Drapetomania

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Valentina's pov

Drapetomania (n.): uma sobrecarregada urgência de correr para longe.

O vento gelado entrava por uma frecha muito pequena de vidro entreaberto e tocava

a pele exposta do meu braço esquerdo que estava encostado no batente da janela. Às

cinco horas da manhã, havia poucos sinais de sol, ou nenhum, exceto pelo clima

especialmente mais gelado e pela noite em sua hora mais profundamente escura que

prediziam que em breve o sol apareceria.

Não mais do que uma hora havia se passado desde que eu havia dormido e acordado

outra vez, despertada por um pesadelo angustiante. Dormir de novo foi tão ou mais

angustiante quanto, então, eu havia decidido sentar no largo beiral da janela principal

do quarto e esperar pela hora em que eu deveria, tecnicamente, acordar.

Inspirei o ar, com cheiro de plantas queimadas do outono, que vinha de fora e o

deixei percorrer todo o meu pulmão até que me doesse o peito e o coloquei para fora,

concentrando a minha mente no processo de respirar.

"Entra oxigênio", inspirei profundamente, mais uma vez. "Sai dióxido de carbono",

deixei o ar sair devagar, prendendo-o em espaços curtos e depois, o liberei

completamente do meu pulmão. "Mais uma vez, Valentina", pensei, preparando-me

para inspirar. "Ar entrando, diafragma contraindo, caixa torácica expandindo", eu

pensava, conseguindo, com sucesso manter a mente concentrada no processo de

respirar. "Ar saindo, diafragma relaxando, caixa torácica diminuindo", pensei e repeti

tudo mais uma vez. "Ar entrando... o cheiro de Luiza é tão inebriante; o cheiro das

mãos, o cheiro do pescoço, o cheiro do cabelo...", sorri para o pensamento e

imediatamente assustei-me comigo mesma e pisquei com força, tentando empurrar o

pensamento para longe da minha cabeça.

Mais uma vez, ela voltou para a minha mente, como uma onda gigante que chega

sem aviso e arrasta tudo, envolve tudo, engole tudo.

- Por que já está acordada? - A voz de Duda cortou o silêncio, vinda do lado mais

escuro do quarto.

- Não consigo mais dormir... - minha voz saiu tão fraca quanto eu me sentia.

"Fraca, Valentina. Você é fraca", o pensamento surgiu em minha cabeça e eu apertei os

olhos e o lado da cabeça contra o batente da janela.

- Luiza? - Duda perguntou, provavelmente, apenas para confirmar algo a respeito do

que ela tinha certeza.

"Luiza...O que não tem a ver com Luiza na minha vida atualmente?", pensei

ironicamente.

- É... - Falei, deixando escapar em meu tom de voz a mesma ironia do meu

pensamento.

- Vem aqui comigo, Valentina. - Duda falou com a voz preguiçosa e ouvi o barulho de sua

wonderfall / valu.Onde histórias criam vida. Descubra agora