𝟎𝟎𝟑. 𝕾ᥙr᥎і᥎ᥱ ᥆r ძіᥱ

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"Sobreviva, ou morra."

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Capítulo postado: 20/08/22
Revisado: 29/10/22

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Feyre e eu não trocamos nenhuma palavra desde que saímos do chalé. O silêncio entre nós é mais que relaxante desde que saímos de casa. Com o vento ao nosso favor, rastreamos as poucas pegadas que encontramos na neve - sem sucesso algum - até que decidimos ir um pouco mais adentro da floresta do que normalmente vamos.

Meus dedos dos pés são como lascas de gelo, quase totalmente dormentes dentro de minhas botas. Um pouco distante de mim, em outro ponto de monitoramento, Feyre passa uma mão em seus olhos, afastando flocos de neve dos seus cílios. Olhando para ela, me pergunto o quanto a mesma continuará lutando semana após semana, dia após dia, hora após hora por nós, para nós.

Confesso que parte de mim começou a roubar apenas para tentar tirar um terço do fardo das costas Feyre. E depois de tanto tempo longe da floresta, também senti saudades desses nossos momentos juntas no bosque, mesmo que não fosse exatamente um momento que seria considerado adequado para irmãs.

Restavam apenas algumas horas de luz do dia desde que ficamos nessa posição. Tempo consideravelmente longo o suficiente para que os meus joelhos dobrados reclamem, totalmente rígidos.

O fato de já estar anoitecendo não é nada bom, e sei que minha irmã também está ciente disso.

Voltar para casa no escuro após os avisos de alguns caçadores sobre lobos enormes à espreita, além de boatos de um povo alto, sinistro e mortal avistados na área, deixa meu corpo tenso.

A neve passou a cair preguiçosamente, em punhados espessos e grandes. Franzi o cenho, mas um farfalhar na clareira em frente chamou a minha atenção. Sem poder evitar, uma pitada de esperança percorreu meu corpo.

Disparo meu olhar em direção a Feyre só para encontrar o mesmo já preso sob mim. Seu arco já está posicionado em suas mãos.
Um pequeno aceno de cabeça.
Lentamente, ajeito e seguro firmemente a lança mediana em minhas mãos.

Na ponta da lança, o ferro devidamente afiado ao alvorecer me passa mais confiança. Aquilo me custou muitas moedas, muitos roubos, até finalmente estar em minhas mãos. Apesar de me dar tão bem quanto Feyre com arco e flechas, sinto algo se acender dentro de mim sempre que pego na lança e a uso.

Olhei por entre os espinhos e o que vi, me fez querer chorar agradecida. Uma pequena corça, ainda não tão magra, mas desesperada o suficiente para estar ali, exposta, arranca uma casca de árvore na clareira. Uma corça como aquela poderia nos alimentar durante dias. Durante uma semana.

Começei a respirar o mais silenciosamente possível, apenas pequenas e breves lufadas de ar, a mesma respiração que eu teria se estivesse dormindo. Meu peito se aperta, a pequena esperança crescendo e pronta para me engolir.

Mas um pouco distante da corça havia um par de olhos dourados brilhando nos arbustos.
Minhas mãos ficam frias, e tenho certeza que não é por causa do frio. Escondido entre os arbustos, o lobo se aproximou, espreitando a corça.

Ele é enorme, maior que um pônei, do jeito que os caçadores nos avisaram, mas parecia ainda não ter notado nossa presença. Uma pequena vantagem. Como se a própria natureza percebesse a presença ali, tudo pareceu parar. Nenhum vento açoitava as pequenas folhas quase completamente congeladas.

𝐀 𝐂𝐎𝐑𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒 𝐃𝐄 𝐅𝐎𝐆𝐎 (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora