Capítulo 2

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Pov. Pérola

A decisão de nos mudarmos no início do ano foi realmente boa. As aulas começavam apenas em março, então tínhamos até o final do mês para aproveitar a cidade sem nos preocuparmos com compromissos — mesmo com o clima frio. Chegamos em Seul por volta das cinco horas da tarde e não demoramos para achar nosso apartamento.

A empresa tinha sido muito generosa com a gente.

O apê tinha três quatros, sendo uma suíte. A sala e a cozinha eram bem maiores que de um apartamento normal, isso sem falar na sacada e no tamanho do banheiro social. O aluguel de um apartamento assim no Brasil custaria por volta de três mil reais, imagina o preço dele aqui em Seul...

Depois de passar um pano no quarto e tirar o pó, decidi arrumar meu quarto e organizar meu guarda-roupa. A cama de casal era bem espaçosa, mas o quarto era grande o suficiente para caber uma escrivaninha e meus equipamentos de design. As paredes não tinham nenhuma decoração e aquilo me incomodou um pouco, até que associei o quarto com a minha situação.

Estava em um novo ano, em outro país, outra casa e fiquei num quarto todo branco... Era como se eu estivesse encarando páginas de um livro sem nenhuma história escrita. Pensar nisso me fez enxergar como eu poderia lidar com mais uma mudança drástica.

Saímos para jantar em um pequeno restaurante que ficava na esquina do nosso novo prédio. Era um lugar pequeno, mas não parecia ser muito movimentado. O garçom foi super receptivo e nos recomendou alguns pratos para irmos satisfeitos pra casa, até porque, não tinha nenhum mercado aberto por perto e não sabíamos ainda andar pela cidade, então só sairíamos para comprar comida no dia seguinte.

Depois do restaurante, Júlio tomou banho primeiro e depois meu pai, então tive que preparar a cama do meu irmão antes que ele dormisse sem um lençol. Ele parecia cansado demais para uma criança. Assim que o cobri, tomei meu banho e, já trocada, segui para a sala. Carlos estava na sacada, observando o silêncio vindo da rua. Aproximei-me devagar e pousei a mão em seu ombro.

— Ansioso para segunda-feira? — perguntei para puxar assunto.

— Mais do que você imagina — sorriu. — Obrigado por vocês terem entendido o meu lado e me apoiado nessa decisão. Sei que você e seu irmão gostariam de ter ficado com a avó de vocês, mas...

Suspirei, sentando numa das cadeiras estofadas. A verdade era que, mesmo se Júlio tivesse ficado no Brasil, eu teria me mudado para Seul de qualquer jeito. Era a minha melhor chance de crescer profissionalmente e como pessoa também. Era como se eu sentisse que precisava disso.

— Tudo bem, pai. Eu sei bem o porquê de você ter abraçado a proposta.

Carlos se sentou ao meu lado, ainda encarando a vista.

— Eu pensei que o tempo me ajudaria a seguir em frente, mas, toda vez que eu chegava em casa, conseguia sentir a presença da sua mãe.

— Como se ela nunca tivesse ido embora — falei, fazendo meu pai confirmar em seguida. — Também sentia isso as vezes.

— Foi difícil perder ela de repente. Queria ter tido mais tempo, mais momentos...

— Ela gostaria da ideia de viver aqui.

Um sorriso surgiu em seu rosto.

— Uma vez ela me disse que gostava das cerejeiras. Estou há meia hora encarando uma naquele parque — disse, apontando para uma área cheia de árvores —, e não consigo parar de pensar que ela teria me apoiado também.

Levantei da minha cadeira e abracei meu pai, sendo retribuída bem rápido. Senhor Carlos amava abraços.

— Vocês querem sair amanhã para caminhar depois de irmos ao mercado?

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