Os raios do sol agora entravam pela janela, aquecendo meu corpo ainda frio da noite, porém o homem logo levantou e fechou as cortinas vinho, impedindo a luz de entrar e apenas uma fraca claridade iluminar a sala.
–Depois disso os anos meio que passaram depressa e eu passei a viver quase como uma humana normal, Chloe se tornou como uma mãe para mim, não como Emily era, ela tinha uma experiência maior que aprendera com a sua outra filha adotada e diferente de Isabele - ela revelou-me o nome de sua outra filha com o tempo - eu não me afastei dela, na verdade eu fiquei cada vez mais próxima.
Eu ainda preferia evitar Luigi na maior parte do tempo, mas eu cheguei a trocar breves palavras com ele, em sua maioria recados de Chloe para que ele realizasse algum tipo de tarefa ou compromisso. Ele não parecia ser de todo ruim, mas algo nele me fazia sentir-me repelida por ele.
Já minha relação com Lawrence estava se tornando cada vez mais imprevisível, às vezes ele era extremamente atencioso, me dava aulas de matérias básicas de matemática, escrita e até mesmo um pouco de geografia, minha curiosidade era tamanha que eu parecia devorar cada informação que ele passava. Se não fosse por ele eu não teria tido nenhuma base de conhecimento que tenho hoje, afinal eu nunca cheguei a frequentar uma escola. Entretanto às vezes ele meio que se transformava, nos dois sentidos até. Chloe botava-o para fora de casa nesses períodos e ele ia sem reclamar. Os três chegavam a discutir e em algumas vezes eu cheguei a ouvir algo se quebrando do meu quarto e nem sempre eram os vasos...
–E o que o incomodava afinal? - ele parecia extremamente focado na história agora, como se pressentisse algo de extremo interesse chegando.
Eu hesitei durante um instante antes de responder.
–Ele não chegou a me dizer.
“Eu descobri tudo sozinha” – completei mentalmente.
-x-
Já fazia uma semana que Lawrence voltara para casa depois de mais um de seus surtos e Molly estava se segurando para perguntar o que estava acontecendo, porém duas coisas a impediam: o clima não muito agradável na sala onde estava com Chloe, que enviava olhares a ela de minuto em minuto, Luigi e Lawrence; e por ser seu aniversário de dez anos.
Todos , claro, tentavam disfarçar mantendo uma conversa com alguma questão fútil como tema. Mas assim que a campainha indicou a chegada do primeiro convidado, o assunto logo se encerrou.
Molly nunca fora tão paparicada como naquele dia, diversos rostos desconhecidos e alguns outros a qual se lembrava de já terem sido apresentados por Chloe desejaram feliz aniversário a ela e a presentearam com diversos presentes enquanto Molly só agradecia e sorria educadamente quando alguém lhe apertava as bochechas ou elogiavam o quanto havia crescido e estava se tornando uma linda moça.
Apesar de não ser uma fã por festas ou grandes eventos, diferente de Chloe que parecia ter costume e tradição nesses tipos de eventos, ela estava feliz por pelo menos acreditar que aquilo fosse melhorar um pouco o clima da mansão, que ultimamente estava tão tenso.
Sorriu quando avistou Lawrence em um canto bebendo algo e estava prestes a correr até ele, entretanto ele não estava mais em seu campo de visão. Olhou em volta procurando por ele em meio aos convidados.
–Molly, venha cá. – Chloe a chamou de um sofá em que estava sentada ao lado de uma mulher. –Esta é Marie e ela vai ter uma filha daqui alguns dias, porém ela ainda está em dúvida sobre qual nome irá dar a sua filha, você tem alguma sugestão para nós?
Molly piscou surpresa com a pergunta e olhou para a mulher que apoiava uma das mãos em sua volumosa barriga, algo no rosto dela a lembrou de Emily.
“-Quem escolheu meu nome”? - perguntou uma vez para Emily enquanto ela lavava algumas peças de roupa, fazia pouco tempo que aprendera a falar e durante aquela semana ela fez tantas perguntas quanto Emily pode respondê-las.
–Seus pais, ora. – ela deu uma risadinha – Até por que se fosse eu a escolher, seu nome seria Cassie.”
–Cassie – sua resposta foi direta e um grande sorriso de expectativa abriu-se em seu rosto.
–Belo nome – murmurou Marie alisando a barriga. –Vai ser Cassie.
Molly sorriu e Chloe deu uma piscadela para ela.
–Sabe onde Lawrence está? – lembrou-se de perguntar, mas sem conseguir tirar o sorriso do rosto.
–Ele deva estar lá fora, querida.
Assentiu e foi para fora quase que saltitando, por mais estranho que parecesse, escolher o nome da filha de Marie até agora havia sido o melhor presente.
Quando abriu a porta assustou-se com o barulho do trovão que acabara de cortar o céu, não percebera que estava chovendo até sair. Ficou próxima ao batente da porta e deu uma olhada por todo o jardim, nada de Lawrence, talvez ainda estivesse em algum lugar lá dentro.
Virou-se para entrar e outro trovão revelou uma figura postada atrás de um dos postes da rua, o corpo encostado na parede de um beco.
Deveria ter se virado e entrado em casa, deveria ter esquecido o que vira e ir procurar Lawrence, mas em vez disso andou até o portão para ver quem estaria ali no meio daquela chuva.
Seu sorriso novamente se abriu e ela abriu o portão sem pestanejar. A figura moveu-se e ficou ereta, andou alguns passos até a luz do poste revelar seu rosto riscado por uma cicatriz em diagonal.
-x-
–Vou ter que sair um pouco. – suspirou olhando para o relógio de parede. – Quer vir comigo ou acha que consegue se virar sozinha aqui?
Analisei o apartamento, eu realmente não queria passar o dia presa em um cubículo e nem correr o risco de andar sozinha pela cidade, pelo menos não enquanto não conhecesse o lugar direito, além de que uma companhia estava me fazendo bem depois desse tempo todo sozinha.
–Eu vou com você – levantei-me e ele concordou.
–Então vá se arrumar, saímos em meia hora. Você pode usar o banheiro no final do corredor e pegar algo do quarto da esquerda para usar. – ele apontou para os locais enquanto falava.
Ele já estava quase sumindo pelo corredor quando tomei outra decisão.
–Posso fazer uma ligação?
Ele ergueu uma sobrancelha curioso, mas acabou apenas dando de ombros.
–Claro, mas esteja pronta.
Peguei o telefone apoiado em uma mesinha e disquei o número antes que eu mudasse de ideia.
–Alô? – uma voz feminina soou do outro lado da linha.
Meu coração bateu descompassado ao ouvir aquela voz e seguiu-se um silêncio, eu não sabia mais o que iria falar.
–Molly? – arriscou.
Eu continuava imóvel e muda.
–Molly é você? – insistiu.
Bati o telefone tão rápido quanto o peguei.
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Blood Moon - O Coiote e a Dama do deserto
CasualeMolly está perdida. Há meses vagando como uma peregrina, procurando algo e nada, até ela se encontrar com um misterioso lobo, líder da cidade. Trazendo lembranças de um passado que agora lhe parecia tão distante, lembranças de coisas que ela quer m...