Mal termino a frase e vejo Marcela avançar em minha direção, não deu tempo de pensar em nada. A situação fugiu totalmente do controle. Bethany mal teve tempo de se defender, Marcela veio pra cima com a garrafa em mãos, fiquei desesperada e por sorte acertou o abajur ao lado. Eu tremia aflita, pois ela estava completamente descontrolada, nunca a vi daquela forma.
— Marcela pelo amor de Deus! ... Digo com a voz trêmula e na tentativa de separar as duas me aproximo. Ao ouvir minha voz ela se vira com os cabelos sob seu rosto.
— Você cala a sua boca! Sua vadia! Eu sabia que não podia confiar em você.
E novamente troca socos com Bethany que com muito custo, consegue sair e se afastar. Ela estava com o nariz sangrando, olhos inchados e Marcela incontrolável. Eu não sabia o que fazer, morri de medo de que avançasse em mim. Comecei a chorar e só pedia para ela se acalmar, aquela crise toda foi a pior cena da minha vida. Presenciar alguém com um descontrole emocional, independente da circunstância foi um choque, jamais pensei que ela agiria daquela forma por qualquer coisa. Bethany cospe no chão uma bola de sangue e vai cambaleando chegando perto da porta.
— Você está descontrolada, eu vou embora, já deu! Já fez o que queria, chega.
— Some da minha frente, ou eu juro por Deus que te mato hoje.
Marcela não piscava, suas mãos estavam sangrando, as rosas todas espalhadas no chão. Eu não tinha mais cor, estava passando mal vendo e digerindo tudo aquilo. Bethany ouve aquilo e rapidamente sai passando as mãos entre sua boca e nariz. Estava muito feio as feridas, naquele dia tive medo, parecia que vi a morte em minha frente. Olho para Marcela e não sei o que fazer. Não sei se chego perto, se fico longe ou vou embora. Fico morrendo de medo, mas tomo uma atitude.
— Amor por favor...
— Você não ouse, não ouse me chamar assim. Nunca mais na sua vida!
— Diminua o tom de voz comigo! Eu preciso explicar o que aconteceu! Digo aquilo me aproximando.
— Diminuir o tom de voz Denise, diminuir meu tom? Você acha que essa porra aqui é brincadeira? Que merda você estava fazendo sua vagabunda! Saindo com amiga nossa enquanto eu me mato trabalhando?
— Se você não conseguir se controlar eu não irei explicar, por favor só se acalme.
Ela se aproxima ainda mais de mim e gruda com força meu maxilar cheirando minha boca. Não dá dois segundos e ela me empurra até eu cair no sofá.
— Você está cheirando a vinho! Você encheu a droga da sua cara com uma desgraçada que pensei que fosse minha amiga! Duas vagabundas.
— Marcela! Você para! Para de me chamar assim!
— Ah me desculpe, não é o termo correto, vadia fica melhor pra você? Porque apelidos pra mim não irão faltar na rua agora. A chifruda...
— Você não é nada disso, eu jamais faria isso com você...
— Denise, pega suas coisas e some, some da minha frente antes que eu faça uma merda com minha vida.
— Você vai sentar e vai me ouvir. Você não me deixa falar!
— Você estava em cima dela, beijando... Olha sai, vaza dessa casa agora! Eu juro que não quero por as mãos em você! Pega o que é seu e some daqui.
— Marcela me escuta! Eu não quis em momento nenhum isso, ela veio pra cima de mim.
— Denise, vai! Agora!
Ela grita apontando uma das mãos em sentido a porta.
— É sério isso?
A respondo chorando, chorando tanto que meus lábios tremem a cada palavra dita, ela nem sequer olha em meu rosto. Vejo que seus olhos lacrimejam, mas tudo o que sente é raiva, sua mão esquerda estava inchada e havia um pequeno corte da garrafa em sua mão. Tem sangue no sofá, no chão. Meu Deus, parece uma cena de crime, o pior de tudo foi que eu jamais tive qualquer intenção com Bethany, não estava acreditando no que estava acontecendo. Como eu pude ser tão imbecil, tão ingênua, tão idiota a ponto de permitir aquilo tudo? Que peso gigantesco de culpa, impotência. Tudo. Tudo que faço é chorar, sinto uma de suas mãos pegando firme meu braço. Olho para seu rosto e ela continua sem me encarar.
— Vaza daqui.
— Eu não vou sair daqui até você se acalmar e me ouvir!
— Você vai sumir, porque quem pagou essa casa foi eu.
— Marcela não começa com esse jogo, a casa é nossa! Estamos juntas...
— Não estamos mais juntas!
Ela soca a parede com a mesma mão que já estava inchada e novamente grita me mandando ir embora, fico desesperada com a situação. Saio pela porta chorando e não acreditando no que estou passando. Os vizinhos saem na frente para entender o que está acontecendo. Ouço o barulho alto e frio da porta se batendo com muita força, meu corpo comprime e estagna rapidamente ao ouvir. É sem sombra de dúvidas o pior momento da minha vida. Eu não sei para quem ligar, não sei o que fazer, ela não tem condições em sequer me ouvir, quem dirá se resolver. Olho para minha frente e uma das vizinhas se aproxima.
— O que aconteceu? Já chamamos a polícia, ela bateu em você?
— Polícia? Não, claro que não. Porque chamaram a polícia?
— Ué, mas ouve agressão. Uma mulher saiu dai sangrando, nós tentamos ajudar, ela não quis e pegou o carro e saiu correndo daqui. Ficamos todos preocupados.
— Não houve nada, foi apenas um mal entendido. Cancelem a ocorrência por favor.
Mal termino a frase e ouço viaturas se aproximando, para ser ainda pior haviam três. Coloco minhas mãos na cabeça e sinto meu rosto queimar de nervoso, que noite! Que situação, a culpa é o pior dos sentimentos, pois com ela você paralisa. Me aproximo de uma das viaturas já tentando me explicar para os policiais, porém outros seguem indo em direção a porta. Olho para trás antes de qualquer reação e vejo Marcela jogando minhas coisas para fora. Ela ignora os policiais e continua com as ações, tento ir até ela, mas sou impedida, eles ordenam para que eu mantenha distância e deixe com que eles resolvam.
— Você tem que se controlar, queremos apenas entender o que aconteceu aqui.
Indaga um dos guardas, ela me olha rindo e encara-o.
— Se quer saber? Fui traída, pela vítima que está ali com vocês. Não encostei um dedo nela, mas já a outra né, não posso dizer o mesmo.
— Houve agressões da sua parte então? Onde está a outra?
— E como eu vou saber? Pergunta pra ela, as duas conversaram bastante e devem saber melhor que eu.
— Preciso que compareça à delegacia. Temos que fazer corpo de delito, já que houve violência.
— Claro, vamos lá. Preciso mesmo fazer o meu, minhas mãos estão pulsando.
Marcela fecha e abre as mãos olhando para o chão. Choro escutando e vendo toda aquela cena e cada uma entra em uma viatura. A maior vergonha do mundo. Eu só tremia muito, como podia meu rosto queimar e minhas mãos estarem congeladas, uma das guardas me perguntam sobre Bethany e tudo que digo é " eu não sei " o raciocínio fugiu, sentia como se eu não estivesse por lá.
Chegando até o local sou levada até uma sala de espera, Marcela entra primeiro em outra para falar com o delegado, ela estava muito eufórica e dois policiais a cercavam conforme ela caminhava. Já eu fui acalmada a todo instante, chorava muito e não sabia como reagir. Fiquei sozinha numa sala até que ouço um guarda entrar.
— Eai moça, está melhor?
Ele diz aquilo me entregando um copo d' água.
— Obrigada. Não tem como ficar melhor com uma situação dessas. — Respondo aflita.
— É... Eu nunca vi tanta confusão de mulher, o mais engraçado é que não tem homem envolvido.
Ao ouvir aquilo fecho meus olhos e abaixo minha cabeça, claro que eu tinha que cair com algum policial bem escroto! Se Marcela ouve isso ela manda frases muito bem feitas.
— Pois é! Somos mulheres e cada situação é diferente da outra.
— Mas como que chegou a tudo isso hein? Ela estava tão descontrolada que parecia que sei lá. Não sabia que mulher com mulher tinha isso de ciúmes de outra, não é tudo igual?
Ele caçoa da situação colocando as mãos na cintura e fico completamente desconfortável com aquela situação. Não o respondo e em minutos ouço me chamarem. Sento-me na sala e com alguns papéis sob a mesa vejo o delegado sentar-se.
— Boa noite, senhorita Denise. Quero fazer algumas perguntas sobre a ocorrência, tudo bem?
— Sim.
— Marcela é sua mulher?
— Isso, moramos juntas.
— O que aconteceu, Denise. Ouvimos a versão dela, agora precisamos da sua...
Passo quase uma hora respondendo tudo, Marcela não ficou muito tempo, pois precisou ir direto para o médico ver se havia quebrado o pulso, respondo a muitas e muitas perguntas, principalmente sobre eu ter sido agredida, que apesar de dizer mil vezes que não eles fizeram e insistiram em fazer exames.
Ao sair de lá, dirijo-me solicitando um carro de aplicativo até nossa casa para pegar meu carro e minhas coisas, olho em meu celular e tem inúmeras mensagens de Marcela e pra piorar de Bethany.Vida ❤️
" Infelizmente não quebrei minha mão na cara daquela desgraçada, mas terei próximas vezes"" Pegue TODAS as suas coisas da MINHA CASA, pois se eu chegar e houver qualquer vestígio teu, irei queimar!"
" Que minha família nem sonhe em saber de tudo isso, pois daqui dez dias tenho uma conquista importantíssima com o restaurante e você não vai foder a minha vida mais do que já fez!"
Betty
" Sei que não posso te mandar mensagem pra não piorar tudo, mas quero te pedir desculpas. Fui até a delegacia e não prestei queixa, retirei todas as ocorrências, não quero mais problema. Meu rosto tá todo fodido e já estou me sentindo um lixo, espero que você não me odeie pra sempre, podemos conversar depois se quiser"
Ler tudo aquilo me corroeu ainda mais, o carro estacionou bem em frente e lá estavam todas minhas coisas pelo chão, do jeito em que Marcela deixou há horas atrás. Não havia mais ninguém na rua e a porta estava encostada, pego rapidamente tudo do chão e vou jogando dentro do carro, sabia que não poderia sonhar em ficar lá a aguardando chegar, pois ela poderia perder ainda mais a cabeça. Não quis entrar, para não ver a cena horrível que estava a sala, apenas cuidei para trancar a porta e entrar em meu carro. Com as mãos no volante tento chorar, mas desta vez o choro não sai, o cair na real começou e a razão veio como um grande soco em meu estômago. O que eu fui capaz de fazer?
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Sob seu caminho ( Lésbico ) +🔞
Romansa" No amor não há regras, tudo pode acontecer e as vezes da forma mais inusitada possível " Um romance entre uma cozinheira chef renomada ( Marcela ) e uma florista simples e doce ( Verônica ) Vidas completamente diferentes, mas que muito em breve s...