II

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O som dos cavalos relinchando e dos cascos se batendo na estrada foram as primeiras coisas que escutei ao acordar.

Eu encarei Simon. Ele havia balançado o meu ombro para que eu despertasse, e, se nós não tivéssemos de fato chegado no destino, eu ficaria bravo.

Eu estava em um sono tão bom.

Bocejei.

— Chegamos?—perguntei, depois de um tempo reunindo a energia para falar. Minha voz saiu um tanto rouca, então limpei a garganta.

— Acabamos de passar pelo portão de acesso ao castelo.— respondeu Simon, rindo baixo.

Eu pisquei meus olhos lentamente.

— Por que está rindo?

— Você se mexeu enquanto dormia, então acabou bagunçando o cabelo...

Arqueei as sobrancelhas e lamentei antes mesmo de olhar meu reflexo.

— Passa o espelho, por favor.— pedi, estendendo a mão.— Está no bolso externo da minha bolsa.

Ele riu novamente e tirou o pequeno espelho circular de dentro da minha bolsa vermelho vinho, entregando-me em seguida. Não evitei suspirar ao olhar a minha imagem.

Eu havia feito uma trança lateral no meu cabelo antes de partirmos em viagem—tinha ficado impecável—, mas eu devia ter imaginado que, quando chegássemos no Vice-Reino N, a aparência dela seria outra, afinal, era uma viagem longa. Eu não tinha mais tempo para fazer um outro penteado, o jeito seria deixá-lo solto. Portanto, comecei a desfazer a trança o mais rápido possível.

O meu cabelo era de uma belíssima cor negra azulada, com cachos soltos que até me faziam lembrar das ondas do mar durante à noite. Para mim, ele não era muito longo, já que só atingia alguns centímetros acima de meus cotovelos, mas eu estava satisfeito com ele. Exigiu muita resistência de minha parte deixá-lo crescer.

— Qual a programação para quando chegarmos lá?— perguntei, enquanto terminava de desfazer a trança.

— Seremos recebidos e, como é nosso primeiro dia de chegada, seremos levados até nossos aposentos. Então, teremos o dia livre para que possamos descansar. Somente iniciaremos as nossas atividades amanhã. — respondeu Simon.— Então, Visconde, devo lembrá-lo para não acabar saindo para qualquer lugar sem deixar, pelo menos, algum aviso antes... E pensar duas vezes... Na verdade, para que possamos nos familiarizar melhor com tudo aqui, peço que me informe toda vez que o senhor desejar sair de seus aposentos ou circular para fora do castelo, assim, lhe acompanharei.

Eu direcionei o meu olhar para ele.

— Acho que eu deveria ter uma coleira...— comentei, e ele riu.— Eu sou uma piada ambulante para você, não é?

O professor negou levemente com a cabeça.

— O senhor é divertido.— declarou.

Suspirei e soltei o cabelo, quando a carruagem parou. Olhei-me no espelho mais uma vez; felizmente, eu não estava com uma expressão cansada. Minha pele— de tom marrom profundo— parecia impecável; e eu havia escolhido uma vestimenta perfeita para marcar elegantemente a minha aparência naquele pré-inverno: trajes escuros, que tinham como única manifestação maior de cor os detalhes que enfeitavam o sobretudo com costuras em verde-jade sombrio, que combinava com a coloração esverdeada de meus olhos— herança de alguma linhagem da minha família.

— O que acha?— perguntei a Simon, indicando a minha aparência.

— Digno.— respondeu, sorrindo, e deu batidinhas em meu ombro.— Fique tranquilo.

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