00. Prólogo

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Lucius Malfoy estava gritando.

Parecia um tipo de exibição nada sofisticada para alguém que se orgulhava de sua superioridade social, mas Hermione ficou feliz com o barulho. Apesar do fato profundamente perturbador de que ela concordava completamente com o patriarca Malfoy, havia uma espécie de alívio profundo em ouvir alguém expressar sua indignação de maneira tão explosiva. A indignação de Hermione ainda não tinha superado o desespero silencioso e incrédulo.

Uma explosão viria mais tarde para ela, disso ela tinha certeza. Mas nessa altura, esta reunião estaria há muito adiada e as suas queixas cairiam nos ouvidos surdos do Ministro. Ela provavelmente se arrependeria de não ter aproveitado a oportunidade para dizer o que queria, mas os meros momentos em que conseguiu desviar os olhos do pergaminho em suas mãos foram mais do que suficientes para reconhecer a expressão cuidadosamente vazia esticada nas feições de Kingsley. Ele estava ministrando uma aula magistral sobre como ceder ao acesso de raiva de um homem adulto. Nada que alguém nesta audiência tivesse a dizer o influenciaria.

A unha do polegar de Hermione escorregou mais uma vez no rasgo perto do canto superior esquerdo da página que ela segurava – o rasgo que havia se desenvolvido por volta das duas horas da manhã, algumas horas depois que a carta foi entregue por uma coruja certificada. Nesse ínterim, a preocupação constante entre seus dedos havia avançado quase até o papel timbrado estampado no topo da folha. Em poucos minutos, haveria um cisma irreparável entre Ministério e Magia na página.

Irônico, visto que as palavras no pergaminho falavam em criar laços em vez de quebrá-los.

Hermione levou vários segundos para registrar o silêncio repentino na sala, e ela olhou para o lado a tempo de ver Lucius desabando na cadeira ao lado de sua esposa. Narcissa Malfoy sentou-se ereta, os olhos fixos incisivamente à frente, como se estivesse determinada a observar o mínimo possível do ambiente.

Kingsley ficou sentado imóvel por vários segundos, marcado pelo tique-taque silencioso de um relógio de ouro ornamentado em sua mesa enorme. Ele parecia estar esperando pela próxima enxurrada de reclamações, mas quando nenhuma veio, ele falou.

— Eu aprecio sua preocupação, Lucius — ele começou, com as mãos confortavelmente cruzadas sobre sua cintura, — mas, como você sabe, as estipulações da legislação são claras: seu filho foi designado para se casar com a Sra. Granger, e ele o fará se não quiser voltar para Azkaban.

O som do nome da prisão pronunciado no tom profundo de barítono de Kingsley pareceu ecoar direto através do Malfoy mais jovem. Ele estremeceu na cadeira, o primeiro sinal de vida desde que entrou na sala, cinco minutos atrás.

Hermione não tinha ideia do que esperar quando recebeu uma segunda carta, esta escrita em papel timbrado dos Malfoy em vez de Ministério, solicitando sua presença em uma apelação na manhã seguinte. Ela estava muito preocupada com a ideia de ser forçada a se casar com Draco Malfoy para considerar o fato de que ele ficaria igualmente descontente com a ideia de se casar com ela. Ela ficou surpresa que os Malfoys conseguiram garantir uma reunião privada com o Ministro em tão pouco tempo, mas dada a intensidade do descontentamento de Lucius, talvez Kingsley estivesse realmente seguindo o caminho de menor resistência ao ouvi-lo sem demora.

— Essa designação é uma farsa — Lucius sibilou. — Disseram-nos que as combinações seriam baseadas na compatibilidade mágica.

— E eles são mesmo — respondeu Kingsley.

Draco bufou.

Um lampejo de indignação atravessou o frio desânimo no peito de Hermione ao ouvir o barulho. De todas as milhares de pessoas com as quais ela poderia ter sido pareada, tinha de ser alguém que a considerava inferior. Ela se sentiu tentada a agradecer pela combinação só para irritá-lo.

Embora ela não tivesse ouvido nada sobre Malfoy desde sua libertação de Azkaban, assim que colocou os olhos nele naquela manhã, ela percebeu que nada nele havia mudado. Apesar de estarem ali reunidos para discutir uma decisão que alteraria todo o curso de suas vidas, o olhar dele deslizou pela cadeira em que ela estava sentada como se estivesse vazia. A única evidência de que ele estava ciente da presença dela estava na postura altiva de seus ombros, na leve curva de desdém em seus lábios. E embora agora estivessem sentados perto o suficiente para que seus braços quase se tocassem, em vez do calor de um corpo humano real ao lado dela, tudo o que ela conseguia sentir era uma mortalha de indiferença arrogante.

— Kingsley — ela começou, sua voz rouca pelo desuso. — Certamente a compatibilidade é um espectro. Deve haver outros pares adequados.

— Adequado, sim — ele concordou. — Mas não é o ideal. Estamos falando sobre o destino do mundo mágico, Hermione, e sacrifícios individuais devem ser feitos para um bem maior.

Ela se irritou com a frase, mas ele continuou. — Pedimos a todos os cidadãos elegíveis que se doem pelas gerações futuras.

— Se doem? — Hermione repetiu incrédula. — Eu dei toda a minha infância para a guerra, e isso não foi suficiente? Você precisa do resto da minha vida também?

Deu sua infância — Malfoy zombou com um sorriso de escárnio. — Merlin, me poupe.

— E o sua foi roubada — ela retrucou. — Você já cumpriu pena por seus crimes. Você está tão ansioso por outra?

— Isso depende — ele falou lentamente. — Você está se referindo a se casar com você ou voltar para a prisão?

— Qualquer um — ela cuspiu.

— Bom ponto — ele disse com um sorriso.

Hermione revirou os olhos, voltando-se para o Ministro. — Essa sentença é absurda, Kingsley, quero dizer...

— Vinte anos...

— É o mínimo para homicídio — reclamou ela.

— Talvez você possa simplesmente me matar e fazer um favor a nós dois — Malfoy ofereceu.

— Não estou descartando isso! — ela gritou.

— Isto não é uma negociação! — Kingsley explodiu de repente. Hermione sentiu seu queixo recuar de surpresa. Ele continuou em voz baixa, mas o tom não era menos severo. — Você vai se casar ou passará vinte anos em Azkaban. Não há alternativas.

Ele olhou para cada um deles, mas ninguém falou. O grande peso da desesperança voltou às entranhas de Hermione quando o Ministro olhou novamente para a legislação à sua frente.

— Agora — continuou ele, — foi levado em consideração o fato de que muitos casais serão formados por estranhos. Por essa razão, vocês terão duas semanas após a cerimônia para se conhecerem antes de serem solicitados a consumar sua união...

— Isso é nojento pra caralho — Malfoy explodiu, parecendo realmente irritado pela primeira vez. Hermione observou quando ele se levantou e saiu furioso da sala.

Isso doeu.

Não deveria ter doído - ela sabia o que ele pensava dela - mas doeu.

Hermione nunca poderia imaginar um futuro em que se casaria com alguém que tivesse nojo dela, mas, dois dias depois, é exatamente isso que ela faz.

Ten Out Of Ten | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora