Em quem confiar?

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O rosto de Molly se contorcia em expressões de tristeza, raiva e surpresa em uma careta estranha. Não sabia o que sentir, nem o que falar tudo o que estava prestes a gritar pareceu se esconder em sua garganta, deixando-a entalada.

-Molly... - Scott tentou se aproximar com os braços abertos como quem se rendia.

Mas a menina recuou tão bruscamente que tropeçou nos próprios pés e quase caiu. Seu olhar alternando-se entre os dois rapidamente, esperando para ver qual seria o primeiro a matá-la.

-Molly - tentou novamente - Eu posso explicar a você... E-eu não sabia...

Ela tampou os ouvidos com as mãos e apertou os olhos balançando a cabeça, como se a voz dele a incomodasse. Suas pernas davam instintivos passos para longe deles.

-Por quê? - indagou sem som encarando Scott e depois simplesmente fugiu dos dois.

-x-

-Estou achando essa história cada vez mais interessante - comentou o homem me encarando com curiosidade e logo depois se endireitou na cadeira.

O comentário, por algum motivo, me incomodou e eu estava prestes a argumentar algo grosseiro quando ele se levantou num salto e correu para a beirada da laje.

-O que foi? - me aproximei lentamente.

-Espere aqui. - murmurou

Ele me olhou rapidamente, os olhos escuros ficando mais claros e amarelados, e depois saltou sem nenhum medo de quebrar algum osso. O baque de algo batendo no chão foi maior do que se ele tivesse apenas caído em pé.

Observei lá de cima que havia um corpo de baixo de seus pés e eles pareciam estar discutindo em tom baixo. Alguns rosnados pareciam escapar dos lábios do corpo estirado no chão. Quando comecei a pensar na possibilidade de descer, o homem pegou o corpo que estava embaixo de seus pés, revelando pelo seu tamanho e forma de que era um garoto de seus dezessete anos, e prendeu-o pelo pescoço na parede.

A falta de claridade no beco em que estavam dificultava a visão de seus rostos. Desci aos poucos pela escada de emergência, eu não sou a pessoa mais obediente que existe, para tentar pelo menos ouvir o que estavam discutindo tão baixo.

O que acabou resultando na minha queda nos últimos degraus quando consegui enxergar seus rostos por um ângulo mais perto. Os dois viraram-se para mim simultaneamente e os olhos do garoto se arregalaram de surpresa, assim como os meus estavam.

Só então vi o motivo do porque estarem discutindo, o garoto estava sujo de sangue, como se tivesse acabado de matar algo com as próprias mãos.

-Depois eu cuido de você - finalmente soltou o garoto, que não parava de me encarar.

-Você devia estar morta - ele engoliu em seco -Eu juro que não foi culpa minha, eu não sabia, eles nunca me contaram nada daquilo... Sinto muito. - e correu para algum outro beco.

- O que diabos foi aquilo? - pronunciou o homem depois do silêncio durante todo o caminho até sua casa.

Depois do que acabara de testemunhar ele achou melhor irmos para um lugar privado, onde não seríamos interrompidos por aparições estranhas.

- Vou chegar nessa parte ainda. - disse entrando na casa, que na verdade era um apartamento no décimo andar.

Ele indicou um sofá de couro escuro para eu sentar, envolvia-me com meus braços, desde que o garoto fora embora eu passara a sentir frio, e não era por causa do tempo.

-Acho que a partir de agora não precisaremos mais mudar de lugar. - falou enquanto vinha da cozinha trazendo uma bebida quente para nós, a qual aceitei de bom grado.

O apartamento era pequeno, porém aconchegante e moderno, tirando algumas quinquilharias que usava para enfeitar o lugar e cheirava a produtos de limpeza, provavelmente fora limpo há pouco tempo.

-Então, Molly. - sentou-se em um sofá para apenas uma pessoa. - O que fez depois de sua descoberta?Para onde fugiu?

-Para o nada.

-x-

Ela afastou-se o mais rápido que conseguiu com suas curtas pernas. Sua visão estava embaçada com as lágrimas que se acumulavam e apenas parou quando percebeu que estava perdida em meio às dunas.

Encolheu-se no chão, pouco se importando com a areia que se prendia em seus cachos e foi embalada pela brisa que passava até pegar no sono.

Acordou com um par de olhos brilhantes encarando-a, ao longe o sol se empunhava novamente e refletia os raios ainda a mostra nos pelos do lobo que estava sentado na sua frente.

-Vá embora! - gritou jogando um punhado de areia em seu focinho.

O lobo recuou para longe da areia e, após alguns instantes, no lugar dele apareceu Lawrence, usando roupas gastas.

-Sinto muito pelo que fiz, não teria feito isso se soubesse que eles eram realmente importantes para você.

Molly estava prestes a pegar mais areia, mas foi detida pelas por uma de suas mãos.

-Aquilo que você falou... Era verdade? - disse hesitante.

Ele assentiu com pesar.

-Porque você acha que as pessoas os deixaram morar aqui, sendo que isso só atrai mais coiotes para a região? Primeiro eles ameaçaram e depois mataram. Eu poderia fazer o mesmo com você, você deve ser muito importante para ele te manter viva.

Tirou a areia acumulada de suas roupas e pôs-se a andar. Apesar do perigo de ficar próxima a ele, ela parecia cada vez mais interessada no homem de olhos estranhos.

-E porque não faz isso, então? - ela deu uma corridinha até ele.

Um sorriso de divertimento apareceu em sua face, demorando-se a responder para atiçar a curiosidade da pequena.

-Posso até ser tachado de assassino, mas não mato alguém sem nenhum motivo aparente. - e voltou a ficar e silêncio.

-Mas continua sendo errado. - murmurou para si mesma - Então porque os matou? - disse aumentando o tom de voz.

Ele olhou rapidamente para ela e depois para o chão.

-Não foram só seus pais a quem eles mataram. E também foi por causa deles que me tornei isto, eles criaram o seu próprio assassino.

Blood Moon - O Coiote e a Dama do desertoOnde histórias criam vida. Descubra agora