4 - Raparigas como eu

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Os dias foram passando, e o trabalho manteve-se igual. O bar era extremamente parado, agora percebo porque o Osvaldo não se tinha dado ao trabalho de empregar mais alguém até agora. Saia de lá sempre às 2 da manhã, fumava o meu cigarro e ia para casa.
Passava o dia ou a ver televisão, ou a escrever no meu diário ou a fazer recortes de revistas. A verdade é que não tinha amigos, a minha tia ia trabalhar durante o dia e era bastante aborrecido estar sozinha. Mas ao mesmo tempo era tranquilizante.
Era sexta, por isso estava à espera de mais trabalho. Jantei qualquer coisa rápido. A minha tia tinha ido às compras hoje e por isso ainda não estava em casa.
Fiz umas sandes de ovo e bacon e passado 15 minutos sai de casa. Já estava um pouco atrasada.
Cheguei 5 minutos depois da hora.

- Desculpa Osvaldo.

- Sem problemas miúda. Não está aqui ninguém ainda e não.

Passado uns 5 minutos chegaram 2 clientes.

- Boa noite, são 2 cervejas. - pediram

Estes clientes eram amigos de Osvaldo, por isso não me chatearam e ficaram só a conversar com ele, sentados ao balcão.
Entretanto, chegou a banda do costume, bastante apressados, porque chegaram mais tarde que o normal. Ao mesmo tempo chegaram mais clientes que se sentaram na mesa perto deles. Fui atende-los

- Boa noite. - cumprimentei

- Empregada nova? - o homem disse olhando-me de cima abaixo.
Revirei os olhos. Já estava farta daqueles comentários com segundos tons.

- E tem uma atitude. - o outro observou, fazendo cara de nojo- são 2 cervejas

Virei costas e caminhei até ao balcão. Peguei nas duas cervejas e servi. Voltei para o balcão e um dos rapazes da banda, o de cabelo comprido, veio na minha direção.

- São 3 cervejas com tequila. - ele pediu

- Tens idade para beber cerveja? - perguntei.

Ele ficou a olhar para mim.

- Bem, não. Mas o Osvaldo serve-nos sempre. - ele esboçou um sorriso de orelha a orelha e inclinou a cara de lado.
Tirei as cervejas e dei-lhe.

- Obrigada. -ele disse.

A noite foi correndo, atendi mais alguns clientes e fui servindo cervejas com tequila à banda. Eles pararam de tocar às 23:30, como ainda era cedo eles sentaram-se numa mesa depois de arrumar tudo. Pediram mais uma rodada e algo me dizia que já estavam a ficar tocados. Bem tocados.
O ambiente estagnou e estive uns 10 minutos no balcão só a olhar até que decidi ir falar com o pessoal da banda. Afinal eles tinham mais ou menos a mesma idade que eu e era sempre melhor do que ficar a olhar para a parede.
Aproximei-me deles, sorridente. Ouvi eles bastante entusiasmados a falar sobre alguma coisa que se chamava D&D.

- Então, do que estão a falar? - perguntei pondo o meu braço na cadeira do rapaz de cabelo comprido.

- Ah.... Bem... nós estávamos a falar sobre... o novo álbum da Madonna. - o rapaz de cabelo encaracolado disse.
Fiz uma cara de confusa e ri.

- Vá lá? Da madonna? Até aposto que vocês ouvem muito Madonna. O que estavam a falar digam lá! - insisti.
Os dois rapazes olhavam um para o outro engasgados nas palavras. O outro tinha a cabeça pousada na mão e parecia sem reação.

- Ele está a brincar. Nós estávamos a falar sobre ginásios. - o outro amigo disse.
Do nada, o rapaz de cabelo comprimido levantou a cabeça, completamente exasperado e virou-se para mim.

- Podes ter a certeza que estávamos a falar de algo que não te interessa mesmo para nada. Mais vale voltares para o balcão do que vires-te meter numa conversa que não te vai dizer nada.

Eu levantei as sobrancelhas surpresa. Senti-me mesmo atacada e envergonhada. Simplesmente virei costas e voltei para o balcão.

Eddie's POV
A rapariga virou costas e voltou para o balcão. Pareceu ter ficado um pouco abalada com o comentário, mas não foi para menos.

- Vocês não podem ver uma rapariga bonita a falar para vocês que querem logo mudar toda a vossa personalidade. - comentei.

Os meus amigos ficaram calados, mas olharam um para o outro.

- Eddie, tu foste mesmo arrogante com a rapariga. - Gareth disse.

- Ela supera - eu respondi dando mais um gole na minha cerveja. Estava a senti-la a entrar-me no sistema.

- Não Eddie. Tu foste mesmo chunga. Tens que pedir desculpa.  - Jeff esclareceu.

- Vocês não estavam a ser verdadeiros a vocês próprios! - insisti.

- Ok e até tens razão nisso, mas era mesmo escusado teres falado assim para a rapariga. Ela estava a ser mesmo simpática. - Gareth disse

Recostei-me para trás na cadeira enquanto olhava para a cerveja.

- Ok, secalhar foi um bocadinho de mais... - admiti.

- Foi... bastante.

- Eu vou pedir desculpa então.

Pedimos mais duas rodadas e voltamos à conversa do D&D. Quando fomos a ver já tínhamos pedido mais 4.

- Já está na hora de irmos para casa - Jeff alertou.

- Eu não posso conduzir assim. É melhor chamarem a mãe do Gareth. - estava me a sentir mesmo bêbado. Nem quero imaginar como estava se me levantasse.

- Tens a certeza? E depois como vais para casa? - Gareth perguntou.

- Eu fico a dormir na carrinha. Vocês é que não podem, a vossa mãe quer vos em casa.

Os meus amigos despediram-se de mim e eu pedi mais uma cerveja para mim. O café fechava e eu pedi mais uma. O Osvaldo veio-me ajudar a meter cá fora e sentou-me no banquinho à porta. Eu não podia ir já para a carrinha, tinha de esperar pela rapariga para lhe pedir desculpa. Via tudo a andar à roda.

Lisa's POV
Peguei no meu casaco e na minha mala. Osvaldo já estava à minha espera na porta para a trancar. Sai e vi o rapaz sentado no banco completamente desligado da realidade.

- Vá Lisa, tenho que ir para casa, ficas aí? - Osvaldo perguntou.

- Sim, não te preocupes. - respondi enquanto ligava o cigarro.

- Até amanhã então. - ele despediu-se

Osvaldo entrou no carro e saiu. Eu fumava e olhava para o rapaz. Ele olhou para mim e levantou-se. Pé frente pé, cambaleando pelo o caminho, o rapaz abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa e quando chegou mesmo perto de mim, caiu inconsciente aos meus pés.

Turning point - Stranger Things fanfic Onde histórias criam vida. Descubra agora