III

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O céu já estava escuro, eu podia ver pela janela do meu aposento.

O quarto estava de frente para o jardim externo, que se estendia longinquamente até os muros do castelo. A chuva caía fina e os guardas se movimentavam em suas roupas brancas, como se fossem fantasmas borrados pelo véu da neblina. Os caminhos que eles percorriam ou eram iluminados pelos postes ou pelas lamparinas que eles mesmos seguravam. Eu não gostei de tentar imaginar o quão frio estava lá fora.

Eu estava sentada na escrivaninha, com a minha caixinha pessoal de jóias. A maioria eu peguei de minha irmã; eram tão lindas, sofisticadas e delicadas essas jóias das mulheres.

Era uma pena que eu não pudesse trazer muitos dos vestidos da Amber até aqui, ocupavam muito espaço na mala e eu tinha certeza que seria muito suspeito caso eu cometesse algum deslize em deixá-los escapar para todos verem.

Os brincos de esmeralda detalhados com ouro eram os meus favoritos; seus detalhes eram tão bem esculpidos e pequeninos. Eu também gostava dos de rubi; vermelho, verde e dourado eram minhas cores preferidas, mas nem sempre deveriam ser usadas juntas. Eu tenho essa consciência de estética.

Descansei os brincos no porta jóias. O máximo que eu podia fazer era admirá-los. Eu nem possuía furos em minhas orelhas, e seria um escândalo se eu tivesse. Os anéis de minha irmã também eram belos, mas seus dedos eram mais delicados que os meus, então eu não podia usá-los. Pelo menos, eu podia ter os meus próprios, era um sinal de nobreza.

Se a Amber descobrisse que eu havia pego um de seus colares favoritos, ela ameaçaria cortar meu cabelo, mas seria apenas uma brincadeira, ela sabe de meu apreço por coisas bonitas e isso não a incomoda. Ela é uma das poucas pessoas.

Se eu tivesse nascido como uma mulher de verdade, fazer parte disso seria mais simples...

Que ridículo.

Por essa noite, eu iria me contentar com um anel ou dois; fora o anel da casa Leulence, que eu sempre usava para "honrar" o meu título, como pedia meu pai.

Levantei-me da cadeira e fui até o espelho. Eu elaborei um penteado em meu cabelo que eu estava bem orgulhosa de ter feito. Duas tranças laterais, que se encontravam atrás de minha cabeça, deixando o resto dos fios soltos. Seria digno de uma princesa, de uma rainha. Essa combinação, com um vestido vermelho escuro de detalhes simples e elegantes, seria perfeita.

Porém, eu usava um traje de Visconde, de tecido caro e tons de cinza escuro com azul; era mais masculino do que eu desejava, apesar de meus alfaiates seguirem meus desejos de deixar os traços um pouco mais suaves. Eu gostava dessas roupas, mas era longe do que eu queria estar usando agora.

Escutei batidas na porta e arqueei as sobrancelhas, apressando-me a recolher os acessórios e a guardar o porta jóias na minha mala quase totalmente desfeita. Suspirei e ajeitei meu colete antes de girar a maçaneta.

Agora estou pronto.

— Olá novamente, professor.— falei, sorrindo sutilmente ao ver Simon.

— Boa noite, Visconde.— seus fios estavam penteados para trás, e ele usava um simples, mas requintado, traje de detalhes caramelo.— Conseguiu descansar bem?

— Satisfatoriamente.— saí do quarto e fechei a porta.— E o senhor? Esteve tão empolgado durante a viagem que não cochilou em nenhum momento.
Simon riu soprado.

— Novinho em folha.— respondeu e piscou.
Eu sorri. Ele tinha um espírito bom.

— Então, pronto para o jantar, suponho.— afirmei, começando a caminhar em direção às mesmas escadas que havíamos subido antes.

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