Minha distração por aquele servo havia durado pouco de qualquer maneira. Os vice-governantes e os seus filhos foram os primeiros a se dispersarem, sendo que o servo havia saído muito antes, devido a alguma ordem que Lillian proferiu com os lábios tortos. Eu não consegui nem mesmo interpretar o sentimento que aquele homem tinha ao receber as ordens da Vice-Rainha.

Ele sempre tem aquela expressão indiferente?

— É um alívio que seu quarto seja próximo ao meu.— falei a Amber quando chegamos na porta dos nossos aposentos.

— Me permite saber o porquê?— indagou ela, semicerrando os olhos.

— Estamos um perto do outro, não basta?— perguntei, sorrindo.

— Perto das minhas coisas, não é, Eva?

— Eu não disse isso.—defendi-me.— E eu acho que, assim, aqueles duques não irão incomodá-la vindo ao seu quarto e, se o fizesse, seriam bem deselegantes.— falei, com uma careta.

Ela arqueou as sobrancelhas, e Simon balançou o olhar entre ela e eu.

— O que há com os duques?...— questionou a minha irmã.

— Amber... Não viu como olham para você? É como se você fosse algum prêmio.— resmunguei.

— E eu não sou?— ela riu baixo.— Hum... Ter um duque como noivo não seria mal. Principalmente um duque relacionado ao Imperador e filho de vice-reis... O que acha, Simon?— perguntou, com um sorriso de divertimento.

Meu professor olhou para mim, e eu fiz uma expressão desgostosa.

— Não sei se devo dar palpite.— disse ele.

— Esqueça o Evander, opine!— insistiu.

Simon suspirou.

— Uma oportunidade como essa, se for do seu agrado, senhorita... Não acho uma má escolha.

— A opinião de um especialista em relações sociais nobiliárquicas é de peso.— disse ela, dando um leve toque na ponta do meu nariz.— Me diga a sua opinião.

A verdade era que eu também achava uma boa oportunidade, seria um sonho conseguir um bom homem com tamanho título. Seria uma sorte grande, sem falar que poderia ser vantajoso de várias maneiras, inclusive para meus interesses pessoais, mas... Ela era minha irmã, e eu temia os relacionamentos com pessoas da realeza; a nossa mãe sofreu por causa dessas pessoas, mas Amber não sabia. Quando a mamãe foi levada para aquele lugar, parou de falar abertamente sobre o que lhe ocorreu enquanto estava no palácio imperial.

— Se não forem absurdos com você...— condicionei.

— Perfeito, mas não estou pensando em relacionamentos por ora. Fico melhor como estou— disse com um sorriso, e eu não pude evitar retribuí-lo. Esse tipo de posicionamento que ela tomava me deixava orgulhoso.— Boa noite, senhores. Preciso descansar.

— Boa noite, senhorita.— disse Simon, sorrindo com gentileza para ela. Seu relacionamento com a minha irmã era tão familiar quanto comigo.

Ela acenou para nós e entrou em seu quarto.

— Boa noite, professor.— desejei, e ele semicerrou os olhos para mim.— O que foi?

— Sei que já estou velho, mas peço que não tire proveito do meu sono para sair e aprontar durante a noite.

Eu pus a mão no peito.

— Eu não acredito que tenha tais pensamentos a respeito de meu caráter... Acha que eu fugiria?— perguntei, arqueando uma das sobrancelhas.

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