Era espetacular.

Até mesmo eu— que não tinha visto muitos portos e docas na vida— podia perceber o quanto aquele reino foi naturalmente abençoado para a navegação. A baía era perfeita e as próprias rochas do continente estavam estruturadas de modo a guardarem as embarcações e formarem caminhos do mar até a terra. Era como se houvesse pontes de pedra; um cais natural. Nenhum tipo de engenharia humana havia sido necessária para tal.

— Simon, Simon, Simon...—repeti animadamente, até chamando a atenção dos marinheiros que passavam por nós enquanto caminhávamos pela calçada de pedras não muito uniformes.

— Pelos deuses, Visconde... O que foi?— perguntou o professor, arqueando as sobrancelhas.

— Isso é incrível! É tudo natural mesmo?

Ele riu pela minha empolgação.

— Sim, toda essa formação nos foi dada pela natureza.

— Incrível... —murmurei impressionado.

Grandes embarcações de todos os tipos estavam ancoradas no mar, que brilhava nos pontos em que os raios de sol conseguiam escapar das nuvens e da neblina; a maré estava baixa e quase não havia ondas, mas não vi aquela tal areia de cor preta que eu estava tão curioso em ver. Eu teria que esperar até que fôssemos à praia.

Mais à frente do nosso percurso, identifiquei a maior construção daquele porto.

— Aquela é a sede da Companhia de Navegação e Comércio deste reino?— perguntei ao Simon.

— Ela mesma.

— Ótimo, vamos adiantar logo o que temos que fazer. Esse lugar é bonito e tudo o mais, porém é muito mais frio do que no castelo.— apressei o passo, afundando as mãos nos bolsos de meu sobretudo.— Podíamos ter vindo no verão.

— Pense positivo, a maior parte da nobreza irá embora.— disse Simon, rindo de minhas reclamações.

— Ah, é?

— Este lugar fica muito frio, principalmente para os mais velhos.— explicou.— Antes de o castelo instalar o sistema de aquecimento, muitos ficavam doentes.

— Que bela estação essa que meu pai escolheu para me mandar para cá...— comentei.

Simon riu.

— Não seja rancoroso, Visconde.— respondeu o professor, limpando a sola dos sapatos no tapete antes de adentrar no saguão quentinho da companhia.

O sino da porta soou quando entramos. Aquele lugar ainda estava meio caidinho, o império não deveria estar se importando muito com a arquitetura desse lugar por ora, mas estava organizado pelo menos.

Devo dar um desconto por não ter cheiro de peixe como no porto do condado.

No balcão da recepção, um homem e uma mulher conversavam entre si, ambos usando roupas grossas e identificados com um pequeno broche no lado esquerdo do colete.

Um gramofone tocava uma música instrumental bastante conhecida entre os habitantes do império, tanto que eu murmurei alguns soares do violino e do cello. Uma moça jovem limpava o chão de madeira com um esfregão, não se importando com a nossa movimentação. Ela tinha a marca de dominação no rosto e estava descalça— geralmente, os dominados de senhores menos ricos não usavam sapatos.

— Boa tarde. Como posso ajudá-los?— começou o balconista.

— Boa tarde, senhor Faun.— cumprimentei, após ler o seu nome no broche.— Gostaríamos de nos encontrar com o administrador geral.

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