Entrei em casa com minha enxaqueca forte por causa do meu choro durante todo o caminho, coloquei minha bolsa no sofá e sentei no mesmo com meus olhos marejados.. não acredito que deixei a minha família intervir em meu relacionamento com a mulher da minha vida..moro com meus pais e meus irmãos, eles não me deixam sair..minha mãe consegue me prender a ela..e eu acabo me sentindo culpada se saio de casa. Suspirei enxugando meu rosto, e subi para o quarto..a Lúcia mora aqui por causa da minha mãe..ela a chamou, e para evitar mais brigas preferi não intervir. Joguei a bolsa na cama, e fui direto tomar banho para afastar os pensamentos.. saí do banheiro com o meu pijama, e sentei na cama.
Peguei meu livro em cima da minha cômoda, e o abri na página em que tinha parado..
Flashback On
Entrei no banheiro do hotel em que estávamos passando o fim de semana juntinhas, e sorri boba ao ver a S/n se maquiando para irmos jantar. Deixei um beijo no ombro dela que estava descoberto, e a mesma sorriu em frente ao espelho.
- Você está tão bonita - falei risonha deixando mais e mais beijos..- Não é atoa que me apaixonei por você tão rápido.
- Se apaixonou porque sou bonita? - ela deu risada virando pra mim -..Nem sou lá essas coisas, meu amor.
- Pra mim você é tudo - respondi dando um selinho demorado nela - E não foi só por isso que me apaixonei..foi porque você é especial, gentil.. inteligente.. simpática.. carinhosa.. esforçada..e muitas outras coisas que eu podia passar a noite falando.
- Quer mesmo casar comigo? - ela perguntou com nossas testas coladas - ...porque tem que ser tão difícil lidar com a sua família?
- Porque eles são tradicionais demais, meu bem..quase não me aceitaram por gostar de mulheres - respondi suspirando e ela me deu um selinho - E sobre a sua primeira pergunta.. eu quero muito..e ninguém vai me impedir de casar com você.
Ela soltou um sorriso bobo, e eu a beijei sentindo o gostinho do gloss de framboesa que ela estava usando...
Flashback Off
Me peguei sorrindo boba para o livro lembrando de quando eu realmente era feliz, e me assustei com a Lúcia entrando em meu quarto.
- Oi, meu amor - ela veio até mim - Nossa, você demorou..onde estava?
- Resolvendo algumas coisas - respondi suspirando e a mesma me beijou - ..
- Não vai jantar? - ela perguntou tirando o meu livro de mim e sentando em meu colo.
- Tô cansada, só quero dormir - respondi com ela beijando o meu pescoço - .. Lúcia, eu disse que estou cansada..e que quero dormir.
- Só um pouco, meu amor - ela pediu ainda me beijando - .. antigamente você gostava...faz mais de um ano que você nem sequer me beija direito.
- Eu não quero, será que você não entende? - falei tirando ela do meu colo - Para de tentar me forçar a transar, eu não quero.
- Você nunca quer, Lena - ela retrucou incrédula - Qual o seu problema?
- Eu que pergunto qual o seu problema - respondi irritada e me levantei da cama - Coloca uma coisa na sua cabeça, que eu nunca vou transar com você..nem com esse casamento absurdo que só estou para a minha família não perder todo capital por causa de um erro que o meu irmão fez.
- Não fala isso, Lutessa - ela falou irritada vindo até mim - Isso tudo porque você ainda não esqueceu aquela mulher, não é? Até quando ela vai se intrometer em nossas vidas?
- Deixei claro que não amava você..e eu não vou falar sobre a S/n com você..- retruquei com uma risada sem graça e peguei a minha bolsa na poltrona do quarto - Se quiser continue falando sozinha.
- Claro, é isso que você sempre faz - a mesma retrucou vindo atrás de mim - VOCÊ É CASADA COMIGO, NÃO PODE SAIR ASSIM SEM ME DAR SATISFAÇÃO.
- EU POSSO FAZER O QUE EU QUISER, INCLUSIVE ME DIVORCIAR DE VOCÊ - retruquei incrédula descendo as escadas e os meus pais saíram do escritório junto com o meu irmão e a mulher dele.
- O que está acontecendo? - ouvi a voz da minha mãe - Lena, para onde você vai?
- Embora dessa casa - respondi sentindo os meus olhos marejados - Eu cansei.
- Eu não vou assinar o divórcio, Lena - a Lúcia falou irritada e a minha mãe me olhou incrédula - Você está de cabeça quente porque aquela vadia voltou.. ela foi atrás de você depois de ter te largado aqui, será que você não percebe?
- Outra vez essa mulher, Lutessa? - a minha mãe falou incrédula - Eu não vou permitir você trazer problemas para essa casa outra vez.
- O que merda você falou pra ela, hein? - olhei para a minha mãe.
- Olha como você fala, Lena - o meu pai me repreendeu - Todo mundo aqui quer apenas o seu bem.
- Meu bem, papai? - falei com uma risada sem graça - Eu perdi o amor da minha vida por causa de vocês..eu perdi a chance de ser feliz, por causa de vocês.. por causa do preconceito de vocês, por causa das humilhações que eu fiz a S/n passar porque queria a aprovação de vocês e queria que ela conhece os meus pais que eu tanto falava bem..mas vocês são uma vergonha pra mim.. tenho vergonha de fazer parte de uma família que sobrevive à base de mentiras.
Saí de casa ouvindo minha mãe me gritar, e adentrei no carro sentindo o meu choro sair..liguei o carro, e dei partida para um bar que sempre vou com a Andrea..pelo menos lá sei que eles não vão me achar..eu tô tão cansada de viver agradando as pessoas e relevando tudo que eu sinto.. tão cansada.
Estacionei o carro em frente ao bar, e adentrei no mesmo ouvido meu telefone tocar na bolsa..sentei em uma das mesas vazias e pedi uma rodada de whisky para me fazer esquecer um pouco dos problemas da minha vida..senti o meu choro sair de mim e suspirei.. não acredito que estou casada com a Lúcia.. não acredito que pude fazer isso por causa de dinheiro..
Não sei quanto tempo fiquei nesse bar.. não liguei para a Andrea, eu só queria ficar sozinha um pouco.. sem ninguém tentando me manipular. Enxuguei o meu rosto, e bebi um o resto do whisky da quinta garrafa.
- Moça, com licença - ouvir alguém se aproximar - Precisamos fechar o bar... Já já passamos do horário e só tem a senhorita aqui.
- Me desculpe, eu não percebi isso - falei um pouco sem graça - Já estou indo embora..
O moço assentiu, e eu paguei a minha conta.. levantei um pouco tonta da mesa e me equilibrei segurando na mesma. Respirei fundo para minha visão parar de turvar, e peguei minha bolsa. Saí do bar, e fui para o meu carro..assim que entrei nele peguei meu celular com minha mente um pouco embaralhada.. disquei o primeiro número que veio em minha cabeça, e o coloquei no ouvido.
- .. Alô?
- S/n..- falei com a voz embargada - .. Você pode me ajudar?..por favor..
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