Bak

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Jogava o jogo soltando risadas altas enquanto via meu amigo jogar. Logo começou a gritar por ter morrido, então me obriguei a ir ajudá-lo para que não ficasse com uma bela dor de cabeça no final. Seus argumentos eram "quando tu morre eu que salvo, né? Mais aí quando eu morro tu some!". Me matava de rir, era um dos meus melhores momentos.

Gabriel começou a se esforçar para ganhar a partida, pulava, agachava, comia cogumelos até quando já não dava mais e ficava se gabando e dizendo que era melhor que qualquer um no jogo.

     — Se fosse tão bom não tinha caído agora a pouco. Ruinzão! — provoquei sabendo que ele iria surtar.

— Caí porque a excelentíssima S/n não quis me ajudar a matar os caras e ficou lá acocadinha cagando no canto da casa. Ah, pelo amor de deus, garota! — bateu na mesa me fazendo gargalhar. — Quando vai vir aqui em casa? Tá sabendo que eu quero aquele negócio lá né?

     — GANHAMOOOO — gritei feliz. — Sei lá, da de ir aí agora. Pode ser?

O homem concordou e saímos os dois do jogo. Peguei algumas coisas e fui para a casa do mesmo, provavelmente iria ficar pra posar e aproveitar o resto do dia. Pode ser estranho, mas eu e Gabriel somos amigos tão próximos ao ponto de ele nem se importar se eu for morar na cada. Não lembro quando isso começou a acontecer, só sei que eu gosto de ter um amigo tão próximo como ele.

Aos poucos, vamos ficando cada vez mais íntimo um do outro, só não chegamos ao ponto de entrar no banheiro enquanto um toma banho. Bak podia ser bem envergonhado com outras pessoas, mas com quem ele considera vira o satanás em pessoa pra me atormentar. Fala bobagens e pensa malícias o tempo todo, literalmente uma criança de 13 anos.

Cheguei em sua casa abrindo a porta e gritando, o mais velho saiu correndo da cozinha indo me abraçar. Retribui o abraço e fomos para a cozinha.

     — Pô, S/n, faz mais que isso pra mim. — puxou meu braço me chacoalhando. — Você sabe que eu cozinho tri mal, me ajuda só dessa vez.

     — Eu nunca ganho nada com isso, sempre cozinho até o cu pra ti comer e tu nunca me dá nada! — fui com a colher na direção de sua boca para que ele experimentasse o sabor da comida. — Dá próxima vez vou cobrar imposto por tá fazendo tudo pra ti. Eu só não limpo a casa porque não moro aqui.

     — Tu nunca me deu teu cu pra mim comer. Então, basicamente, tu quase nunca faz nada pra mim.

     — Só o que me falta, preciso da o cu pro príncipe se sentir satisfeito? — bati em seu braço com força. — Vá arrumar os pratos na mesa, se não eu te taco essa colher quente!

     — Se for quente eu quero. — riu com a própria piada.

Podia ser brega, mas eu passava mais da metade do dia conversando, xingando, batendo ou abraçando Gabriel. Nossas idades eram iguais, aos poucos envelheciamos e ainda estavamos na mesma, sem namorada e algo assim. Praticamente morávamos na casa um do outro e sempre acabava comigo dormindo na casa dele sem dia pra voltar pra minha.

Com todo esse tempo de amizade, nunca vi Bak estar gostando de mim além do que temos. Pra ser sincera, nunca senti algo tão forte por ele, sentia algo semelhante a Crush que talvez nunca fosse recíproco. Não que eu quisesse que fosse, porque se fosse, talvez não fossemos como somos agora. Nossos objetivos de vida eram diferentes, ele tinha o mundo nas mãos enquanto eu tinha apenas um país. Era mais que o suficiente pra mim, então já estava o bastante.

Nunca chegamos a nos beijar, ou a chegar perto demais ao ponto de ter encaradas pra boca. Sempre fomos amigos, sempre tivemos um laço forte, então eu o segurava pra que nunca fosse embora, pra que nunca me deixasse. Nunca senti ciúmes de mulheres, pra ser sincera só sentia ciúmes quando ele começava a me trocar por homens e nem era algo tão extravagante. Fazia drama pra ele passar o tempo comigo, coisa que quase nunca acontecia e eu não dava muita atenção.

Senti meu corpo ser puxado e colocado contra a parede, me assustei e olhei para Gabriel que se encontrava apavorado olhando pro chão. Olhei para a mesma direção e comecei a gritar, era uma aranha, UMA ARANHA.

— GABRIEL, MATA ESSA INFERNAL AGORA! — corri para seu lado me escondendo atrás de seu corpo que comparado ao meu, era enorme. — Olha o tamanho dela, Gabriel, mata ela logo, homem.

— S/n, olha, é aquelas tarântulas. Aquelas que dá de pegar na mão! — se aproximou da aranha igual criança, abaixou-se e estendeu a mão fazendo a aranha subir nela.

Ele começou a se virar pra mim, sorrindo bobo, pra uma aranha. Acariciou as costas da aranha enquanto eu morria de agonia e arrepios só de imaginar o aracnídeo andando por meu corpo devagar, com pelos roçando minha pele.

— Não quer acariciar ela, amor? — ainda passando os dedos pela aranha enorme, arregalei os olhos ao escutar o apelido.

Lessa nunca me chamava de coisas fofas, sempre coisas engraçadas e de mal gosto. Amor era uma palavra muito íntima e até éramos bem próximos, mas não como namorados. Era fofo e estranho ao mesmo tempo, eu não sabia dizer se ele tinha errado o nome ou falado por querer.

— Bota essa aranha pra longe daqui, Gabriel Lessa, se não eu te mato! — fui para o outro lado da mesa me afastando do rapaz.

— A casa é minha, se eu quiser fazer dela a irmã do meu cachorro, eu faço!

— Faz que eu nunca mais coloco um pé aqui dentro e nunca mais faço comida pra ti! — ameacei vendo o homem ir pro quintal colocando a aranha bem longe da casa. — Fez algo de bom pra mim, parabéns!

Dei as costas tentando não pensar no apelido e nem... Na aranha. Meu corpo foi puxado novamente, mas agora, bateu contra algo não tão duro. Era Bak.

— Ah não, Gabriel! — tentei tirar suas mãos da minha cintura, podia facilmente ter os pelos da tarântula e podia me dar coceira até na alma. — Tu nem lavou essas mãos aí! — me mexia tentando me soltar dali.

— Para de se mexer assim! — apertou meu corpo contra o seu, congelei. — S/n, — colocou o queixo em meu ombro. — o que quer fazer?

Todos os abraços, as proximidades, nada se comparava com aquele momento. Eu sentia meu corpo ficar quente sem toques íntimos, sentia minha alma desejar aquilo que insinuava acontecer.

— Me prometa que a nossa amizade é maior que todas as estrelas do universo. — virei-me encarando o rosto perfeito de Bak, olhando para sua boca e seus olhos constantemente. Eu estava enlouquecendo. — Me prometa que, mesmo com várias circunstâncias, nossa amizade sempre vai ser a mesma.

— Eu prometo, mas por que do nada? — dei de ombros e me afastei, escutando Lessa resmungar. — Por que ela me soltou? Não era pra me soltar!

— Falo alguma coisa? — negou rapidamente com a cabeça. — Gabriel~! O que você falo?

Me aproximei o abraçando novamente, vendo seu sorriso de contentamento. Abracei seu pescoço fazendo o mesmo passar as mãos por minha cintura me encarando mais que o normal, seus olhos variavam em minha boca e meus olhos.

— O que aconteceria... Se eu te beijasse agora? — perguntei vendo um pequeno sorriso ser reprimido por seus lábios.

— Passaria muito além de só um beijo. E não seria um beijo de amizade!

Sorri me aproximando de seus lindos lábios juntando-os aos meus. Não era uma sensação normal, me sentia livre, como se um fardo houvesse saído de meus ombros. Então minhas pernas rodearam sua cintura com um impulso, um braço passou por debaixo de minha bunda e o outro firmava meu corpo pela cintura.

Meus dedos puxavam vagarosamente os fios de sua nuca enquanto meu corpo era depositado na mesa da cozinha.

Não foi isso que tu pediu, Darkferd. Mas foi a única coisa que consegui fazer com algo simples!

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