Verônica corria com urgência pelos corredores do hospital, vindo com pressa de seu esconderijo, de onde saíra tão estabanada que quase esquecera sua peruca. O motivo da agonia era simples: alguns minutos antes, havia recebido uma ligação do hospital, com a notícia de que sua irmã "Tânia" havia despertado e chamado por alguém; chamou um único nome assim que abriu os olhos. O nome?
Verônica.
A escrivã abre a porta do quarto, afobada, encontrando Anita sentada na cama ao lado de um médico que a assessorava. Quando a viu, a delegada arregalou os olhos, abrindo a boca para falar algo; Verônica foi rápida:
- Meu Deus, Tânia, você acordou! - Exclamou ela, chamando a atenção do médico e fazendo Anita contorcer o rosto em confusão - Oi, doutor, eu sou a irmã dela.
- Ah, sim, seja bem-vinda! - Começou o médico, simpático - Então você...
- O que essa mulher tá fazendo aqui? - Questionou Anita, a voz rouca por desuso - Que história é essa de Tânia? Irmã? Essa mulher é uma criminosa, eu nunca...
- Doutor, é natural depois de um tempo desacordada a pessoa voltar meio confusa, não é? - Verônica tentou tomar as rédeas da situação - Meio perdida?
- Sim, com certeza. - Ele afirmou, um pouco desconfiado.
- Eu sei que o senhor veio cuidar da minha irmã mais nova, e eu agradeço por isso. - Verônica segurou o braço dele, querendo passar segurança e gratidão - Mas será que eu podia ficar a sós com ela um pouquinho? Pra tentar situar ela um pouquinho, tranquilizar...
O médico olhou para Verônica, perscrutando seu rosto, tentando achar alguma sombra de algo errado ou dúbio; quando ele voltou o olhar para Anita, a escrivã cravou os olhos na delegada, séria, tentando passar a urgência da situação, pedindo uma colaboração silenciosa. Anita franziu o cenho, intrigada.
- Certo, eu vou estar lá fora. Vou dar uns minutinhos pra vocês, tá bem? - Disse ele por fim, sorrindo de leve para Verônica - Vou dar uma olhada em outros pacientes.
O profissional saiu do quarto, finalmente deixando as duas mulheres sozinhas. Assim que a porta fechou, Anita falou com a voz raivosa:
- Agora você pode me explicar o que porra tá acontecendo?
Verônica respirou fundo, tirando a peruca e sentando na poltrona, pressionando as têmporas com os dedos.
- Surpresa, você está viva. - Disse ela, com a voz cansada - É um milagre.
- Deixa de palhaçada, Verônica. - Retrucou Anita - Que história é essa de irmã? Tânia? O que eu tô fazendo nessa cama de hospital?
Verônica tentou reorganizar os pensamentos, respirando fundo mais uma vez, sustentando o olhar duro de Anita. De fato, precisava explicar tudo o que tinha acontecido para que pudesse ir para algum lugar, mas sequer sabia de onde começar.
- Anita. - Disse, por fim - Qual é a última coisa que você se lembra?
A delegada franziu o cenho, confusa; não só pela pergunta inusitada, quanto pela situação que estava, como também pela confusão que percebera nublar sua mente com as últimas lembranças que possuía. Realmente, era uma pergunta válida: qual era a última coisa que lembrava?
- Eu liguei pra você. - Respondeu, se recordando aos poucos - Pior decisão que tomei na vida.
Verônica ignorou a alfinetada e foi direto ao ponto:
- E o que aconteceu depois?
Silêncio.
- Anita. - Repetiu a ex escrivã, com mais dureza e seriedade na voz, preferindo deixar as cerimônias de lado e arrancar o Band Aid de vez - Eu entrei no seu apartamento e encontrei você morta. Alguém entrou lá e assassinou você. Se eu não tivesse chegado, nem aqui você estaria. Agora me diga o que aconteceu.
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Faíscas
RomancePrincipal suspeita do assassinato de sua rival, delegada Anita Berlinger, Verônica Torres se vê forçada novamente a fugir; sem saber das ameaças que ainda se aproximam, principalmente de sua família, a antiga escrivã procura um jeito de provar sua i...