Capítulo 7

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Louise

Reino leste
Estrelaris

Muitas semanas tinham se passado sem que eu tivesse a mínima chance de retornar ao meu lar em Ragnar.

Todas as vezes que tentava descobrir mais sobre a barreira, ou uma forma de atravessá-la novamente, todas as respostas eram iguais.

"Você não pode"

"Nada que entra sai, nada que sai entra"

A única chance era estar desesperado o suficiente e rezar para que as almas dos condenados atendessem meu pedido. O que segundo Taryn, não aconteceria se a pessoa já tivesse sido abençoada pela ponte, ao menos uma vez. Aparentemente, eu estava sem saída e presa em Liares.

No entanto, me sinto extremamente grata. Se não tivesse encontrado o senhor Han naquele momento da minha vida, provavelmente estaria ainda mais deslocada e quem sabe o que poderia ter acontecido de fato comigo.

O senhor e sua esposa me acolheram, era justo que eu trabalhasse na estalagem para pagar a comida e o quarto quente. Ainda que Ananda fosse bastante barulhenta e um tanto bagunceira, não era das piores companhias e eu já havia me acostumado com seu jeito mais extrovertido e hiperativo.

O sol se inclinou no céu na posição exata que indicava o meio do dia, o momento da minha pausa. As mesas da estalagem estavam cheias e parecia haver uma grande movimentação na cidade naquela manhã em especial. Na maior parte do tempo o salão da hospedaria ficava cheio após a hora do jantar, quando os trabalhadores da cidade, paravam para tomar alguma bebida quente e papear, as mães que não tinham feito a janta traziam seus filhos para comer o delicioso e famoso caldo de cervo da senhora Martin e provar os incríveis bolinhos açucarados da padaria ao lado, um combo perfeito. Contudo, no início deste dia as ruas de Liares estavam movimentadas, com um número considerável de soldados, trajando o vermelho, preto e dourado, o que eu descobri ser as cores do reino. Homens de todos os tamanhos e alturas enchiam o salão de refeição da hospedagem, todos com apetite de lobos.

-Estou saindo, Taryn. -Passo por ela na cozinha, ao tirar o avental branco do meu corpo. -Acha que consegue dar conta de tudo? -Questiono, por via das dúvidas, havia uma quantidade generosa de homens famintos do outro lado da porta.

-Não se preocupe, eu, Ananda e Will, damos conta. -Ela piscou em incentivo. -Agora vá, antes que Marie surja e a impeça.- Ela me dá um leve empurrãozinho, usando seu quadril.

Eu passo pelas portas dos fundos em direção ao depósito, contorno as milhares de prateleiras recheadas de grãos e bebidas, saio pela lateral em direção a luz do dia e caminho pela rua externa até a praça.

Taryn era a cozinheira da pousada Han e Martin, além de ser irmã mais nova de Marie, a esposa do senhor Han, a senhora Martin. Que ao contrário da irmã, é bastante brincalhona e descontraída. Ela me contou, que perdera o marido e filho, que ambos pertenciam ao exército real, assim como o senhor Han, contudo, não entrou em detalhes em como os tinha perdido e nem os motivos que levaram o dono da pousada a escolher deixar a guarda do Rei.

Começo a ver a incrível grama verdejante e os novos brotos de rosa que começaram a desabrochar na linda praça das flores. Subo na calçada para desviar de um grupo de soldados, que conversa ativamente em frente ao ferreiro.

O senhor Manson acena para mim com um sorriso ao me ver e seu filho Carter derruba todas as ferramentas que carregava em uma caixa de tamanho médio, ao encontrar meus olhos. Ele ganha um tapa na altura do pescoço, de seu pai, que parece o chamar de bocó e o força a catar tudo do chão.

Carter se abaixa, começa a tatear peça por peça, mas seus olhos se mantêm focados em mim, ele acena em um gesto de cabeça e eu o respondo com um sorriso breve. É um homem de estatura média, com seus cabelos castanhos, olhos amendoados e boca pequena, mas que me deixava um pouco desconfortável, por não conseguir esconder seu ligeiro interesse em mim.

A Coroa do LesteOnde histórias criam vida. Descubra agora