Verônica fecha a porta atrás de si, a cabeça quente tamanha a irritação e frustração. Esperou tanto tempo para aquela peste acordar, e agora que acordou, quase desejava que ficasse inconsciente de novo.
Ela lembrava perfeitamente de como Anita fora a responsável, direta e indiretamente, de muitas das coisas ruins que recaíram sobre ela. Isso não era algo que ela esqueceria tão facilmente. Mas ela estava disposta, em todas essas semanas, a colocar isso em menor prioridade; Anita havia ligado procurando cooperar. Ela era sua última saída para tentar retomar sua vida. Isso tinha que contar alguma coisa.
Mas aí, a delegada Anita Berlinger resolveu abrir a boca.
- Ei. - Chamou Verônica, olhando para o guarda que ficava na porta - Ninguém entra, e ninguém sai, ok?
Ele assentiu, e a escrivã colocou novamente a peruca e apertou com força o capacete que segurava. Precisava socar alguma coisa. Anita deveria estar agradecendo a Deus por ter sido deixada pra trás por Verônica naquele estado.
Depois de sair do hospital e pilotar para algum lugar distante, Verônica desceu e se sentou em uma lanchonetezinha simples de beira de estrada. Mesmo que andar de moto tivesse se tornado sinônimo de necessidade e sobrevivência para ela, sentir o vento perfurando sua pele enquanto pilotava passou a ter um efeito terapêutico nela. Ela conseguia clarear a cabeça, pensar com mais frieza.
Verônica pegou o celular, ligando novamente para Glória. Precisava tratar isso com ela com urgência, precisava tratar disso com alguém. Ela evitava pensar nisso para não perder completamente a cabeça, mas a solidão que a acometia desde que escolhera esse caminho às vezes perigava ser muito para suportar.
- Eu não disse que ia te ligar? - Respondeu Glória assim que atendeu.
- Desculpa. Muita coisa na cabeça, precisava falar com você.
- Tudo bem. - Se fosse outra situação, uma em que Verônica pudesse se dar ao luxo de apreciar coisas simples, ela passaria um bom tempo apenas agradecendo a paciência e compreensão de Glória - Eu estava acompanhada de policiais federais antes. Por isso não podia falar.
- Mas tá tudo bem? Teve alguma alteração no caso?
- Não, fica tranquila, tá tudo certo. Não era nada demais. - Ela logo descartou o assunto - Então, nossa bela adormecida finalmente acordou?
Verônica bufou, impaciente de novo só de pensar em Anita.
- Juro, Glória. Incrível como ela fica maravilhosa de boca fechada. - Reclamou, fazendo a delegada rir do outro lado da linha - Se não fosse caso de vida ou morte eu consideraria induzir ao coma de novo, tô falando sério.
Glória riu mais um pouco.
- Posso concluir então que ela não colaborou?
- Não só não colaborou como resolveu atrapalhar, também. - Verônica soltou uma lufada de ar, frustrada - Ela se recusa a depor. Não quer aparecer, não quer falar comigo sobre nada, tá pouco se fodendo pra como isso ferra comigo.
- Ela não quer falar?
- Não. Diz que agora que sabe que tem alguém tentando matar ela, não tem motivo nenhum pra aparecer e facilitar o trabalho deles.
Do outro lado da linha, Glória fez silêncio. Parecia ter receio de falar alguma coisa. Verônica revirou os olhos e suspirou, apoiando a testa na mão.
- Você tá dando razão a ela, não é?
- Eu não disse isso. - Defendeu-se Glória - Claro que não dou razão a ela. Mas, Verônica... Você não acha que o raciocínio dela é razoável?
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Faíscas
RomancePrincipal suspeita do assassinato de sua rival, delegada Anita Berlinger, Verônica Torres se vê forçada novamente a fugir; sem saber das ameaças que ainda se aproximam, principalmente de sua família, a antiga escrivã procura um jeito de provar sua i...