Pov. Pérola
Perdi as contas de quantas vezes reli o contrato que Hoseok me entregou. Passei horas no meu quarto escuro encarando a janela, pensando se conseguiria conciliar os meus estudos com o trabalho. O meu pai não aceitaria o trancamento do meu curso para me dedicar a empresa, ou seja, eu fazia as duas coisas ou apenas iria para a faculdade.
E, sinceramente, essa não era mais uma opção para mim.
Trabalhar e estudar ao mesmo tempo no Brasil era quase um costume entre os universitários, mas na Coreia era totalmente diferente. Senti que poderia me perder no meio do caminho por não dar conta dos dois compromissos, principalmente sabendo dos longos horários que as duas exigiam. A minha sorte foi perceber que meu curso não era integral, assim eu poderia estudar de manhã e trabalhar o resto da tarde tranquilamente.
A proposta que estava no contrato era a produção de jogos que envolviam os gostos de cada integrante do grupo, dessa forma, eu estaria produzindo 7 jogos individuais. De início pensei que se tratava de apenas um único jogo, mas era apenas uma das opções que a proposta indicava. Não era eu quem decidia isso, e sim os integrantes do grupo. Por mais que eu achasse divertido criar sete jogos, com ambientes e personagens diferentes, sabia que poderia ser trabalhoso o suficiente para me fazer jogar tudo pelos ares em dois meses.
Foi por isso que pensei muito antes de pegar o metrô e parar em frente ao enorme prédio da HYBE.
Tinha vestido uma calça social preta com uma blusa social verde de cetim. Apesar de ter lembrado de trazer saltos do Brasil, o look não parecia ruim com meu All Star branco de cano alto — ainda mais porque a barra da calça era grande o suficiente para tampá-los. Entrei no local apreensiva, mas me mantive firme quando falei meu nome para a recepcionista. A mulher, que aparentava estar na casa dos 30 anos, disse que eu seria acompanhada até a sala de reuniões no terceiro andar por uma pessoa chamada Nicole.
Esperei pacientemente sentada em uma poltrona até a tal Nicole aparecer, balançando seu cabelo longo e liso enquanto sorria abertamente para mim. Quando chegamos perto do elevador, percebi que ela precisou fazer reconhecimento facial para podermos entrar no cubículo. O que era esse prédio? Uma fortaleza? Caminhamos até a terceira porta do andar até ela abrir com cuidado, mas, no momento em que decidi ir atrás dela, um cara esbarrou de leve no meu braço. Estava pronta para xingar, mas o seu lindo rosto me impediu.
Aparentemente só pessoas bonitas trabalhavam nesse lugar.
— Oh, desculpe! — sussurrei.
— Não tem problema, sinto muito! — respondeu ele, tímido. — Você está perdida? Se quiser, posso te ajudar.
— Ah, não! — disse Nicole, puxando-me para dentro da sala com pressa. — Ela está aqui para a reunião.
Não deu tempo de ouvir o que ele tinha respondido porque a mulher fechou a porta. Seu incômodo me pareceu estranho, mas resolvi não dizer nada sobre a situação. Andamos até uma mesa enorme, onde três homens nos esperavam pacientemente. Fui apresentada a cada um deles e, apesar do meu nervosismo de não conseguir a vaga, eles foram bem simpáticos e receptivos.
A reunião se baseou nos três homens resumindo as duas propostas e deixando claro algumas cláusulas adicionais que não se faziam presentes no contrato, assim, foi entregue um segundo envelope para mim. Tirei o contrato do papel amarelo e comecei a ler atentamente, enquanto um dos homens falava.
— Como você pode ver, temos políticas muito severas dentro da empresa que se aplicam a todos os funcionários. Quero que a senhorita abra na terceira página, parágrafo quatro, por favor.
Minhas sobrancelhas franziram ao ler o que estava escrito.
— Você trabalhará ativamente com o grupo BTS, mas sua relação com eles será totalmente profissional. Por ser uma funcionária, não será permitido envolvimentos românticos. — Olhei para ele, chocada. Aquilo era sério?! — Sabemos que amizades dentro do estabelecimento de trabalho podem ocorrer, e não impedimos isso, aliás, apoiamos essa interação para que exista fluidez e um bom desenvolvimento no serviço. Porém, já tivemos muitos problemas com staff que não souberam separar as duas situações ou se envolveram com os membros.
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Pérola
FanfictionPérola Ramos é uma Game Designer brasileira que ama projetar sua paixão por jogos em seu trabalho. Depois de perder a mãe, a família Ramos se mudou para Seul, na Coreia do sul, após uma grande proposta de emprego. O que ela não imaginava era que um...