Capítulo 7

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Nos separamos, quando respirar foi preciso, eu não esperava aquele beijo, mas confesso que gostei. Meus lábios ainda formigavam, a sensação gostosa dos lábios dele nos meus.

Bil não estava mais ali, presumi que foi embora depois que viu nosso beijo.

Rodolffo e eu continuamos abraçados, dançando um forró, agora mais lento. Não pude deixar de reparar nele enquanto dançávamos, meus olhos percorriam seu rosto, numa tentativa de entender o que se passava em sua cabeça, me perguntava se aquele beijo tinha algo a mais, ou se ele era realmente muito bom no que faz.

Ele percebeu que eu o olhava, e deu um leve sorriso de lado.

- Vocês mulheres, são custosas demais. – disse próximo ao meu ouvido, devido a música alta. – Sempre querendo saber sobre os nossos sentimentos.

- Não me julgue por ser curiosa. – respondi sorrindo divertida.

- Não acha mais fácil me perguntar, do que ficar tentando me decifrar? – ele olhou nos meus olhos aguardando minha resposta.

- Qual graça teria nisso? – respondi simplesmente e ele bufou rolando os olhos.

- Você quer saber se com você é diferente? – me perguntou com a sobrancelha arqueada, eu fiquei séria olhando para ele.

Ele apertou minha cintura, colando mais nossos corpos, senti sua barba roçar meu pescoço, o contato me fazendo arrepiar. Então ele sussurrou no meu ouvido. – Você é igual a todas as outras, apenas tentando dar uma de difícil.

Senti meu rosto se contorcer, tamanha a minha insatisfação, os meus olhos ardiam e eu senti tanta raiva, que me afastei. Estávamos ali parados, frente a frente, olhando um para a cara do outro, completamente destoados dos outros casais, que dançavam apaixonadamente.

- Igual a todas as outras. – meus olhos estavam inebriados pela raiva. – E você é apenas mais um babaca, que achei na internet e paguei para ser meu acompanhante. – disse rispidamente sem me importar de soar grossa.

Me afastei dele, caminhando a passos duros até a mesa, peguei a comanda, paguei pelos nossos drinks, e segui até a saída do bar, eu estava furiosa. Me sentia uma idiota de pensar, nem que fosse por um minuto, que aquilo podia estar se tornando real, era tudo jogo.

Entrei no carro, já estava dando partida, quando ele abriu a porta do passageiro e entrou. Saí de lá cantando pneus, a vontade de chorar era sufocante, mais me mantive firme, não ia chorar na frente daquele babaca. Percebia ele me olhar de canto de olho, enquanto seguia acelerada até a pousada, mas fingia não ver.

Corri tanto, que chegamos rapidamente a pousada, sai do carro pisando duro e batendo a porta. Como eu fui estúpida!

Assim que entrei no quarto, joguei minha bolsa em cima da cama e tirei minhas sandálias, peguei um travesseiro, alguns cobertores e entreguei para ele, que ainda estava parado próximo a porta me olhando confuso.

- Tome. – ele pegou os itens e me olhou com a sobrancelha erguida.

- Pra que é isso? – perguntou.

- Chamamos isso de briga, o chão vai ser suficientemente confortável para você, boca de coração. – me virei brava, indo até o banheiro remover a maquiagem e me trocar.

Quando saí, já de pijama, vi que ele forrava o chão com um dos cobertores que lhe entreguei, fazendo a sua "cama". Antes que me arrependesse, me deitei, ficando de costas pra ele.

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Acordei de madrugada sentindo muito frio, as janelas estavam fechadas e mesmo assim o quarto estava gelado. Eu odiava aquele tempo, sempre gostei mais dos dias quentes. Revirei na cama tentando aquecer meu corpo, e minha mente não pode deixar de pensar nele, que dormia naquele chão frio.

Ele podia ser um idiota completo, mais não podia ser assim tão cruel com ele. Me virei na intenção de chama-lo para cama, mas só achei os cobertores estendidos no chão, ele não estava lá.

- Onde esse idiota se enfiou. – murmurei irritada, retirando os cobertores e me levantando para procurá-lo.

Abri a porta, e o achei sentado na varanda fitando o nada, ainda com as roupas que tinha usado no bar. Ao perceber minha presença, ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas.

- Cê tá atrapalhando minha conversa com a lua. – falou debochadamente dando um sorriso de lado.

- Não seja cretino, está muito frio, venha pra cama. – chamei, enquanto me abraçava na tentativa de me aquecer.

- Senta aqui comigo um pouco. – pediu batendo a mão no banco ao seu lado.

- Tá frio Rodolffo, vamos lá pra dentro anda, vai acabar adoecendo aí. – chamei novamente, ele voltou a bater no banco, mostrando que não sairia dali.

Bufei irritada rolando os olhos, e sentei ao seu lado, sentindo meu corpo inteiro tremer com o vento frio que batia na varanda. Ele passou o braço pelo meu ombro me puxando para um abraço, estava com tanto frio, que não neguei a proximidade, e deitei a cabeça em seu ombro.

- Desculpa por ter te magoado. – pediu, eu me virei para olhar em seus olhos, não esperava um pedido de desculpas dele. – Eu gosto de você, te acho divertida e encantadora, mas um tanto quanto insegura.

- Eu não sou insegura. – reclamei com a testa franzida.

- Ocê tenta mostrar a todo momento uma segurança que ocê não tem, não é um problema admitir não ser tão forte assim. Pare de tentar se provar a todo momento, seja apenas você. Ocê está com sua família, e não te vi relaxar em nenhum momento, o tempo todo tensa, como se estivesse calculando suas reações.

Bufei irritada, ele não mentia, estava realmente travada, construí uma imagem de mulher forte e empoderada, e tentava a todo momento esconder meus medos e fragilidades, até mesmo da minha família. Queria tanto manter essa imagem de bem-sucedida e feliz que precisei mentir sobre um noivo, o que me levou a contratar Rodolffo. Fiquei um pouco surpresa por ele ter reparado tanto em mim, em poucos dias de convivência.

Ele continuava olhando a lua, não esperava uma resposta minha e nem eu tive vontade de responder.

- Vem, vamos deitar, tá muito frio aqui fora. – chamei já me levantando para voltar pro quarto.

Ele veio logo atrás de mim, corri para cama e me enterrei debaixo do cobertor, meus pés estavam gelados e eu tremia. O vi trocar de roupa, para só então deitar ao meu lado, e me surpreendi quando senti sua mão me puxar pela cintura, minhas costas se chocaram com seu peito rígido, e ele me abraçou forte. Aproximou bem os seus lábios do meu pescoço, e sussurrou enquanto depositava um beijo ali.

- Isso, se chama reconciliação, boca de chupa péda.

Um noivo para Juliette!Onde histórias criam vida. Descubra agora