo e não consigo chamar pelo professor jovem que agora sai da sala, bem como a trupe de alunos ansiosa para aproveitar a folga entre as aulas, deixando-me inteiramente a sós com esse delinquente.

Revolta e Outras Coisas - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora