Capítulo 6

8 2 0
                                    

Elizabeth

Reino Oeste
Ragnar

Algum tempo depois…

Eu não sei como aconteceu, quando tudo tinha simplesmente se desmanchado e se desfeito como fumaça. 

A vida costumava ser fácil, de modo ao qual eu não poderia me queixar. Nunca houve grandes problemas. 

Uma família abastada, uma casarão na área nobre no centro de Ragnar, com um lindo jardim verdejantes e lustres de cristal. Meu próprio quarto, uma cama com um refinado dossel importado da realeza de Meifell. Joias raras como esmeraldas, minhas favoritas, vestidos caros e o mais importante, minha família unida com saúde, um noivo ao qual amava, meu melhor amigo desde a infância, ou ao menos foi o que eu pensei. 

Não havia nada que me fizesse detestar a vida ao ponto de ânsia pela morte. 

Todos os obstáculos que surgiam eram fáceis de serem superados, pois eu sabia que nunca estaria desamparada. 

No entanto, agora tudo o que restou foi essa dor sufocante no peito. Essa agonia que me consome em eterna aflição me faz ansiar pelo fim. 

É minha culpa. 

As lágrimas voltam aos meus olhos. A essa altura minha cabeça dói e meu corpo é só um resquício da pessoa que ele abriga. Sinto minhas costelas pressionarem os pulmões e respirar é quase como um castigo. 

Aquela última noite parecia ter sido apenas um longo pesadelo. 

Não aparentava ser real. 

Não podia ser. 

Meu pai havia regressado completamente solitário da ponte. Ele fora içado para longe após tentar perfurar a grande parede mágica que impedia a travessia de um lado para o outro. 

Seu corpo se chocou contra a areia em um estrondo de causar arrepios, uma ferida foi aberta em seu supercílio e a mão esquerda fora completamente quebrada, virada para seu interior de uma maneira humanamente impossível, ao não ser que estivesse desprovido de ossos, o que não era o caso. Os gritos de desespero de minha mãe, minhas perguntas sem resposta, preencheram o ambiente à nossa volta em um gargarejar furioso. 

O abstrato tomou forma, meu corpo recuou inerte diante a devolutiva inevitável. 

Louise se foi. 

Minha irmã, minha outra metade. 

Choro confusa. 

Minha melhor amiga, meu amor. Eu a perdi e foi tudo por culpa minha. 

O mais estranho e difícil foi o retorno a nossa casa, pois não consigo me lembrar como o havíamos feito. O regresso naquela noite parecia um grande borrão de uma dor incomensurável que me tornava uma grande massa vazia. Contudo, ao retornamos a mansão, a cena que transcorria à nossa frente era impossível de ser ignorada. Membros do exército Angélico destruíram nossa residência, avançavam aos montes revirando tudo, colocando a baixo móveis, livros, lousas e gavetas. 

Havia destroços e vidro quebrado por todo canto. Cada soldado odioso da fé revistava nossa casa com afinco e sangue nos olhos, verificando cada canto, cada peça de roupa e assoalho, a procura de qualquer documento, objeto ou detalhe que nos denunciasse e provasse nossa heresia. 

Os gritos histéricos de protesto de minha mãe foram ouvidos pela casa, quando um soldado de quase dois metros de altura e cicatriz no olho direito, arrastou Penne com ele. Ele segurava a menina pelo tecido do vestido na altura do ombro esquerdo e a transportava como um saco de farinha inútil. 

A Coroa do LesteOnde histórias criam vida. Descubra agora