Capítulo 5

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Louise

Reino Leste
Estrelaris

A luz do sol forte me cegou temporariamente. O calor fervia a pele desnuda, enquanto a cabeça latejava em uma dor pulsante. Levei a mão ao rosto tentando cobrir a claridade que irritava meus olhos e me impedia de ver com clareza. Rolei na areia fina antes de os respingos da maresia me acertarem. Algo se aproximou, dando uma longa cheirada em meu rosto. Uma gosma grossa transparente semelhante à saliva caiu sobre minha bochecha. 

Havia demorado um longo tempo para identificar a pequena criatura de carapaça dura e brilhante como de um lagarto, mas que tão pouco poderia ser comparado ao ser pequeno e inofensivo. 

Ele expôs a língua pontuda para me lamber. Um grito escapuliu da minha garganta. Foi o suficiente para me fazer recobrar a consciência. Eu havia me levantado e girado na direção oposta atenta a seus próximos movimentos, no entanto a criatura parecia com ainda mais medo de mim. Ele se encolheu ao se enroscar no longo rabo de escamas com um brilho esverdeado, como de esmeraldas e era quase possível que eu tivesse ouvido seu choro. Um murmúrio baixo e sentimental, carregado de temor. 

Um dragão, eu devia ter enlouquecido por completo, pois podia jurar que aquela criatura era como a miniatura de um dragão. Um tipo de ser, que atualmente existe apenas nos contos antigos que os pais contam para assombrar crianças. Um ser em extinção, que fora destruído a séculos por antepassados menos desenvolvidos. 

-Não tenha medo, ela é inofensiva. -Uma voz desconhecida disparou do meu lado esquerdo, me forçando a virar o dorso. 

-Quem é você? -Dei alguns passos para trás me dando conta que segurava entre meus dedos uma concha pontiaguda que facilmente poderia ser usada como uma arma de pouco alcance. 

-Tudo bem, não vamos machucá-la. -Ele parecia se referir a si mesmo e ao dragão, que voltou a se aproximar com curiosidade me obrigando a assumir uma postura defensiva.  

Joelhos firmes, pé dominante em apoio, proteja os olhos e órgãos vitais. Como meu tio havia me ensinado. 

Um dragão não é o mesmo que um homem e uma concha não chega nem perto de ter a mesma potência que uma adaga, contudo eu não desistiria sem resistir. 

-Por favor, não a machuque. -O homem pediu. Uma criatura de olhos afiados. -Esta é Eclipse, ela ainda é uma bebê. -Ele sorriu na direção do animal de escamas. -Curiosa e enxerida, mas ainda inofensiva. -Eu prestei bem atenção quando ele disse "ainda", o que provavelmente queria dizer que um dia ela não seria apenas uma criaturinha enxerida. -Por que não me deixa ajudar? -Um de seus pés foi a frente, enquanto seus olhos permaneceram focados no pedaço de concha quebrada. -Você parece que está ferida, me deixe ajudar. -Ele reforçou, chamando minha atenção a realidade. 

É quando um abismo se abre em minha mente e um flash de tudo transcorre por trás dos meus olhos. 

-Onde estou? -Indago completamente perdida. 

Eu havia sido puxada contra a minha vontade, como se um furacão tivesse atingido meu corpo e me lançado a um mundo surreal e bizarro. 

-Você não sabe onde está? -O homem franziu o cenho desconfiado. -Olhe para o céu. -Ele disse como se fosse óbvio. 

O azul celeste inundava a grande lona acima de nossas cabeças, uma cor tão vibrante que nem mesmo parecia real, mas isso não era o mais incomum. No topo o sol começava a se pôr e três luas cresciam se tornando visíveis a plenos olhos. Uma crescente a leste, uma cheia no centro e outra nova, semi escondida entre nuvens a oeste. 

-Isso é impossível. -Digo convicta. 

Não há um sequer reino do oeste que transpareça tal visão fora de equilíbrio do céu. Da última vez que verifiquei, havia apenas uma lua e um sol, como todos os dias. 

A Coroa do LesteOnde histórias criam vida. Descubra agora