The Artist - Carmina Mora

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Você abre seus olhos e imediatamente se espanta com o local que você estava.

Era um ambiente completamente novo, possuía uma estética exageradamente amarelada, como um deserto melancólico ou uma ruína persa esquecida pelo tempo.

Havia vários pequenos cômodos, semelhantes a tumbas, distribuídos por um grande cemitério, este marcado por areia e árvores secas. Criptas e túmulos vazios, cobriam todo seu campo de visão, alguns protegidos com uma cerca de metal que chegava à cintura.

Sua visão começa a doer, a luz amarelada era cegante. Você pisca os olhos rapidamente e percebe que eles estavam enchendo de partículas de areia. Realmente, sua primeira impressão com esse território já começou dolorosa.

Você sente algo te observando em todo lugar, de qualquer ângulo, talvez seja um assassino, ou alguém morto... o que mais poderia ser?

...

Corvos?

Eles apareciam do mais puro nada, em qualquer lugar, uns pequeninos informantes da Entidade, pequeninos ajudantes dos assassinos. Aqueles que devoraravam os corpos decompostos de seus amigos mortos.

Você caminha pelo chão arenoso, o qual poderia ser secretamente profundo, o qual poderia esconder qualquer coisa.

Você olha para frente, na procura de algum gerador. Mas ao invés disso, acaba fazendo contato visual com um dos pássaros negros.

Ele torce a cabeça para o lado, o pequeno olho da ave penetra no centro de sua alma, te fazendo dar uns passos para trás na tentativa de se afastar.

Você continua recuando, até que um barulho estridente na sua orelha te assusta, fazendo com que você vire na direção do barulho tão rápido que te faz cair para trás.

Era um corvo, acompanhado de outro, descendo do céu arenoso.

Quanto mais você encarava os animais, mais deles apareciam na sua visão, como se os pequenos berradores rastejassem afora do chão, por trás dos galhos secos das árvores, produzindo sons conturbados com o uso de suas garras e bicos. Encarando-te com aqueles pequenos olhos escuros, fazendo você paralisar no chão.

Um alto grasnido vem de baixo da sua mão e você rapidamente levanta a palma, era mais um dos corvos, você provavelmente o tocou, a julgar pela postura irritada que ele demonstrava. Você segura a mão perto do peito, tentando se esquivar das bicadas do pássaro raivoso. Além disso, mais deles desciam pelas rochas para se aproximar, deveria ter pelo menos 50 deles, sem contar os que ainda estavam voando pelos céus, como abutres esperando a morte de sua presa.

"Ai!"

Você retrai a perna para perto do corpo para notar que seu joelho estava sangrando, algum dos animais devem ter se aproximado discretamente para te morder.

Um corvo desce na sua frente para bicar o seu sapato, enquanto outro, ao mesmo tempo, começa a rasgar parte de sua roupa, deixando um rasgo visível no tecido.

Você espanta as aves o mais rápido possível, apenas para vê-los voando aos céus e descendo de novo para seu entorno. Você nunca tinha presenciado corvos assim, que agiam dessa forma.

Um dos demônios negros se aproxima da sua cabeça e puxa a sua orelha, com força o suficiente para a cortar, e os irmãos dele só riam da situação que você estava.

Você obviamente reage, mas a cada um que você espantava, mais três vinham lhe atacar, puxando seu cabelo, orelha, seus dedos...

Você se contorce, tentando os expulsar, porém eles respondem mordendo seu braço com os bicos afiados deles. Você vira para o lado e protege o rosto com as mãos, tentando reduzir a dor causada pelos animais que arranhavam suas pernas e braços.

Era apavorante, você precisava de ajuda, mas não importava o quanto você esperneasse, ninguém iria te escutar, era como se você já tivesse morrido.

Mas um grito, um grito bem alto fez que as aves granissem em sincronia e de repente todos eles te deixaram em paz.

Um corpo pesado pousa perto de você, fazendo com que as aves se afastassem mais ainda de seu corpo. O ser... Grunhe? E todos os corvos voam embora em silêncio.

Você sentia os olhos disso te observando diretamente, enquanto isso algumas gotas de algum líquido preto manchavam sua pele, misturando com seu próprio sangue escarlate.

Nesse ponto era meio óbvio que o ser era algum assassino, devido a seu coração batendo aceleradamente e pelo som assustador que isso fazia.

Uma mão fluída envolve seu braço, fazendo-te virar o corpo e encarar a pessoa a sua frente, o ser tira suas mãos de seu rosto e você se depara com um olhar de um corvo, porém esse olho não era de uma ave, era de uma humana...?

Seu cabelo era puro preto e suas bochechas eram cobertas por pequenas linhas negras. Tinta preta gotejava do rosto dela e isso foi tudo que você percebeu antes de tampar o rosto de novo. Era nojento, ela era nojenta, um híbrido humano-ave, com corpo friento e mãos molhadas. Ela gargarejava silenciosamente, tentando te incentivar a tirar as mãos da cara.

Essa situação te lembrava da infância, quando você se escondia de baixo das cobertas, de um imaginário monstro no canto escuro de seu quarto, rezando para ele não te perceber.

Você sente a assassina recuar um pouco.

Depois de um tempo choramingando no chão, percebendo que a criatura não iria desistir, você lentamente abaixa as mãos.

Você se depara com um pé semelhante a uma pata de um corvo e com nojo você se afasta.

Você não podia evitar perceber a postura dela, pernas tortas e finas em formato de zig-zag, braços amputados substituídos por um membro líquido e escuro. Ela deixava os braços perto do corpo, como um pássaro de asas fechadas.

Ela se curva mais, se aproximando de você.

"Se afasta!"

Você grita, chutando o chão, fazendo com que um pouco de areia vá na direção do ser.

Ela responde com um grunhido afiado, como se tivesse ofendida por sua atitude rude.

Você se levanta, correndo dali o mais rápido que você podia, você não iria arriscar perder a vida de forma tão boba.

A mulher rapidamente te persegue no mesmo ritmo, inicialmente dando pulinhos com suas patas negras, para depois dar pisos pesados na areia. Todos os movimentos dela eram tão "pássaro", tão não humano, algo definitivamente amaldiçoado.

...

Ela não tem certeza como ainda está viva, nem de onde apareceu essa pessoa pequena a sua frente.

Ela ainda podia sentir um gosto ferruginoso na boca, sabor de sangue, de seu próprio sangue.

Era tão estranho, Carmina se sentia... Tão mais veloz e alta, ela conseguia escutar melhor também, perceber todos os detalhes do ambiente.

Ela decide parar de perseguir a outra pessoa, mesmo que ela facilmente a alcançaria se quisesse.

Apenas observando os corvos deixando a artista para trás e continuando na perseguição.

Carmina ficaria de olho naquele específico ser, pra ter certeza que os corvos se manteriam distante, porque ela sabe que do que as aves são capazes.



Unidos Pela Névoa [DBD X Leitor(a)]Onde histórias criam vida. Descubra agora