Capítulo 6

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Romênia — 4 anos atrás

Nenhum lugar era tão aconchegante quanto a própria casa. a suavidade de como a brisa batia e o clima de veraneio infestava com toda vontade cada cômodo com o cheiro forte de lírios. lírios tinham cheiro de casa, e o senhorio adorava lírios.

Era bem cedo quando o homem de olhar inquisitivo adentrou pelas portas do comércio, analisando o ambiente familiar. Não era como se fosse de sua convivência ir ali, porque Madara nunca havia morado neste lugar, familiar era a forma como sempre estava conhecendo algo novo.

Não demorou para que o alfa estivesse acomodado em uma pequena mesa, absorvendo calmamente o aroma da cafeína que constantemente era preparada naquele local. Folheava um jornal romeno, enquanto coçava involuntariamente sua barba por fazer. Ainda lhe era complicado alguns termos no idioma, por mais que compreendesse e conseguisse dialogar facilmente, a falta de vocabulário na maioria das vezes lhe quebrava as pernas. Lembrava de seu período no colegial e mesmo com aulas de sua língua materna já era difícil o suficiente.

O alfa suspirou dolorido, sentindo seu lobo arranhar seu estômago, completamente raivoso e ferido. Não era de praxe que o animal ficasse tão estressado e violento, mas nos últimos dois anos ele vem se parecendo cada vez mais com o lúpus que conviveu na adolescência, completamente descontrolado. Afinal, a puberdade é complicada e lotada de hormônios.

Um bufo saiu pelos lábios finos ao se lembrar de como ele e seu melhor amigo aprontaram. Aquele alfa estressado... Sente falta da sua vida, e de tudo que passou, até mesmo de quando quase matou sua irmã em uma lutinha boba. Quem diria que agora com seus trinta e dois anos, estava tomando um café quente em outro hemisfério.

Virar nômade foi uma escolha almejada, sempre quis viajar por aí, e finalmente ele teve a oportunidade. Ele só queria que seu animal interior se acalmasse, adulto como era não podia simplesmente deixar toda essa ira sair, a única coisa que não podia controlar eram os olhos que trocavam de cor inquietamente e a forma que seu pulmão ansiava por um perfume antes nunca sentido.

Passaram-se alguns meses desde que pusera pela primeira vez as botas molhadas neste país, não seria exagero se lhe dissesse que percorreu cada centímetro do lugar.

Seus instintos estavam à flor da pele, então vez ou outra corria pelas montanhas da região para extravasar adrenalina, principalmente após seu último calor que foi um tanto quanto complicado. Mesmo com todos os esforços seu lobo rejeitou todos os cheiros que estava procurando, chegando a quase matar uma omega.

Por esse motivo que chegou frustrado no estabelecimento, já era quase meia-noite e era seu último dia do período, porém dessa vez Rocco estava no comando da consciência, controlando rigidamente seus instintos. Nunca sofreu tanta dor física e mental quanto nesse dia.

— Uchiha, aceita uma dose? — o barman, também seu amigo de longa data, Ethan, ofereceu quando o alfa se sentou em uma das banquetas dispostas a frente do balcão.

— Duas, sem gelo. — A voz profunda e quase duplicada soou, mas não era novidade.

— Rocco, ele vai ficar bem.

Não respondeu, apenas engoliu o uísque em um gole, soltando um rosnado.

— Que gosto repulsivo, por Odin.

Ethan riu do mau humor, logo enchendo o copo novamente. Desta vez tomou apenas um gole com lentidão.

— Madara, como se sente?

— Como se eu tivesse sido atropelado por quinhentos tanques de guerra.

— Me parece ruim.

— Pessimo. — o alfa pegou um pirulito do balcão, encarando-o. O beta o olhava curioso. — Eu não deveria estar aqui.

Ethan o olhou debochado, enquanto limpava e organizava os copos do bar.

— No bar?

— Na Romenia. — bufou, controlando um rosnado, sua voz estava pacífica e seu lobo inconsciente.

— E para onde você tem que ir?

— Norte. — Os olhos de Ethan se arregalaram. — Só que mais ao oeste.

— Tudo bem, senhor, mas se recupere antes de viajar.

— Com certeza, Ethan. — Madara pegou o copo, levando-o até os lábios novamente.


Nos últimos meses tem se sentido completamente deslocado em sua vida. Por mais que fosse privilegiado em ter sua liberdade alfa, uma voz em sua cabeça dizia que algo estava em seu caminho. Como uma charada que por mais que seu cérebro se esforçasse, não conseguia desvendar. Mesmo rodando quase toda a Eurásia, seu peito ardia com uma ansiedade absurda. Não se sentia tão aflito desde a última vez que enfrentou um urso preto, e nesse dia o alfa quase morreu.

Depois da conversa que teve com Ethan, passou semanas decidindo para onde iria e quando finalmente decidiu mudar-se para a França, uma dúvida surgiu novamente. Passou-se aproximadamente três meses quando finalmente conseguiu organizar todas as suas coisas e a burocracia que precisava para mudar-se.

Saiu do emprego que havia entrado a pouco mais de três anos e partiu para sua nova jornada. Diferente do convencional para um alfa comum, Madara sempre preferiu viajar a pé, ele era um lúpus afinal. Em sua forma perfeita de um lupino, o majestoso lobo marfim de olhos categoricamente vermelhos, esbanjava sua beleza para quem quiser olhar. Não levava mais do que precisava nos bolsos bem presos em cada uma das quatro patas, algumas cicatrizes de luta eram escondidas por toda aquela pelagem vasta, exceto por uma na bochecha, resultado do fatídico dia em que quase foi partido ao meio para o maldito urso preto.

Não soube ao certo quanto tempo se passou quando finalmente as pessoas a sua volta começaram a falar francês, não se deu ao trabalho de contar os dias. Sempre muito ocupado, ora caçando seu alimento, ora se esforçando para manter Ethan ciente da sua localização, este que já deveria estar na França resolvendo toda a parte burocrática, devia muito ao beta.

Já em sua forma humana, adentrou em um pequeno varejo onde comprou uma boa quantidade de frutas. Se o alfa se esforçasse para reparar nas pessoas, perceberia que era incomum, a França não era conhecida por sua população de originais*, então um homem de mais de dois metros não passaria despercebido. O Uchiha era muito alto e robusto para um alfa comum, um perfeito alfa lúpus.

— Uchiha! Finalmente! — a voz animada do beta de pele dourada e cabelos flamejantes dançou em seus ouvidos.

— Ethan, tudo certo, sim?

— Claro. — o homem se vestia bem, tendo o terno bem acentuado nos ombros largos, com seu corpo esguio, não tão alto quanto o alfa. — Aluguei um bom apartamento... — parou de falar quando um rosnado soou dos lábios alheios, seu olhar subiu para os do outro que estavam vidrados. — Madara! Madara? Rocco?

Os olhos extremamente claros e brilhantes encararam os castanhos questionadores, as frutas em seus braços caindo em câmera lenta. Saiu de seu transe com um tapa dolorido que Ethan desferiu, o fazendo rosnar e segurar a bochecha.

— Porra. — a voz duplicada estava ali novamente.

— Qual foi agora, Rocco?

— Preciso ir para a Inglaterra, agora!

O beta o olhou completamente indignado, caramba, eles acabaram de se mudar. O xingou mentalmente enquanto o alfa olhava distraído para um casal que conversava animadamente com um feirante que cortava uma fruta e oferecia a eles.

*Os originais são uma espécie de ser humano antigo e que deram origem ao universo abo, de forma mística tinham uma conexão muito forte com seu animal interior.

Born On My Way - MadaNaru ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora