Delírios;

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Ele se auto-declarava cético durante a maior parte de sua vida. Não acreditava em forças maiores ou na própria concepção de destino. Fala sério. Ter os eventos de sua vida pré-determinados antes mesmo de você nascer era uma ideia absurda, e ele era insistentemente convicto disso.

No entanto, sua perspectiva, bem como sua "crença em não crer em nada"; foram imediatamente descartadas quando ele colocara as mãos naquele objeto ofuscante, a superfície dourada brilhando tentadoramente sob qualquer resquício de luz.

A caminhada da manhã sofrera um desvio de rota por causa dos alagamentos, e ele se viu obrigado a tomar um caminho por dentro da floresta de pinheiros. Não lhe era um ambiente incomum, pois sua presença ali era frequente devido às necessidades de sua profissão. O que aconteceu foi que, neste dia em particular, ele resolveu adentrar mais fundo no bosque. Não tinha um motivo específico, apenas uma curiosidade pungente, alimentada pelo anseio em descobrir áreas inexploradas ou apenas observar a vida animal local. A atmosfera calma das alvoradas sempre o instigavam a transpor os seus limites.

Seis horas da manhã. O sol ainda não iluminava o horizonte por completo, mas fornecia a claridade necessária para tornar possível distinguir as árvores, trepadeiras e arbustos. O machado robusto oscilava de um lado para o outro no ombro, seguindo o ritmo de seu andar. O homem não planejava qualquer tipo de uso para ele naquele momento, porém, sabia que sair de casa sem qualquer tipo de proteção, principalmente morando perto da mata, era uma tolice extrema.

Tinha passado por experiências traumáticas o suficientes para aprender essa lição.

Além disso, parecia simplesmente errado em sair para passear sem o seu companheiro de viagem. O vigoroso objeto era mais do que uma simples ferramenta de trabalho: era o seu amuleto. Acordava com ele ao pé da cama, adormecia lhe desejando bons sonhos.

Os que vissem tal cena o chamariam de louco. Não era todo o dia que aparecia alguém apegado a um instrumento tão violento como um machado. Chegava a ser assustador e cômico ao mesmo tempo.

Estava cansando-se. Gotas de suor acumulavam-se em suas nas têmporas; e o clima naturalmente frio o fazia estremecer de vez em quando. Ele podia ser resistente, mas não era feito de aço. Pensou em parar, virar-se e voltar para casa. O machado em seu ombro, — nomeado carinhosamente de Greta, — também aparentava estar de acordo com o pensamento.

O som usual de cascalho sendo pisado sofreu uma alteração. Ao longe, ele avistou um terreno mais plano. Avançou, espontaneamente atiçado pelo súbito interesse na paisagem recente.

Era uma clareira. Uma que nunca tinha visto.

Percebeu, então, que caminhara muito. Mais do que nas outras caminhadas matinais.

O canto parcialmente incômodo das cigarras intensificou-se quando ele pisou na nova terra, a própria grama manifestando uma tonalidade diferente daquela a qual estava familiarizado.
Arrepiou-se inconscientemente. Olhou em volta, inalando o ar fresco. Cheiro de vegetação, terra, umidade. Perto dali, cercado por um irregular grupo de rochas, havia um pequeno lago. Insignificante para fornecer uma vida adequada à peixes, mas acolhedor o suficiente para ser a casa de vários girinos e pequenos insetos.

Sentou-se na sombra de um grande carvalho. Analisando a extensão de suas raízes externas, o tamanho do tronco e a imensidão de sua copa, não foi difícil concluir que tratava-se de um ser centenário. Pelo menos, era o que o seu instinto de lenhador estava lhe dizendo.

E ele confiava plenamente nos seus intintos.

— Ei, garotão. — Bufou, o sotaque mais forte. — Vou descansar aqui um pouquinho. Você se importa?

TordTom Oneshots [Eddsworld]Onde histórias criam vida. Descubra agora