Atitude

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O ônibus a deixou perto do centro de Exeter. Em vez de ir para a catedral, como fazia antes, se dirigiu para uma lanchonete onde o pessoal jovem costumava se reunir.

Camila já tinha tomado duas xícaras de café, sem encontrar ninguém conhecido. Devia ter se lembrado de que a essa hora todos estavam trabalhando. Estava quase saindo quando uma moça, que conhecia ligeiramente, passou pela porta e entrou.

Normani Kordei logo a reconheceu e veio na sua direção.

- Não está trabalhando, Camila?

- Estou de licença, por causa do acidente.

- É verdade. Sinto muito por seus pais. Está melhor agora?

- Bem melhor, obrigada. E você, está trabalhando, Normani?

- Estou procurando emprego.

- É horrível não ter nada para fazer, não é?

- Depende do que se faz no tempo livre. Não posso dizer que fico à toa. Sempre faço alguma coisa, em algum lugar. Há gente muito animada por aqui. É só saber procurar.

Camila não tinha muita intimidade com Normani, mas como a moça parecia saber onde se vivia intensamente, não queria mais perdê-la de vista.

- Onde é que se acha... essa vida, esse movimento que você falou, Normani?

- Está querendo agitar sua vida? - Normani parecia espantada; conhecia as idéias antiquadas de Camila.

- Muito, mas não sei por onde começar.

- Bem. Não tenho programa nenhum para hoje à noite, mas venha para a cidade às oito horas e poderemos ir a um barzinho, onde trataremos de arranjar o que fazer... e com quem! - Normani deu uma gargalhada gostosa.

Em casa, enquanto se arrumava para sair, Camila se perguntava como seria o tal barzinho. Nunca tinha ido a um e estava curiosa.

No centro da cidade, procurou o hotel cujo nome Normani havia dado. Era uma nova experiência entrar num lugar desses. O salão já estava ficando cheio e não via sinal de Normani. Havia um banco vazio no balcão do bar e foi para lá.

O garçom a olhava com curiosidade e Camila se sentiu sem graça.

- Um uísque por favor - pediu, sabendo que odiava a bebida.

- Com água?

- Não, só com gelo. - Pensou em sentar no banco mas notou que ele não tinha encosto e ia ficar com a coluna desprotegida. Mas não se importava. Tinha tomado um comprimido contra dor, e se ela voltasse, tomaria outro, tentou sentar mas não conseguiu se ajeitar, o banco era bastante alto.

- Precisa de ajuda? - Uma voz quente e gostosa se fez ouvir bem perto.

Camila virou-se e viu uma mulher exuberante, cabelos escuros que chegavam até a sua cintura, pele branca, boca desenhada de forma perfeita e olhos verdes, MEU DEUS parecem duas esmeraldas. Ela se aproximou e com a maior sem-cerimônia levantou-a pela cintura e a pôs sentada no banquinho.

- Obrigada.

O garçom trouxe o uísque que ela tinha pedido e o mulher sem nome ainda, voltou sua atenção para o copo que tinha à sua frente. Camila deu um gole, achando a bebida horrível, mas resolveu tomar. Tinha tomado remédios muito piores no hospital e não ia desistir por causa de um gosto ruim.

Onde estava Normani? Já deveria ter chegado. Não gostava de ficar ali sozinha, tinha a impressão de que todos a estavam olhando. Concentrou-se na bebida.

O velho sentimento de pânico começou a tomar conta dela outra vez. Precisava falar com alguém. Olhou para a mulher sentada a seu lado e resolveu puxar conversa. Já que ela a tinha ajudado a subir no banco não era mais desconhecida. A mulher tinha os olhos baixos e um aspecto sombrio, como se estivesse preocupada ou aborrecida, como alguém em sã consciência escondias aqueles olhos maravilhosos. Mesmo que estivesse, o problema dela não podia ser maior que o dela, que ia morrer tão cedo. Falaria com ela.

Só por uma noite (Camren) - EM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora