two

171 24 13
                                    

Steve está atrasado para o primeiro dia de aula. Em partes, porque quando finalmente cai no sono, o dia está nascendo, mas principalmente, porque quando acorda, todas as roupas que  tinha arrumado com Robin sumiram, exceto por uma camisa velha de Caverna do Dragão e uma calça jeans remendada no traseiro com uma linha verde fluorescente — a única que a mãe tinha em casa no momento.

"Maldito punk!"

Lá ia sua chance de causar uma boa primeira impressão.

Se veste mesmo assim e capricha no gel de cabelo porque seria a única coisa apresentável naquele dia. Está pronto para sair quando percebe que a porta está trancada e a chave não está em lugar algum.

"Maldito, maldito punk!"

Steve revira gavetas e armários, olha embaixo dos poucos móveis. Nada. Lembra-se, então, de quando entrava e saía do quarto de sua ex, Nancy Wheeler — que o trocara por uma bolsa de jornalismo —, pela janela no segundo andar. Coloca a mochila verde-musgo nas costas e força a janela, mas esta fora travada por Eddie antes de sair, com um macete que Harrington ainda não conhecia.

"Maldito, maldito, punk filho da puta!"

Isto se classifica como cárcere privado? Ele se pergunta, certo de que sim.

Steve quase desiste das aulas naquele dia, mas então vê uma luz no fim do túnel. No caso, a luz entrando pelo pequeno vitrô do banheiro privativo do quarto. Se se contorcesse muito, conseguiria escorregar para fora por ele.

Quando enfia a cabeça na pequena janela, vê que ao lado há um cano pelo qual conseguiria deslizar e é o que faz.

Ao pisar no gramado lá fora, grita em comemoração e ergue os dois braços, chamando a atenção de alguns colegas por um segundo. Corando, dá as costas e se apressa para o prédio de Artes (depois de se perder uma ou duas vezes). Está sem fôlego quando chega à sala do Sr. Coleman. É quando o sinal toca, indicando o final da aula.

Steve grunhe, enquanto os colegas se levantam, recolhendo materiais e passando por ele. Ele reconhece uma cabeleira desgrenhada assim que Eddie se aproxima e o agarra pelo colarinho, o jogando contra um dos armários.

"Qual é a droga do seu problema?" Pergunta, despenteado, sonolento e parecendo um pouco doido.

"Parece que alguém levantou com o pé esquerdo hoje" o garoto sorri de lado e Steve bate suas costas contra o metal mais uma vez. "Harder, daddy!" Geme, alto e teatral, atraindo os olhares de outros estudantes e fazendo com que o garoto o solte imediatamente.

Eddie arruma a jaqueta no corpo, vitorioso.

"Eu não pedi para ser seu colega de quarto, sabia? Você meio que não é a companhia dos meus sonhos" Steve resmunga. "Vou pedir para o diretor me colocar em outro quarto, mas até lá, pode me tratar com o mínimo de decência, por favor?"

"Adoro quando imploram" Eddie diz, passando a língua pelo canino, provocador. "Vamos tentar o 'por favor' de novo, de joelhos agora."

"Quer saber, vá se foder!" O menino dá as costas, decidido a seguir para a próxima aula.

"Gostei do que fez no cabelo" Eddie grita à distância e Steve sente arrepios até em partes que não sabia ser possível arrepiar.

No segundo seguinte, corre para o banheiro, se olhando no espelho e vendo que o gel que passara, na verdade, era supercola. Um garoto mais novo sai de uma das cabines e olha para o estilo do outro, com clara surpresa.

"Sou colega de quarto do Eddie Munson" explica, brevemente.

"Ah, sim" compreende. "Boa sorte, cara."

Steve suspira, enquanto fica sozinho no banheiro e tenta tirar a cola dos cabelos, mas está duro feito pedra. Aquela é a última gota. Ninguém mexe com seu cabelo!

𝐑𝐎𝐎𝐌𝐀𝐓𝐄𝐒 | 𝐒𝐓𝐄𝐃𝐃𝐈𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora