Refúgio;

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O sol estava se pondo, anunciando a chegada da noite. Ele estava cantarolando enquanto arrumava as roupas no armário, tarefa que havia procrastinado em realizar durante o dia todo. Não sabia ao certo em que momento havia começado, mas tinha consciência que, ao fim da tarde, uma pequena onda de determinação o encheu de coragem, e ele resolveu colocar os moletons nos cabides de uma vez. Não custava nada.

Sua melodia fora interrompida quando ele ouviu um estalo repentino vindo da porta da sala, no andar de baixo. Ela havia sido fechada com brutalidade. E não foi só isso. Passos apressados e desordenados agrediram a escada, as vibrações reverberando através das paredes e do piso. Ele prendeu a respiração quando ouviu os ruídos se manifestaram no corredor, agora mesclando-se com o som inconfundível de soluços estrangulados.

O moletom caiu no chão, escapando de suas mãos quando ele imediatamente atravessou o quarto e abriu a porta. Ele reconheceu a figura que estava passando pelo corredor e a chamou.

- Tom! - Exclamou, o coração acelerado. - Tom, o que você está fazendo?

O amigo parou. Estava de costas, tremendo muito. Matt percebeu, então, as marcas molhadas no chão, e inúmeros pingos dispersos, trilhando o seu caminho até Tom. Mesmo com o corredor mais escuro, não foi difícil vislumbrar o estado em que o outro britânico se encontrava.

Tom estava totalmente encharcado, da cabeça aos pés. Tremia involuntariamente e soluçava baixinho, os punhos fechados ao lado do corpo.

- Tom... O que aconteceu com você? - Os olhos expandiram-se, processando a situação. Ele se afastou do batente da porta, aproximando-se com cautela. - O que houve? Por que você está todo ensopado?

Demorou um pouco até o amigo lentamente virar-se para ele, o rosto baixo, parecendo terrivelmente envergonhado e triste. Estava chorando, Matt notou; e ele não pôde deixar de sentir uma bola se formando na boca do estômago ao vê-lo assim. Para si, tudo ficara mais claro.

Alguma coisa severa tinha acontecido, mas ele não fazia a menor ideia do que poderia ser.

A água escorria e se alastrava pelo assoalho, molhando o tapete. O ruivo chegou mais perto, apreensivo. Tentou obter uma resposta verbal novamente, a voz mais convidativa, gentil.

- Ei, o que aconteceu? - Perguntou, inclinando levemente a cabeça. - Tom, fale comigo, por favor. Diga alguma coisa.

Os esforços de Tom para falar eram inúteis. Os soluços atrapalhavam o entendimento de suas declarações, e ele não conseguia parar de chorar. Ele gemeu, desistindo de balbuciar palavras desconexas. Colocou as mãos no rosto, lamentando-se com murmúrios.

Doeu ver seu melhor amigo agir desse modo, ainda mais quando não sabia o que poderia ter ocasionado esse pranto.

Sua intuição começou a formigar; instigada a formular hipóteses. No entanto, por falta de informações, Matt não conseguiria avançar mais que isso. Não desse jeito. Tom precisava dele, necessitava de conforto. Depois, quando ele se acalmasse, ele se abriria e contaria a situação.

Ele viu que Tom ansiava por tal atitude também. Mesmo que ele não tivesse dito nada em voz alta, Matt não precisava de uma confirmação, pois sabia que um acolhimento era tudo o que ele mais desejava no momento.

Todos os anos juntos os fizeram amadurecer; aprendendo a captar os sinais um do outro. Mesmo que Tom fosse mais recluso, sua personalidade fria não o impedia de querer ser recebido com atenção ou carinho. E mesmo que Matt fosse extrovertido e bastante confiante, isso não o livrava de sua autossabotagem.

A longo prazo, eles construíram um laço único.

Tom gostava de abraços, e Matt gostava de abraçá-lo. Matt desabafava muito, e Tom gostava de ouví-lo. Tom tinha pesadelos, e Matt o consolava. Matt esquecia de algumas tarefas, e Tom o lembrava. Eles se completavam. A companhia um do outro tornou-se valiosa.

TordTom Oneshots [Eddsworld]Onde histórias criam vida. Descubra agora