Capítulo 1 - Negação

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 Olá, como estão? Estou aqui para relembrar que a história é uma ficção, então qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Além de mencionar que as fases do luto podem ocorrer de maneiras diferentes para cada pessoa e no caso aqui para nossa personagem, Natasha tem mais problemas do que o luto em si. Então, só gostaria de enfatizar que tudo estava acontecendo é coisa da mente dela e não só do sentimento da perda. 
Obrigada a todos que esperaram pela continuação e não se preocupem, G.U.Y também voltará em breve.
Para mais spoiler ou conversa jogada fora podem me encontrar do Instagram: rollike_abuffalo


  "A fortíssima sensação de impotência é horrível. Não te deixa andar, falar, respirar. Você olha para os lados e não vê nada além de paredes te sufocando, a cada instante elas se fecham ainda mais. E talvez exista algo ainda pior. Aquela vista da janela, você enxerga o mundo lá fora, as pessoas vivendo as vidas pacatas, comuns... E aqui está você, os assistindo, impossibilitada de sair pela porta da frente que por acaso, está apenas dois passos.

 Essa é a minha mente. Estou vendo o mundo, sim, eu os assisto, mas não consigo sair e não quero sair. Todos vocês são apenas silhuetas dançantes na minha escuridão. Nas memórias sangrentas, minhas mãos estão sujas, meu corpo, minha alma... Não há nada em mim que não seja assustador.

 Perdi tudo. Perdi a mim mesma desde que posso me lembrar e assim que cai naquela água... Desejei muito morrer afogada, pois minha última lembrança foi o alto disparo.

 Ele o tirou de mim, tirou o resto que poderia ser bom para mim.

 Uriel... Maldito... Uriel... 

  Não vi mais propósito depois de todas as coisas horríveis que pratiquei e vivenciei. Esse meu outro lado, essa criatura que talvez a chame mesmo de Lilith é assustadoramente dominante, controladora, como ela foi.

 Ninguém me entende, ninguém consegue entender o meu desespero, meu medo. Estou mesmo olhando pela janela e a verdade é que... me dá mais desespero e sufoco ver o mundo do que me manter presa. Não quero ver, ouvir, falar...

 Eu não quero mais existir... nem o deslumbre do que um dia já fui".

 Natasha tomava mais três daqueles comprimidos brancos, um gole só da água que sobrou no copo. O ouvido zumbia, as pernas já estavam fracas e bambas, mas continuou a caminhar por aquela cabana estranha. Tudo para ela não fazia sentido, não sabe onde está e nem faz questão. Seu único desejo é calar a própria mente gritante.

 E ela andou e andou, sem rumo algum. Tanto que não percebeu que saiu da cabana, entrando na floresta que uivava pelos fortes ventos. Não via nada além do caminho a frente, as pernas pisavam em falso, começaram a formigar, a sensação subiu para o quadril, logo a cintura, o tronco, alcançando os ombros e o pescoço. Enfim, a mente silenciou, as pupilas dilatadas passaram sem destino de um lado para o outro entre as árvores, acabou tropeçando caindo com força no chão, mas, não sentiu dor, não sentiu nada.

 Natasha apoiou-se de mal jeito, encarou a palma da mão cortada, não era fundo, mas sangrava, não se importou. Entretanto não saiu de onde estava, encostou-se no tronco mais próximo e ficou ali, parada, ouvindo apenas o vento e as folhas balançando.

  Aos poucos tudo começou a escurecer, seus olhos já não identificavam nada a frente. Assim que a escuridão a tomou, a cacofonia ecoou em sua mente que deveria estar sedada como o corpo, mas não.
 Tantas mortes, as vozes, pode sentir as chamas perto, o cheiro da fuligem, os gritos agonizando em dor, dos corpos sendo atingidos pelos disparos, como podia distinguir até mesmo os sons mais grotescos de uma tortura. Ela não quer ouvir, não quer aceitar.

Memento MoriOnde histórias criam vida. Descubra agora