O sentido de ter existido, desde o primeiro respirar, sempre foi em vão. O sentido nascia desde o primeiro ar a ser tragado e partia quando o mesmo ar era posto para fora.
"Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida. No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado." [Pertencer, de Clarice Lispector.]
A pobreza de espírito que jaz é-me tanta, que não me há sentido em meu vazio. Todo o sentido está preso a simples memória de uma existência tão fraca.
Lembro-me pouco de ter existido.
A existência miserável, fugindo de todas as pregações existencialistas possíveis, é aquela que existe apenas por existir. Existe sem construir uma visão de mundo apanhada em ideologia, teoria empírica, teoria e práxis e termos conceituais e intelectuais por diante... que mal me adequo e lanço-os.
Uma existência miserável é carregada de um agnosticismo idealista puro, tragado desde berço sem ser questionado. Devorado à mala conforme os passos lhe dão carona.
— Carlota, pega o berço e viaja!
— Carlota, nasça de novo e pereça!
— Carlota, viva a desgraça e aqueça!
Carlota, a centralidade deste universo que rodeia entre eu e você.
Ode à Carlota — Prece da Obra.
Está declarado! A personagem central é Carlota!
Tu que és Carlota, és bem-vinda nesta historieta.
Tu que és promíscua, dissimulada, oblíqua, subjugada.
Tu que és Carlota, és bem-vinda.
Adentre em meu coração,
Toque-o desde então,
Em formato de funil,
Tão servil, inútil ao servilismo.
Toca-te o beiço, quente
Da estória que há de prosseguir!
Acalme seu coração,
Que histórias tristes irão te seguir.
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Nota da autora: Apesar de todos os parágrafos caminharem de forma desconexa, não estou sob efeito de psicotrópicos.
Nota da autora: Ode à Carlota foi estruturada inicialmente em alemão, por conta da tradução literal em português, pode-se ter perdido algum sentido. Claramente, estou mentindo sobre essa nota.