Capítulo 2

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Louise

Reino Oeste

Tarefell

A última noite havia sido mais perturbadora do que a maioria delas quando era obrigada a embarcar nas viagens marítimas de meu pai. Não fora apenas o simples medo em si de navegar ou o frio de congelar os dedos, mas aquela sensação de presságio maligno que parecia me seguir como uma segunda sombra onipresente, pairando ao meu redor, como pedras magnéticas que forçam seu outro pólo a um encontro inevitável de partes prontas para um encaixe, exercendo sua atração compulsória e dominadora. As poucas horas de sono foram preenchidas por uma sequência de pesadelos, em que meu corpo não era capaz de acordar, enquanto um ser de forma desconhecida me tocava e sussurrava coisas das quais já não quero me lembrar.

Apoiava minhas mãos no espelho de corpo em frente minha cama enquanto Irina puxou o espartilho com força, apertando os cadarços como se tivesse intenções ocultas de me matar sufocada.

Esmulsei uma careta devido a dor, sentindo a respiração tropeçar no meio do caminho.

-Você parece péssima. -Indicou Elizabeth ao baixar seus múltiplos papéis de carta, que havia recebido a respeito do progresso de saúde de nossa mãe.

Ela havia contraído Varicela no início do ciclo lunar e por isso fora ficar um tempo na casa de campo de nossa tia Amélia em Irigar. Ela estava sozinha, viúva a quase dez anos e por essa razão cuidaria de nossa mãe, para que não pegasse em suas filhas.

-Obrigado por notar. -Resmungo com uma dose extra de sarcasmo e um sorriso forçado.

-Isso não é apenas por navegar. -Lizzie constatou e um suspiro de frustração soou de seus lábios. Os fios de cabelo de um tom de loiro escuro que beirava o castanho, estavam arrumados em duas traças que começavam em suas têmporas e se encontravam atrás da cabeça. Cachos avelã caiam em cascata por cima dos ombros, escondendo o pouco do decote de seu vestido, que parecia florido e leve demais para o fim do outono. -É por causa do naufrágio? -Questionou me tornando a lembrar da cena horripilante que assistira aquela madrugada, com as dezenas de corpos sendo queimados em alto mar. Estremeço e fecho os olhos brevemente para tentar apagar tal lembrança e afastá-la de meus pensamentos. -Voltou a ter pesadelos? -Elizabeth insistiu na ausência de uma resposta.

Aceno em confirmação.

-Mas foi diferente desta vez. -Pausei ao sentir uma puxada ainda mais firme. Podia jurar que Irina se divertia com meu tormento.

-Em que sentindo? -Elizabeth franziu o cenho em direção ao meu reflexo.

-Desta vez a criatura não estava apenas me observando. -Engoli em seco na tentativa de desfazer o bolo que se formava em minha garganta. -Ela me tocava e mencionava todo o tipo de coisas profanas.-Uma expressão de ânsia tomou minhas feições, mas um risinho dedutivo surgiu nos lábios de minha irmã mais velha.

-Profanas?? -Ela repetiu a palavra de um jeito que dava a ela um significado interessante, ao invés de tenebroso.

-Íntimas. -Tento ser mais clara, mas Elizabeth havia entendido tudo muito bem na primeira vez, só não estava vendo com a importância correta.

-Eu sei o que quer dizer. -Ela apontou o nariz no ar. - A mim, parece que você apenas necessita de um companheiro. -Disparou repleta de sorrisos maldosos.

-Não é nada disso. -Respondi óbvia e um tanto irritada.

-Não se preocupe, assim que eu me casar com Corey, você poderá encontrar um bom partido. -Ela sacode as mãos enluvadas totalmente emergida na ideia. -Vamos achar um bom rapaz para você, quem sabe o Náufrago. -Agora parecia um tanto zombeteira.

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