Nossa casa.

9 1 0
                                    


Acho que estou casada

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Acho que estou casada. Me casei e nem sei em qual data foi. Patético, Brianna.

— Minha intenção nunca foi te machucar e, honestamente, também nunca foi te ter aqui. — Joe chamou minha atenção. 

Ainda estávamos na sala após assinarmos o contrato. Houve um tempo de silêncio constrangedor.

— Então por que eu estou aqui? Seja sincero comigo, pelo menos agora. — Eu disse e me posicionei melhor no sofá.

Joe respirou fundo e fez o mesmo que eu, mas dessa vez virou pra frente e ficou encarando o papel de parede da sala.

— Joe? — O chamei e pareceu que o tirei de um transe, então ele me olhou.

— Meu pai e seu pai eram muito amigos... Há alguns anos, antes de você nascer meu pai se envolveu com uma mulher depois que minha mãe morreu... — Ele pausou, mas logo continuou. — Ele diz que minha mãe foi o primeiro amor dele e depois do falecimento dela, apenas uma mulher restaurou um pouco da vida que restava nele.

Eu o olhava atenta na intenção de não perder nenhum detalhe e antes que ele perca essa boa vontade.

— Seu pai sempre esteve lá com ele e por ele. Eram inseparáveis, se eu não me engano. Depois que meu pai se envolveu com essa outra mulher ele começou a desconfiar que ela estava traindo-o. Ele daria a vida por ela. Nosso trabalho exige que façamos algumas coisas com nossas próprias mãos, sempre foi assim. Em um dia ele saiu com essa desculpa e como sempre ela ficou em casa, o único que sabia que era um pretexto era o chefe dos seguranças que meu pai tinha. Na época ele não tinha muitos seguranças, não era necessário e ele não era peixe grande.

— Com o que sua família trabalha, Joe? — Perguntei tentando sanar minha dúvida cruel.

Ele me olhou e deu um sorriso de lado.

— O único que sabia como entrar e sair sem ser visto era seu pai. — Ele me ignorou completamente e continuou a história. — Ele deu um tempo fora de casa e voltou logo depois, um tempo bem diferente do que ele costumava ficar fora. A casa estava vazia, exceto o quarto dele. Ele não chamou por ela nem por ninguém. No fundo ele sabia o que ia acontecer. Chegou no quarto e encontrou o Chase e a Jane aos amassos na cama que ele dormia com ela. Foi dali para o ralo. Meu pai tentou matar seu pai e sua mãe naquele dia, mas foi quando ele descobriu que Jane estava grávida. Grávida de você.

— É por isso que estou aqui? Por vingança de vocês contra o Chase? — Eu disse com a testa franzida, tentando entender todo o desenrolar.

— Não, você está aqui porque estou te protegendo do meu pai. — Ele se encostou no sofá ainda me olhando. Da minha boca eu não conseguia tirar nenhum som sequer, apenas abrir e fechar, e ele percebeu o meu espanto. — Relaxa, Brianna.

— Por que preciso ser protegida do seu pai? Eu não tenho nada a ver com isso. — Minha voz saiu mais estridente do que eu planejava.

— Ele nunca esqueceu sua mãe. Depois daquele dia ele nunca mais a viu e só deixou Chase vivo porque ela jurou voltar pra ele assim que você nascesse. — Joe revirou os olhos. — O amor é burro.

— Mas então tem chance de sermos irmãos?

— Não, nenhuma chance. Não que eu saiba. Ao que me foi dito, meu pai e Jane estavam um pouco afastados pelos últimos meses antes desse acontecido, e quando ela descobriu da gravidez ainda eram semanas. Ele acha que ficando com você a Jane vai voltar a seu resgate.

— Se ele soubesse da metade... — Sussurrei pra mim mesma. — E como fui parar na casa da minha mãe? — Ele enrugou a sobrancelha pra mim em estado de confusão. — A Madison.

— Ah sim. Quando você nasceu a Jane realmente desapareceu, pelo menos é o que chegou até mim. Chase namorou a Madison e depois que terminaram você ficou com ela. Não posso ser específico sobre isso com você porque a partir daí eu já não sei muito bem o que aconteceu.

Assenti e novamente me surgiu a dúvida.

— Com o que vocês trabalham? — Eu o olhei e dessa vez não tinha nenhuma história que o ajudasse a me ignorar.

Ele se levantou do sofá e se escorou na parede à minha frente, colocou as duas mãos no bolso da calça e me olhou.

— Máfia, tráfico... Um pouco de cada coisa. — Minha boca fez um perfeito O. — Chase também.

O olhar dele pra mim estava descontraído e parecia achar graça da minha feição. Me recompus e logo voltei a perguntar.

— E por que precisa que estejamos casados? — Ele tomou fôlego para falar, mas logo o cortei. — Não me venha com o papo de que precisa de alguém cuidando de tudo pra você.

— Tudo bem. Na máfia a nossa regra mais que absoluta é que família não mata família. Estarmos casados vai salvar a sua vida caso meu pai saiba de você aqui.

— E se alguém quebrar essa regra? — Minha curiosidade falava mais alto.

— Independente da rivalidade os caras se juntam e cada um faz sua parte com aquele que falhou primeiro. Se meu pai ousar tocar em você todos os envolvidos da máfia vão ter um pedaço dele na carteira.

— O que isso representa pra vocês? Quero dizer, eu achei que deixar seu segurança voltar sozinha era desumano, mas você está me fazendo repensar em tudo. 

— Isso representa dignidade e moral. Sangue se paga com sangue. Eu sei que se ele tivesse chegado em você antes de mim não seria nada bom. Eu não sabia de todas essas coisas até aquele dia na lanchonete... Quer dizer, eu sabia que teria que te encontrar, mas eu não sabia o porquê e qual era o plano do meu pai então me juntei com seu pai.

Me levantei e cheguei mais perto dele. Meu estômago estava dando reviravoltas e minha perna estava voltando a doer um pouco, mesmo assim parei de frente com Joe.

— Se juntou com o Chase pra me sequestrar? Que caralhos é isso? — Eu o olhava incrédula e ele parecia não ter um pingo de medo de mim, pois sua posição e feição continuaram iguais.

— Me juntei com seu pai pra te proteger. Eu sei o que é pagar pelo erro dos outros e mesmo que seus pais tenham sido uns filhos da puta com o meu pai, eu não acho que você mereça.

— Ah, sim. Obrigada por me colocar nessa vida miserável, Joe Oconner. — Bati meus braços na lateral do meu corpo e me virei de costas pra ele, deixando que algumas lágrimas caíssem.

— Se reclama daqui então não aguentaria um dia no inferno com meu pai. Acredite, a sua pior imaginação seria o que ele faria de melhor com você.

Abracei meus braços e continuei chorando. Era muita coisa pra um dia só, mas pelo menos alguma coisa estava sendo esclarecida.

Respirei algumas vezes e agradeci a Deus por Joe ter ficado calado por um tempo. Limpei meus olhos e me virei pra ele novamente.

— E quando vou sair daqui? Já assinei a droga do contrato, tem que fazer a sua parte.

— Calma, Boneca! — Ele se aproximou mais de mim. — Já está quase tudo pronto pra sua chegada. Quando menos esperar, você estará em casa. Na nossa casa. — Ele enfatizou a última parte.

Estávamos bem próximos e intercalávamos nossos olhares.

Respirei fundo e dei as costas a ele. Subi as escadas o mais rápido possível, sentindo os nervos das minhas pernas repuxarem e entrei no quarto. Me joguei na cama e chorei tudo o que eu podia e não podia.

O meu choro refletia a dor que eu sentia. A dor que eu sentia era espelho do medo que eu tinha. Medo de não ter um nascer do sol para assistir amanhã.


DESTINYOnde histórias criam vida. Descubra agora