Verônica...
Naquela mesma manhã....Esta manhã de quarta amanheceu bem fria, tão fria que meus pés estavam parecendo duas pedras, meus dedos então nem se fale, mal fechava-os. Meu pai provavelmente veio pela madrugada e colocou mais uma coberta em mim, já que nossa casa possuía muitas frestas das janelas que acabavam entrando um ar gelado. Meu rosto estava corado e eu já estava com minha toca, fiz meus afazeres pessoais como tomar banho, escovar os dentes e comecei a me trocar. Pego pelo menos duas blusas de frio uma segunda pele por cima da de calor e a outra um casaco mais grosso. Quando termino tudo resolvo descer, meus pais já estão na cozinha conversando e tomando café e como daquela vez estava com tempo e sem pressas consigo me sentar à mesa e fazer companhia à eles.
— Bom dia meus amores.
— Bom dia querida, tem rosquinhas que compramos, coma.
— Você quer carona pro serviço?
— Gente calma, uma coisa de cada vez.
Falo entre risos pegando uma rosquinha e mordendo enquanto coloco café em meu copo. Eles eram muito apressados, todas as vezes era coma isso ou aquilo, leva o casaco, guarda chuva, nada mais que pais protetores. Mas tinha hora que me deixavam louca.
— Como está indo no serviço? Gostou da loja nova ?
Minha mãe pergunta bloqueando seu celular e me olhando com as mãos embaixo do queixo empolgada.
— Mãe, é sensacional você sabe que já esperava por isso faz muito tempo, né ?
— Sim filha, eu gosto de te ver assim empolgada.
— A última vez que te vi assim você estava começando nesse emprego.
Diz meu pai posicionando as mãos sob meu ombro como um ato de carinho, dou um sorriso de boca cheia e em seguida sinto meu celular vibrar.
— Quem é filha ?
— É o Maik! Eai como você está ? Que saudades!
Atendo a chamada de vídeo e meus pais entram no meio da tela, Maik era o maior exemplo dessa família, pois foi o único a fazer faculdade conseguindo bolsa de cem por centro e com isso teve que viajar para Stanford que ficava a mais de quarenta horas de casa. Pela grande distância era muito difícil de vê-lo e morríamos de saudades.
— Caramba você cresceu Verinha! Olha o tamanho dessa boca comendo.
— Ah você e seu humor matinal né ! Eu como mesmo e aprendi com o maior guloso de todos.
— Ah para com isso, você sempre chorava querendo minhas rosquinhas quando acabava com as suas, não é mesmo mamãe?
— Sim é verdade, você sempre foi gulosa. Me diz filho como estão as coisas na faculdade?
— Está tudo bem, estou ligando pra avisar vocês que semana que vem estarei por aí! A faculdade entra em recesso e consigo ficar uns dias com vocês.
— A não acredito! Vem logo pra cá ! Tô morrendo de saudades, preciso te mostrar o tamanho da floricultura que estou trabalhando!
— Eu não quero nem ver a cara do Joe quando eu chegar aí, vai de novo me encher pra casar com a filha dele. Estou pensando até em levar uns chocolates.
— Quem vê você não gosta dela não é?
— Filha anda com as coisas amor, você precisa ir. — Minha mãe diz aquilo se levantando e retirando a mesa com delicadeza.
— Maik preciso ir, te amo muito! A noite me liga de novo !
— Tudo bem fadinha, vai lá e arrasa. Também te amo.
Desligo meu telefone com o coração apertado, era muito difícil me despedir assim dele. Ele sempre foi tudo pra mim, meu protetor e segundo pai, Maik era meu melhor amigo. Quase um ano sem vê-lo, logo eu apegada com tudo e todos. Eu sabia que era para algo bom, que finalizando os estudos ele trabalharia próximo da gente, mas seriam anos e anos de estudo ainda e eu teria que entender. Entro na caminhonete e com meu pai vou conversando coisas aleatórias como do porquê o carteiro usa chapéu até em dias frios e não gorro ou qual o sentido da nossa vizinha Abgail regar as plantas somente a noite. Coisas que ainda não se encaixavam pra gente, mas tínhamos vergonha de perguntar. Ao aproximar-me da floricultura me despeço de meu pai e abro a loja rapidamente, minhas mãos mesmo com luvas congelavam e Valter já estava lá quase morrendo.
— Abre pelo amor de Deus, vou ter um leve ataque nesse frio.
— Amigo, você está quase com um cobertor, quantas blusas tem aí?
— Três, sem contar com a de calor. Preciso fazer logo o buquê do Louis, ele pediu pra entregarmos às dez!
— E você acha que dá tempo? Eu tenho três agora de manhã, vamos correr então.
— Vai ter que dar! Se eu não entregar ele vai me matar.
— Tá eu te ajudo com ele, qual flor é?
— Ele pediu rosas e lírios, só preciso ver o nome anotado, vou separa-las já !
— Ótimo, vou pegar o embrulho e já finalizamos isso.
Valter e eu corremos preparar todos os buquês e arranjos, com o aumento do estabelecimento triplicou a clientela e só estávamos em dois para ter que lidar. Joe nem aparecia direito e tudo ficava para eu resolver. Não sabia que esse papel de gerenciar seria para tudo, eu mal conseguia comer de tanta demanda e pedidos. Foi uma imensa correria, tínhamos um motoqueiro que levava os arranjos e buquês nos lugares onde eram mais longe, acabou a fase de ter que vender de bicicleta nos centros da cidade. Agora os clientes vinham até nós! Casamentos, formaturas, eventos grandes, ninguém pensou que seria tão grandioso assim e era mesmo para se esperar, pois ali depois de nós, havia apenas uma loja pequena que vendia alguns brotinhos e sementes. Em meio a tanta correria, todas as vezes que a porta se abria o sino tocava, Valter já corria do balcão dar as boas vindas e eu não parava um minuto sequer com as embalagens e cartinhas escritas à mão. Meus dedos doíam de tanto escrever, tive que ligar pra Joe pedir mais envelopes e papel presente, pois já estavam no fim. E ao cair da tarde tudo foi amenizando, as últimas encomendas eu acabara de despejar para o motoqueiro e agora o que nos restava era comer, comer e comer. Sentei-me no chão e fiquei olhando para cima respirando fundo. Valter veio com as comidas e mal conversávamos de tanta fome. Acho que não levou nem dez minutos para finalizarmos um prato farto, daquele jeito eu iria acabar rolando pra vir trabalhar.
— Eu estou morto! — Diz ele jogando os papéis descartáveis no lixo e debruçando sob o balcão.
— Você ? E eu que não sinto meus dedos ? Eu não aguento mais escrever nem uma palavra.
— Amanhã deixa que eu fico com os textos.
— Valter sua letra nem você entende, não tem como essa tarefa ser sua.
— Além de ser prestativo você me joga essa sua ingrata, agora você quem vai escrever sempre.
— Eu estou sendo realista, você sabe muito bem que da última vez você errou o nome da cliente e o moço ligou aqui nos xingando de todos os nomes possíveis.
— Eu não errei não, não tenho culpa de trocar uma letra no final, Emma e Emme é praticamente a mesma coisa. O telefone daquela loja era horrível de entender a pronúncia.
— Tudo bem, tudo bem. Mas pode deixar comigo os bilhetes.
— Deixa eu falar, como está você e sua peguete da frente ?
— Peguete não, talvez uma paixãozinha ?
— Mentira ! Você já tá assim? O que tinha nela, mel?
— Se acredita que esqueci minha calcinha lá ! Quando tomei banho na casa dela eu nem percebi, devo ter pego a dela quando me troquei correndo.
— E ela?
— Ela me mandou mensagem falando que estava lá e que ela estava com ela. Mas amigo eu não sei não, alguma coisa me diz que ela é problema.
— Aí para com isso, curte então, coloca na sua cabeça que vai ser uma saída apenas, não tem nada de apaixonada não, você toda vez que se envolve quer cair de cabeça nas coisas. Vai leve agora, finge que é desapegada e que não liga muito.
— Eu não sou assim, quando gosto eu gosto de verdade e quero que a pessoa se atraia pelo que eu realmente sou e não um personagem medíocre só pra levantar ego.
— Verônica, foi uma noite ! Pelo amor de Deus não começa com essa fanfic na cabeça já cedo, você nem conheceu ela direito e já fala como se estivesse no décimo encontro.
— Aí ela é tão sei lá! Eu tento ser firme sabe, seguro ao máximo um leve ciúmes...
— Ciúmes do quê? Você nem conhece essa menina, Jesus! É sério, se eu te ver chorando pelos cantos porque se decepcionou mais uma vez querendo reciprocidade pra ontem, você vai ver só.
— Valter, para de jogar praga no que ainda nem começou! Eu só estou dizendo que eu gostei, gostei de tudo sabe.
— Praga seu nariz, não jogo nada disso pra ninguém. Vocês conversaram sobre o quê?
— Não foi bem uma conversa, eu vi os quadros da ex dela e quando ela percebeu ela baixou eles dizendo que iria joga-los.
— Ai que fofa não? E você acreditou?
— Eu não tenho que acreditar em nada, não tenho nada com ela, só tenho medo de sair novamente, me envolver ainda mais e quando eu estiver apegada, puf! Ela voltar com a ex.
— Olha, não é querendo cortar seu barato nem nada do tipo, mas a amiga dela no dia em que bebemos me contou sobre essa ex aí. Dizendo que ela traiu e tudo mais, porém além da Marcela querer ser a " durona " pra todo mundo ela é meio cadelinha dessa tal de Denise.
— Ah para com isso, vou tentar não me apegar. Juro que vou. Quem sabe se sairmos de novo num cinema? Eu nem consegui conversar com ela realmente pra saber, não quero tomar decisões precipitadas do que eu ouvi por aí da boca dos outros.
— Que cinema meu Deus ? Vão se pegar só e segue a vida, marca uma coisa mais de boa, um barzinho ou sei lá uma balada.
— Nossa balada super da pra se conhecer né ? Eu não entendo você, cada hora me fala uma coisa. Eu não vou ficar transando por aí só por fazer.
— Tá bom amiga. Desisto. Boa sorte então. Conhece ela, reza pra essa ex não aparecer na vida de vocês e só. Porque sapatão é um tal de pega uma, sai com a outra que só por Deus.
— Como se gays fossem diferentes né ?
— Aí nem vem, estou só com contatinhos, porém eu enrolo todos eles.
— A nossa diferença é que você não transa nunca. Se deixar você vive a vida nos beijinhos e nas boates dançando.
— Eu seleciono é bem diferente....
Quando estávamos no meio do assunto ouço o barulho do sino tocar. Joe chega com meus pedidos de reposição e corremos ajudá-lo. Ele estava com um pouco de pressa e feliz, se desculpou pela ausência nessa semana, mas prometeu trazer novidades. Já estava anoitecendo e próximo do horário de fechar, Valter e eu terminávamos de arrumar todas as coisas e avisto pelos vidros da vitrine Marcela na calçada fumando e falando ao celular um pouco impaciente. Friso meu olhar segurando a vassoura, mas ela não me vê, sinto borboletas em meu estômago e meu coração dispara. "Para com isso Verônica, foi apenas uma noite qualquer! Tudo você quer se apaixonar" , digo e repito pra mim mesma desviando o olhar para o chão. Continuo varrendo me forçando para não a encarar novamente, mas é um pouco mais forte que eu. Abro a porta da loja fingindo procurar qualquer coisa na calçada e ouço sua voz.
— Está perdida aqui fora?
— Ah, oi! Tudo bem? Não que isso, estou.... Estou só tomando um ar e vendo se não tem brotinhos caídos pelo chão.
— Tem um brotinho caído na minha frente. — Ela diz aquilo atravessando a rua me olhando séria, engulo seco e respiro fundo. Sinto meu rosto todo corar. Parece que vou ter um treco. — Como foi seu dia hoje ?
— Corrido, corrido demais. Não parei nem sequer um minuto, Valter me ajudou também.
— Sim eu percebi mesmo lá de dentro, você ia de um lado pro outro e foi assim praticamente o dia inteiro.
— É... Foi isso mesmo, e você trabalhou muito?
— Eu sempre trabalho muito, comida é uma coisa que não pode parar, se é que me entende.
Corei ainda mais, será que ela só sabe usar frases de efeito? Pelo amor de Deus! Eu não tenho nem reação.
— Ah, é isso mesmo. Entendo e como entendo. — Ela ri do que eu digo, que porcaria eu disse ? Odeio ficar nervosa, solto umas que nem eu mesma acredito.
— Bom... Esqueci de trazer o que me pediu, se eu lembrar amanhã quem sabe eu não te traga de volta.
— Ah, pode ficar com ela, acho que vai te trazer boas lembranças.
— Eu não vivo apenas de lembranças, se quiser aparece em casa qualquer dia.
— Vou... Mas não sou dessas que só vai pra sua casa de madrugada, tem que me conquistar muito antes disso.
— Acho que essa conquista se chama uísque... — Ela se aproxima dizendo aquilo, arrumando meu gorro e encarando meus lábios entre risos e vira as costas. Eu dou uma franzida com a testa e boquiaberta solto:
— Não sou como todas e um dia quem sabe você verá.
— Que bom saber... Adoro um desafio. Boa noite neném.
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Sob seu caminho ( Lésbico ) +🔞
Romance" No amor não há regras, tudo pode acontecer e as vezes da forma mais inusitada possível " Um romance entre uma cozinheira chef renomada ( Marcela ) e uma florista simples e doce ( Verônica ) Vidas completamente diferentes, mas que muito em breve s...