Três grandes portões maciços para o acesso principal, todos localizados no muro que envolvia o território do castelo. Pelo que pude visualizar com o referencial do lado de dentro, guardas estavam em vigília constante nas passarelas em cima das barreiras, concentrados principalmente próximos aos portões e distribuídos em quarteto a cada ponto de sustentação do muro, de modo que um grupo ficava relativamente afastado do outro.

Percebi que havia um sino em cada posto dos quartetos e que todos os guardas possuíam uma trombeta curta acoplada ao cinto do uniforme. Eu sabia que eles tinham um código de comunicação sonora para casos de emergência; código esse que eu já me cobrava a aprender.

Além dos pontos de vigilância fixos, notei as rotas de patrulha. Sempre havia uma constância de soldados em movimento nas passarelas e na base do muro. Eles cobriam todo o perímetro e ainda caminhavam pelos jardins, pelas pequenas hortas, áreas de lazer e dentro do próprio castelo; apesar de, lá dentro, estarem em um número mais reduzido do que no lado de fora.

Onde mais os nobres se reuniam, mais a segurança real se mobilizava para servi-los. Ela estava ali para deixar a nobreza confortável, assim, tinha a permissão de atender seus pedidos, desde que não fossem contra as normas superiores— que não eram lá muito justas. Não consigo deixar de me estressar ao lembrar que, se qualquer pessoa da corte achar que um servo deve ser punido, ele será.

Resmunguei ao borrar o traço do desenho em meu caderno.

Pelo menos não foi um borrão significativo...

Ergui olhar para o meu foco de interesse atual.

A saída serviçal.

Além daquelas três passagens principais, havia aquela, bem nos fundos do castelo. Tratava-se apenas de um portão de barras metálicas e grades. Era muito mais estreito que os outros, e eu vi, durante toda a tarde em que estive observando, ele apenas ser usado para levar o lixo para fora. E o mais importante: a patrulha passava por lá a cada meia hora, e apenas quando era feito o descarte. Em outros momentos, aquela área ficava vazia e o portãozinho trancafiado.

Eles não temiam caso os servos tentassem fugir. Não teriam como ir muito longe com a guarda do lado de fora dos muros e, principalmente, com a marca em seus rostos. Os colonos do império os aprisionariam de novo.

Olhei para o meu esboço.

E pensar que, se todo mundo cuidasse da própria vida, eu poderia evitar esse trabalho todo e só atravessar as portas de entrada.

— Ah, Visconde! Estava aqui esse tempo todo?— escutei a voz de Simon e ri baixo. Eu estava achando estranho ele não ter vindo atrás de mim até agora, ou melhor, ele não ter me encontrado depois de eu estar me escondendo dele até esse momento.— Fiquei preocupado.

— Eu estava apenas desenhando.— respondi sorrindo e fechei o meu caderno, colocando o lápis no canto de seu interior.

Não era mentira, eu estava desenhando. Mas o que eu desenhava era, na verdade, a planta daquele lugar.

— O dia inteiro, Visconde?— questionou o professor, colocando uma das mãos na cintura, semicerrando os olhos.

Eu ri novamente.

— Sim e não. Estive conhecendo o castelo, lendo os livros que peguei na biblioteca na noite passada... E só.— levantei-me do banco de pedra escondido atrás de um arbusto.

— Pelos céus...— resmungou Simon, colocando a mão na testa.— Por sorte, ainda há algumas horas antes do Sol se pôr e podemos realizar algumas das atividades que o senhor tinha em seu cronograma. Por favor, não suma assim amanhã, Visconde.

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