Fiquei especada a olhar para o rapaz desmaiado à minha frente.
- Estás acordado?- perguntei, mexendo a cabeça em diversos ângulos para ver se conseguia detetar algum movimento.
Dei uma passa no cigarro e dei-lhe dois toques para sacudir a cinza. Esperava que ele se mexesse mas nada.
Cutuquei-lhe com o pé para ver se ele mexia alguma coisa, mas nada. Suspirei exasperada e atirei o cigarro ao chão pisando-o com o meu pé. Virei de barriga para cima, na tentativa de o acordar.- Eiii - batia-lhe na cara para o tentar acordar.
O rapaz abriu os olhos, mas não me pareceu totalmente consciente.
- Vamos la, ajuda-me a meter-te para cima. - disse enquanto encaixava o braço dele no meu ombro e o puxava para cima. Ele conseguiu suportar o seu próprio peso, mas não por muito tempo e caiu mesmo a tempo no banquinho. Sacudi os braços, peguei na minha mala e fui até ao carro. Muito já tinha feito eu por não o ter deixado no chão. Ainda por cima aquele arrogante.
Abri a porta do carro e olhei para ele ao longe. E se lhe acontecesse alguma coisa? E se alguém lhe vem fazer mal? Ou algum animal? E se ele se sente mal e está aqui sozinho? Estava especada a olhar para ele. Respirei fundo e fechei a porta do carro voltando para a beira do rapaz.Bati-lhe novamente na cara. Ele já tinha adormecido outra vez.
- Ohhhh - chamava.
O rapaz abriu os olhos e pareceu assustado por estar tão perto dele. Afastei a minha cara um pouco da dele e comecei a vasculhar na mala por um rebuçado que eu sabia que tinha para lá perdido.
- Toma - disse, sacando o rebuçado. - come isto.
Não valia de muito, mas era melhor do que não ter absolutamente nada no estômago. Ele meteu vagarosamente o rebuçado na boca.
- Ok, agora fala comigo. - chamei-lhe a atenção e ele olhou para mim. - quem é que eu posso chamar para te vir buscar?
- ninguém. - ele respondeu baixinho.
- Não queres que tente chamar os teus pais?
- o meu tio está a trabalhar.
Para uma pessoa bebada, ele até respondia bem.
- Não tens ninguém em casa ou um amigo que te possa vir buscar? - voltei a perguntar.
- Não. - ele respondeu.
Eu não sabia se ele estava a dizer a verdade ou se aquilo era só resposta de bêbado. Sabia que não o conseguia deixar sozinho, e sabia que ninguém o podia vir buscar.
- Onde vives? - perguntei. Estava agachada com a mão na perna dele e a tentar ao máximo que ele me prestasse atenção.
- No parque dos trailers. - ele respondeu.
- Ok, ok. Tens chave de casa? - perguntei
- Tenho. - ele fez um grande movimento e tirou a chave do bolso. Eu peguei nas chaves e guardei-as, não fosse ele as perder.
- Ok - eu disse batendo-lhe na cara outra vez para ele ficar mais acordado. Ele soltou um "au"- ajuda-me a levar-te!
Voltei a encaixar o braço dele no meu pescoço e pé ante pé com muito esforço consegui o levar até ao meu carro onde ele caiu com força no banco da frente. Ajudei-o a meter as pernas para dentro e a meter o cinto de segurança e fechei a porta. Entrei no carro e pensei. Eu sabia mais ou menos onde ficava o parque de trailes. Não ia ser muito difícil.
Liguei o carro e começou a tocar uma cassete dos Metallica que eu tinha metido no carro. O rapaz ganhou forças do além e arregalou os olhos e levantou a cabeça.- Tu? Tu ouves Metallica? - ele perguntou super surpreendido.
- Sim - respondi.
Ele foi o resto do caminho a cantarolar muito mal as músicas. Avancei na estrada e demorei 15 minutos a lá chegar. Para minha satisfação ele estava bastante desperto, os Metallica tinham o acordado.
- Qual destas é a tua casa? - perguntei.
- Aquela. - ele disse apontando arduamente com o dedo para um segundo trailer na fila da esquerda.
Parei o carro, sai e ajudei-o a sair. Ele parecia estar a caminhar melhor, mas do nada tropeçou e caiu. Ajudei-o a levantar e dei-lhe o braço para ele não voltar a cair. Subimos as escadas para a porta e tirei as chaves do bolso. Ele olhava fixamente eu a colocar a chave na fechadura e a não abrir. Ele deu dois passos atrás e olhou a casa.- Esta não é a minha casa. - ele disse, como se eu é que tivesse decidido ir para aquela.
- Estás a gozar comigo? São 3 da manhã!
Ouvimos pessoas dentro da casa a fazer barulho. Eu agarrei-lhe no braço e arrastei-o correndo o mais depressa que conseguia com aquele atrelado atrás de mim.
Escondi-nos atrás de um trailer e a pessoa da casa veio espreitar cá fora.- QUE SEJA A ÚLTIMA VEZ QUE FAZEM BRINCADEIRAS DESTAS, ESTÃO AVISADOS. - o homem seminu gritou. Ele fechou a porta e voltou para dentro de casa. O rapaz começou a rir-se.
- Não tem piada nenhuma. - respondi ao riso. - pára de te rir e diz lá onde é a tua casa!
- É aquela. - ele disse apontando para uma casa distante com um sorriso muito matreiro.
- Estás a falar a sério ou a gozar? Eu não vou andar aqui a correr os trailers todos às 3 da manhã, se não for aquele ficas onde estás. - ameacei.
Ele ficou sério.
- É para trás. - ele respondeu.
Ajudei-o a levantar-se e voltamos para trás. Tínhamos estacionado o carro mesmo em frente à casa dele e ele fez-me caminhar até longe. A porta abriu-se com facilidade e levei-o até ao sofá onde ele se deitou e instantaneamente adormeceu. Foi tiro e queda. Sorri, satisfeita com o meu trabalho, e dirigi-me para a porta. Agarrei na maçaneta fria para a fechar e comecei a ouvir ele a engasgar-se. Deu-me um arrepio enorme na espinha. Corri para trás e virei-o de lado e ele vomitou para o chão. Eu estava a tremer e os meus olhos enchiam-se de lágrimas em pânico.- Calma. Calma. - dizia com medo na voz.
Ele continuou a dormir como se nada tivesse acontecido. Ele vomitou, portanto devia ficar bem, mesmo assim, ponderei em levá-lo ao hospital. Arranjei uma esfregona e limpei o vómito. Sentei-me na poltrona ao lado do sofá. Olhava para ele, quieto e a dormir profundamente, parecia que estava bem, mas agora não conseguia ir embora. Não o podia deixar depois de quase o ter deixado a morrer engasgado. Demorei algum tempo a adormecer, pois ainda estava em choque com o que tinha acontecido. Mas eventualmente, acabei por fechar os olhos.
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Turning point - Stranger Things fanfic
FanficLisa muda-se para Hawkins, onde vive com a tia e o primo Dustin, depois da morte do seu pai. Mal ela sabe por tudo o que vai passar.