6.

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Pov Marília

Acordo assustada com o barulho da chuva do lado de fora e abro meus olhos devagar. A primeira imagem que vejo é Maraisa dormindo na minha frente, deitada em cima da sua mão de frente para mim, totalmente encolhida.

Fico olhando Maraisa dormir e por segundos parece que eu voltei a meses atrás, quando ainda namoravamos e dormíamos todos os dias abraçadas. A melhor parte do meu dia era chegar da escola e ver Maraisa me esperando para jantar, depois tomávamos banho juntas e dormíamos abraçadas, era sempre a mesma rotina e eu amava. Sinto muita saudades dessa época.

Um trovão forte faz um barulho que acorda a morena e ela abre os olhos assustada. Maraisa me olha por longos segundos até sentar na cama, sem entender o que ela fez.

- Eu bebi demais - Ela fala baixinho - Por favor, me fala que eu não fiz nada demais.

- Você só...disse que me amava e...tentou me beijar.

Maraisa fica em silêncio por longos segundos, até que ela pega o travesseiro e afunda no seu rosto, resmungando irritada por alguma coisa.

- Mara...está tudo bem.

- Desculpa por ter tentado te beijar e ter falado oq eu falei - Maraisa fala rapidamente e saí da cama em segundos.

Conheço Maraisa, ela vai fingir que nunca falou nada, que não se declarou, que não tentou me beijar, que não chorou porque não vai se casar comigo, ela vai ignorar absolutamente tudo. Mas da mesma forma que eu aguentei a sua estupidez comigo, ela vai aguentar o que eu tenho para falar.

Levanto da cama e vou atrás da morena, que está na cozinha.

- Você disse que me amava - Falo para ela - Chorou porque eu não aceitei o seu pedido e só acalmou quando eu disse que o amor não precisa doer.

- Para com isso agora - Maraisa manda irritada.

- Parar com o quê? Falar a porra da verdade para você? Seja madura e escuta.

- Eu não sou obrigada a te escut-

- Você pediu para dormir comigo, eu te dei banho, te troquei, cuidei de você - A cada palavra eu dou um passo para perto dela - E honestamente, eu prefiro a Maraisa bêbada, do que essa versão arrogante e hipócr-

Maraisa me cala com um beijo, descendo suas mãos para a minha cintura, apertando com força, arrancado um gemido inconsciente da minha boca. Levo minha mãos para o seu pescoço e aprofundo o beijo, sentindo sua língua dentro da minha boca, duelando contra a minha.

Duas pessoas descontando toda a raiva em um beijo violento, com mãos bobas e a enorme necessidade do toque físico.

- Eu te odeio - Sussuro ofegante e sinto Maraisa mordendo meu lábio inferior.

A morena me ignora e desce suas mãos para a polpa da minha bunda, apertando com tanta força que eu sinto seus dedos ficando marcado na minha pele. Arranho a sua nunca e sinto meu corpo roçando no seu, me instigando a continuar. Maraisa me coloca contra o balcão da cozinha e eu acabo esbarrando em um copo de vidro, fazendo um barulho alto ao quebrar e acordar Léo no seu quarto.

- Puta que pariu - Falo ofegante - O Léo, o Léo.

- Merda...

Maraisa se afasta e vai para o quarto do pequeno, me deixando na cozinha, com a camisola toda amassada e com a respiração falha. Respiro fundo e passo as mãos pelo meu rosto, tentando voltar ao normal. Namoramos por doze anos, era óbvio que em algum momento isso iria acontecer.

O que mais me irrita que ela não consegue admitir os próprios sentimentos, não consegue deixar essa raiva para trás e viver o que ela deseja viver. Sei que não é fácil me perdoar por ter escondido a gravidez, mas eu já a perdoei por ter ido embora e não fico guardando mágoa e repulsa, até porque isso não vai me levar a absolutamente nada.

- Ele quer você - Maraisa fala com o pequeno nos braços - Ele está com fome.

- Tudo bem...

Pego meu pequeno nos braços e sento na poltrona da sala, para amamentar. Léo é inteligente, assim que ele pega o peito, solta um sorriso de lado, satisfeito com isso, arrancando um sorriso da minha boca toda vez.

- Como é guloso, meu bebê - Sussuro passando a ponta do dedo sobre o seu rosto.

Levanto meu olhar e vejo Maraisa sentada na minha frente, segurando a mãozinha do pequeno. Sei que seus pensamentos estão distantes, conheço seus jeitos e maneiras de agir.

- Podemos falar sobre o beijo? - Pergunto baixinho.

- Desculpa ter te beijado - Ela fala quase em um sussuro - Eu não deveria ter te beijado.

- Por que você não consegue parar de lutar contra os seus sentimentos? - Falo incrédula - Agora toda vez que você me beijar vai pedir desculpas? Sério?

- Não somos um casal.

- Não, não somos, mas já fomos e para ser bem sincera com você, eu sinto falta da minha Maraisa - Falo nervosa e me levanto com Léo no colo - Só espero que um dia ela volte.

- Você escondeu a gravidez do meu filho, Marília - Ela joga na minha cara e aponta o dedo para mim.

- E você me abandonou, porque não teve maturidade para ouvir a minha explicação - Respondo de volta - Eu tentei te contar, ou você acha mesmo que eu queria passar a minha gravidez sozinha? Eu tentei, mas eu não consegui e eu sinto muito. Você foi embora e eu não contei sobre a gravidez, mas sabe a nossa diferença? Eu nunca te resumi a um erro.

Vou para o quarto e bato a porta com força, deixando as lágrimas rolarem pelos meus olhos. O que mais me dói, é que temos a nossa história tão linda no passado, mas parece que a cada briga, a cada discussão, eu sinto que fosse rasgando as páginas do nosso amor, jogando tudo no lixo.

Sento com Léo na cama e abraço seu corpinho com força, chorando abraçado com meu pequeno. Maraisa era meu ponto de paz e agora ela virou o motivo que eu choro.

Não vamos voltar, ela não vai mudar e eu não posso continuar me machucando, não assim.

- Agora é só nos dois, Léo - Sussuro baixinho - Só nos dois para sempre.

///

- Lila...você tem certeza? - Luísa pergunta dobrando minhas roupas - Você não parece bem.

- Eu não...não posso continuar nesse apartamento, não dá.

Decidi que o melhor nesse momento é eu ir morar com a minha irmã, não posso ficar perto da minha ex, não com a sua forma de agir, de falar, suas grosserias e a pior coisa que ela está fazendo que é negar seus sentimentos.

- Léo já tem o quarto dele - Dou de ombros - Maraisa pode ir vê-lo, mas eu não fico aqui.

- Tudo bem...

Escuto a porta de entrada sendo aberta e vejo que a morena chegou do trabalho. Assim que ela vê as malas, Maraisa se aproxima sem entender e entra no quarto.

- O que está acontecendo? - Ela pergunta confusa - Para que essas malas?

- Eu e o Léo vamos embora - Falo olhando nos seus olhos - Vamos ver a questão da guarda.

- Marília...

- Eu cansei, Maraisa - Nego com a cabeça - Eu cansei de você.

Nine months (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora