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Minha mãe queria continuar tentando sua carreira de modelo, então abriu a mão da maternidade, e foi para Nova Iorque quando eu tinha um ano de idade, eu não a julgo, ela engravidou aos 16 e nessa idade ninguém é muito responsável. Eu morei com meu pai e minha avó Lydia até os 13 anos, e como ele trabalhava, eu passava o dia inteiro com Lydia.

Apesar de odiar minha mãe, minha avó evitava falar mal dela perto de mim, sempre dizia que minha mãe estava em busca de uma vida melhor para mim, o que era a mais pura mentira, porém era reconfortante. As duas eram parecidas em alguns aspectos, e vovó ficaria irritadíssima ao ouvir isso, mas ela era exageradamente vaidosa e um pouco egocêntrica, felizmente isso não a impedia de ser uma boa mãe e avó. Eu amava sua companhia, seu constante bom humor, de como ela cuidava para que eu estivesse sempre impecável assim como ela.

Aos 50 anos, Lydia faleceu de câncer no pulmão, quando descobriu já estava muito avançado. Lembro como ela ficou ofendida por ter sido questionada sobre tabagismo, "Eu amo demais meu corpo para corrompê-lo com essas porcarias" foi o que respondeu. Até o dia de sua morte ela não se deixou abater, ou demonstrou fraqueza.

Eu queria ter escutado algum concelho marcante, antes dela falecer, mas acho que a última coisa que ela me disse foi para não deixar que a enterrassem sem maquiagem. Minha última visita a ela, foi a última vez que pisei em um hospital. Até hoje.

- Eu já disse - falei lentamente, e lancei um olhar furioso para o policial - Eu escorreguei e caí.

A sua parceira, detetive Miley, eu a conhecia, já tinha a visto em uma visita que fiz no trabalho do meu pai. A policial feminina se aproximou, e afastou o cabelo do meu rosto. Eu estou em uma cama de hospital, merecia mais respeito. Afastei a mão dela com um leve tapa.

– Não encosta a mão em mim – falei com os dentes cerrados.

– Você ter escorregado não explica a marca de mão no seu rosto – ela estava calma – Quem fez isso com você ?

Eu poderia contar, estava com tanto ódio do Nate, essa era a chance de ver ele pagar por tudo que fez comigo, mas também não queria mandá-lo para a cadeia. Vovó ficaria decepcionada com o quão fraca me tornei, incapaz de dar o troco a alguém que havia me mandado para o hospital.

– Não me lembro – murmurei – Minha cabeça ainda está doendo, e vocês estão fazendo piorar.

Os dois policiais olharam para o médico que se desencostou da parede e olhou a prancheta.

– Deixem ela descansar – pediu o médico, e eles obedeceram.

– Obrigada, doutor – agradeci, e fechei os olhos pensando que ele também iria sair, mas não saiu.

– Teremos que fazer mais exames – ele olhou para a prancheta que segurava, notei que estava sendo irônico – Já que a perda de memória é sintoma de algo mais grave, tudo bem por você passar o ano novo nessa maca ?

Me dei conta de que o ano novo seria daqui a dois dias. Ele estava usando isso para me fazer falar, mas por mim tanto faz onde vou passar a virada do ano.

Dei de ombros, e ele foi embora. Eu apaguei facilmente, com remédios na veia, dormir não era difícil.

◇◇◇

Acordei com os gritos histéricos da minha mãe, seu choro faria qualquer pessoa pensar que eu morri. Ela teria feito sucesso se tivesse tentado a carreira de atriz.

Os policiais estavam de volta, agora ao lado do meu pai.

– Você está bem ? – meu pai começou a analisar meu rosto – Quero que diga o nome de quem fez isso, Thalia.

– Só me lembro que escorreguei e caí – repeti o que eu havia dito aos policiais e ao médico, e irei repetir até que desistam.

– Vamos te deixar de castigo por um mês, se não contar agora quem acertou esse tapa na sua cara, anda Thalia – minha mãe ameaçou.

Eu ri, e todos me olharam sem entender. O garoto que eu amava até pouco tempo, me agrediu, eu estou no hospital por ser uma tola imbecil, isso já é um castigo. E o fato dela estar claramente fazendo essa ceninha para fingir que está preocupada, me irrita.

– Não me importo em ficar de castigo, e por falar nisso, vocês passaram em casa antes de vir aqui para o hospital ? – me lembrei da situação em que nossa casa estava, parecendo uma exposição de sadomasoquismo.

– Sim, por que ? – meu pai perguntou curioso.

Ele não parece alguém que viu a casa parecendo o lar de um fissurado em BDSM. Isso significa que alguém arrumou a casa antes deles chegarem. Seja quem foi, salvou o meu pescoço.

Perverse Love - Fezco Onde histórias criam vida. Descubra agora