Já era tarde da noite e Molly não conseguia pregar os olhos. O quarto parecia mais escuro que o habitual e Scott resolvera não dormir com ela naquela noite. A areia carregada pelo vento parecia arranhar a janela criando ruídos mínimos, mas que agora pareciam perturbadores.
Levantou-se no intuito de abri-la para o terrível ruído parar. Arrastou uma cadeira de madeira gasta que ficava em frente à penteadeira até embaixo da janela e subiu com certa agilidade para sua estatura. Empurrou as bandas da janela com algum esforço devido à tempestade de areia que ocorria do lado de fora.
Botou a cabeça para fora e sentiu a sensação de ter os cabelos arremessados para trás com o vento e grãos de areia arranhando seu rosto branco levemente moreno abaixo dos olhos, escondendo um pouco as poucas sardas que tinha naquela região.
Encolheu-se de volta para o quarto ao ouvir um baque vindo do lado de fora. Algo pousou no parapeito da janela e Molly caiu para trás com a cadeira. O impacto de suas costas no encosto da cadeira a fez perder o fôlego e soltar um gritinho de surpresa. Logo depois sentiu dor onde batera.
Perambulou com os olhos até encontrar-se com um par de luzes douradas que se destacava em meio à escuridão do quarto. Sentou-se resmungando pelas costas doloridas e arregalou os olhos ao ver a figura que estava agora de pé na sua frente.
Recuou de costas quando o estranho dos olhos exóticos tentou tocar-lhe e murmurou com o coração acelerado.
–Quem é você?
Escutou passos do outro lado da porta, provavelmente alguém tinha ouvido o estrondo causado pela queda da cadeira, ou talvez o grito, e fora conferir o que era.
O estranho, que parecia ter no máximo vinte anos, agachou bem próximo a ela e esperou para ver se ela recuaria novamente. Não o fazendo, ele esticou a mão tirou uma mecha de frente dos olhos dela, os dedos estavam frios como a noite lá fora e era possível sentir a pulsação nas pontas de seus dedos.
–Molly, aconteceu alguma coisa? – ouviu a voz de Tyler vindo de trás da porta.
Ela queria gritar para que ele fosse embora, algo no olhar daquele estranho dizia que ele não viera no intuito apenas de visitá-la novamente.
–Você não precisa me perdoar por isso. – sussurrou antes de levantar-se e ir em direção a porta.
Molly desejou ser mais rápida que ele, mas parecia que estava mergulhada em areia movediça e todos os seus movimentos pareciam estar sendo retardados por ela.
Vislumbrou o olhar de surpresa de Tyler ao ver aquele estranho saindo do quarto de Molly e logo depois enfiando as garras em seu estômago. Sangue escorreu como água sobre a mão do homem manchando-a de vermelho escuro até o pulso. O olhar dele era ilegível, diferente da expressão de surpresa que parecia ter sido concretizada no rosto de Tyler, o último olhar que Molly veria, antes de ser lançado por cima da amurada do corredor e cair com um baque surdo no salão principal.
Antes que conseguisse reagir ou gritar o estranho já havia desaparecido do corredor. Quando finalmente recuperou-se de seu transe, correu até a amurada e olhou para baixo contendo o grito de pavor ao ver Tyler inconsciente sobre uma poça de seu próprio sangue. Outros lobos do bando já se aproximavam sem saber o que tinha acontecido.
Mas antes que alguém pudesse abordá-la, ela já estava correndo para fora. Em sua mente, só havia um objetivo: ver se ele não havia ido atrás de Scott.
E querendo ou não, sabia exatamente a resposta.
- x -
–Você gostava mesmo desse tal Scott – um sorriso entretido surgiu em sua face.
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Blood Moon - O Coiote e a Dama do deserto
SonstigesMolly está perdida. Há meses vagando como uma peregrina, procurando algo e nada, até ela se encontrar com um misterioso lobo, líder da cidade. Trazendo lembranças de um passado que agora lhe parecia tão distante, lembranças de coisas que ela quer m...