Parte 3 - Quando tentei evitar

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Sexta

Vou ter que ser breve, pois tenho que me arrumar.
Minha amiga Dinorá veio me visitar e ficamos conversando sobre o assunto "casamento". As pessoas têm alguma coisa com esses assuntos sentimentais, não é possível... Até Buscapé, enquanto ensinei a ele a letra "A".
"A de amor, né madrinha?"
Não sei o que fiz pra merecer isso.

Bem, voltando a Dinorá, ela me pediu se eu nunca me senti atraída por Petruchio, e eu neguei, óbvio. Mas ela me disse algo interessante... Que nosso corpo pode estar adormecido até alguém tentar "acordá-lo".
Mas parece que não tenho paz. Enquanto tentava desenrolar mais desse assunto, desinteressadamente, claro, Mimosa apareceu com um presente enviado por ele.

Eu até cogitei não abrir, mas eu jamais vou admitir que a curiosidade estava me corroendo.
Li o bilhete que o acompanhava, e que agora está aqui, em minha frente.

"Que este mel adoce sua boca
Para a pergunta que vou fazer"

E então vi do que se tratava. Um pote de mel. Para combinar com aquele apelido horroroso que ele costuma me chamar.
Eu fiquei curiosa com o que ele quer me pedir, mas Dinorá disse que ele vai me pedir em casamento.

Ele não pode fazer isso.
Eu não quero me casar. Eu não vou me casar. Eu não posso me casar.
Não é algo que compete somente a mim.

Decidi que tenho que me livrar definitivamente de Petruchio, porque seus beijos roubados estão acordando coisas dentro de mim que eu nem sabia que existiam.

Assim, aceitei o convite para jantar na casa de Dinorá. Sei que lá estará o jornalista Serafim, e por uma ideia da própria Dinorá, quem sabe se Petruchio pensar que tenho um compromisso com o jornalista, ele desista dessa ideia absurda de me pedir em casamento.

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Já é madrugada, e ainda não consegui dormir.
Petruchio visitou-me durante a tarde, e por mais que minhas pernas traidoras estivessem correndo para encontrá-lo, minha cabeça voltou a razão rapidamente e não o recebi. Ele gritava no portão de minha casa a mesma mensagem que me enviou com o bilhete, que tem um pedido para me fazer.

Lembrei-me de imediato da conversa recente com Dinorá, sobre o despertar do corpo da mulher quando tocada por um homem, e sei que ele desperta coisas em mim, coisas que desconheço... E que preciso que parem imediatamente, não posso sucumbir a ele, jamais. Nem a ele, e nem a homem nenhum.

Fui no jantar que Dinorá ofereceu para aproveitar-me do interesse que o jornalista Serafim demonstra por mim, tudo parte de seu plano para afastar Petruchio. Já eu, espero que afaste-me de ambos.

Quando chego na casa dela, quem é a primeira pessoa que vejo, ainda na porta? Sim, não preciso nem dizer. Ele, a cavalgadura, o homem que tem me tirado do sério e que tem bagunçado minha tão metódica vida.
Dinorá disse que não teve nada a ver com o aparecimento dele, e Cornélio acabou assumindo que ele o convidou, e sem segundas intenções. Se algum deles fez de propósito, não sei.

Só o que sei é que aproveitei a oportunidade para dar atenção ao jornalista Serafim, e assim fazer Petruchio notar que qualquer ideia de um relacionamento entre nós dois é a coisa mais horrenda que eu já escutei na minha vida.
Aliás, desdenhei de Petruchio na maior cara dura.
Mas ele não saiu do meu pé. Nem um minuto. Passou a noite se intrometendo em qualquer conversa adulta e educada que eu quisesse ter. Resumindo, ele faz jus ao apelido que coloquei nele: é um legítimo carrapato!

E tudo piorou no jantar. Como pensei, ele não tem modos e nenhuma educação. Comeu como se fosse uma vaca ruminando o pasto, de boca aberta, falando enquanto mastigava e, o pior de tudo, com as mãos!
Foi uma cena de horror. Não gosto nem de lembrar.

MEU DIÁRIO - por Catarina BatistaOnde histórias criam vida. Descubra agora