Yuanfen

1K 89 6
                                    


Yuanfen (n.): um relacionamento por forças do destino. A enorme força de ligação

entre duas pessoas.

"Tic tac, tic tac, tic tac, tic tac", o barulho do ponteiro do meu relógio de pulso, que

estava no criado mudo ao lado da minha cama, soava alto para mim em meio ao

silêncio do meu quarto escuro e vazio. As paredes em tons claros de azul,

contrastavam minimamente com as paredes em branco gelo, que se intercalavam. O

inverno havia chegado mais cedo e furioso à costa leste dos Estados Unidos e junto

com ele a neve, que embranquecia a paisagem de Boston àquela altura do ano.

Eu estava na casa dos meus pais para o feriado do natal a uma semana, período em

que as aulas em Harvard eram interrompidas e, embora eu sentisse falta de estar

com eles e a maior parte daqueles dias tivessem sido momentos felizes para mim,

estar sozinha em meu quarto, sem Duda filosofando sobre a vida e sobre a minha vida,

era esquisito e vazio.

Virei-me de lado na cama, agarrando o travesseiro e fechei os olhos, tentando

encontrar, em algum lugar, o sono. Entretanto, pela vez infinita depois de dois

meses, não encontrei o sono em minha mente, mas sim, Luiza Reis. E com ela,

as lembranças dos dois meses mais confusos e conturbados da minha vida.

Flashback. – Dois meses antes.

- O que aconteceu, Valentina? – Duda perguntou, assim que eu entrei no quarto e olhei

para ela e Mari, que estavam sentadas na cama. – Você está chorando?

Suspirei pesadamente e deixei a lágrima presa em meus olhos escorrer pelo meu

rosto e sem responder nada, caminhei até a minha própria cama. Mari e Duda

atravessaram o pequeno espaço entre a cama de Duda e a minha e sentaram-se ao

meu lado.

- O que houve, Valentina? – Mari perguntou, segurando a minha mão.

- Ela foi idiota com você, de novo? – Duda perguntou e eu senti o peso da palavra

"idiota" cair perfeitamente sobre mim.

- A idiota fui eu. – respondi, sentindo meus ombros pesarem demais, como um

reflexo das lágrimas pesadas que eu segurava em meus olhos.

- Nos conte o que aconteceu. Desde o começo. – minha amiga disse, deixando claro

que queria saber exatamente tudo.

Assim, contei às duas, pelos próximos cinco minutos, o que havia acontecido desde

que eu abri a porta do quarto para Luiza. Mari, que já sabia do início da história

porque Duda já havia contado, não ficou de fora em entender coisas que nem eu

entendia.

- Espera, então você está fazendo esse drama todo porque dispensou a professora

Reis? – Mari perguntou, sendo objetiva e direta.

- Eu não acho que ela esteja fazendo drama... – Duda me defendeu.

- Está sim! – Mari afirmou e eu sabia que ela teria razão se meus motivos para estar

wonderfall / valu.Onde histórias criam vida. Descubra agora